quinta-feira, 30 de julho de 2020

"Jamais fomos..." cientistas sociais

No livro "Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica" (1991), o filósofo Bruno Latour dizia que os ideais da Modernidade sempre foram pregados, mas, na verdade, jamais foram realmente praticados.

        Bom, o que Latour tá dizendo é que o ideal científico da Modernidade separava a realidade em dois pontos: de um lado, uma Natureza, de outro, uma Cultura/Sociedade. O que isso significa, na prática? Que a Ciência Moderna deveria falar pela Natureza, enquanto a Política, pela sociedade.

Qual a bronca? Que a Ciência e, por conseguinte, a Tecnologia, faziam parte da Política o tempo todo. Ou seja: era tudo “híbrido”, uma mistura de Natureza e de Política. A constituição oficial dizia para separar a ciência dos interesses políticos, mas, na prática, a ciência sempre fez parte do coletivo e da política - jamais ficou de fora.

            O que estou falando quando falo que jamais fomos cientistas sociais? Que se essa área também é filha da Modernidade, seu desenvolvimento "tardio" resultou numa outra constituição moderna: a da divisão entre experiências/corpos de um lado, e quem pode falar deles do outro.

            Tudo se passa como se nas Ciências Sociais, diferente das outras ciências, tivéssemos chegado a um nível em que conseguimos perceber a “bronca” da Ciência Moderna. No entanto, agora teríamos conseguindo mostrar como a Ciência era construída por corpos/experiências atravessados de contradições e que somente determinados corpos pudessem fazer pesquisa sobre Ciências Sociais.

            Resultado? A constituição das Ciências Sociais quebrou, tal qual a modernidade. Ou seja: agora, cientistas sociais não conseguem mais resolver a separação entre: ciência de um lado, ciências sociais de outro.

            E a questão pública? Isto e: existe, de fato, utilidade em Sociais para além de “descer a lenha” na direita? Eis a questão. Uma nova constituição precisa ser criada dentro das ciências sociais. Quem sabe então assim, não tenhamos mais, politicamente, representantes eleitos como Bolsonaro e Weintraup – representantes de parcelas de pessoas que só enxergam o legado comunista por trás das Ciências Sociais.

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