segunda-feira, 28 de junho de 2021

Notas de campo. Co(n)vivendo com a pandemia em ambientes físicos e digitais.

 

Fonte: Revista Manchete, Edição Independência 1, 1972, p. 15.


Notas de campo. Co(n)vivendo com a pandemia em ambientes físicos e digitais.

Olinda, 28 de junho de 2021

 

Depois de um ano de pesquisa sobre pandemia, já consigo ter alguma noção de “nossa experiência” coletiva com a pandemia: boa parte das pessoas quer mostrar que existem conexões. Outras nem tanto.

 

Mas vamos lá: como?

 

I – a antropologia está tentando mostrar a colonialidade (intersceccionalmente) e nosso narcisismo (“inter-espécies”), assim como sistemas (dispositivos) de “opressão”.

II – a sociologia continua usando seu lugar (aristocrático) e de expert (influencers) para falar cientificamente na mesma denúncia que a antropologia, que abandonou esse lugar (mas continua nele);

III – noutras áreas, como na História, acontece “igual que nem” à Sociologia;

IV – na filosofia “clássica”. “Viixe”, coitada. Ainda leem Platão. Temem Derrida (o desconstrutor).

 

Problemas:

I - a antropologia não consegue parar de criticar a biomedicina. Mas a biomedicina cura a Covid-19 (vacinas). Então a antropologia tem que fazer “silêncio estratégico”, se não dá arma para oposição (ideologias militaristas que fundam a colonialidade brasileira por oposição aos quilombos).

 

Enquanto isso no mundo do “povo” (mucambos, subalternos)

I – a Globo e outras GRANDES CORPORAÇÔES estão detonando os DADOS! Interesses “por trás” de sua defesa da CIÊNCIA;

II – ora, mas o governo federal é contra GRANDES CORPORAÇÕES, dizem eles, então se comunicam em REDES SOCIAIS com sua parte do POVO;

III – há outras alternativas, não duais (esquerda e direita), que não vem apenas GRANDES CORPORAÇÕES, mas também forças “ocultas”. Sim, ocultas mesmo. E elas tem dois povos:

a)      No polo positivo, elas ajudam a CONECTAR física quântica, energias, Sol, vitaminas etc., com nossa ancestralidade (que nem na antropologia, só que sem a prisão do fantasma inquisidor moderno, que cresceu com a ideia de Ciência);

b)      No polo negativo, elas ajudam a CONECTAR com forças ocultas, porém, com polos negativos, coisas e interesses do mal, mesmo.

 

Vamos a outros exemplos:

            I – na religião evangélica, a conexão é com a fé, com Deus; no São João a tradição junina mostra essa “raiz” nas comidas típicas e brincadeiras – é o nosso lúdico, nosso encanto que a Ciência censura;

            II – O QUE CONECTA é a PALAVRA. Ela unge e CONECTA com DEUS. Quando algo ruim acontece, a imensa sabedoria de DEUS agiu. Desde o começo da pandemia venho coletando essas palavras, de modos diferentes;

            III – quando a situação é feminismo e “cura”, a CONEXÃO é com o SAGRADO, não com A PALAVRA, mas sim com a NATUREZA, que desde Gaia (herança grega), Pachamama, ou terra e céu (yanomamis), CONECTA a MULHER, o FEMININO e NATUREZA, com a sabedoria feminina;

            IV – quando a situação é de camadas abastadas do povo, as conexões são entre experts, profissionais, senso crítico, em detrimento do povo não letrado ou instruído, com a autocapacidade de “dar certo” na vida, sem “mi-mi-mi”. O lado profissional vem para o primeiro plano, e CONECTA-SE com outras possibilidades: coaching para alguns, Marketing Digital para outros; ou CONECTA-SE com a GRATIDÃO ao CÉU na figura de Deus (Sagrado masculino).

            V – e tem a Ciência, Moderna, Laica, por outro lado, que CONECTA a UNIVERSIDADE (nome para universal mesmo, basta ler o debate sobre universidade que, não se enganem, Schopenhauer já havia antecipado quando criticou Kant), com OMS, depois com DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL e REDE GLOBO. Ou seja: a nova cara do capitalismo (A globo fez parceria com Google).

            A função da Ciência, então, muda; assim como a do Jornalismo, que perdeu sua autoridade para “partes” do povo, já que não existe mais “sociedade”, mas apenas partes do povo.

            Porém, enquanto isso, a BIOMEDICINA continua fazendo CIÊNCIA. Quando ela conclui uma VACINA, logo o meio empresarial se aquece: sim, a pandemia é uma oportunidade de especulação financeira e, claro, todo mundo já sabe – as indústrias farmacêuticas de diferentes países entram na concorrência (sim, isso também se chama capitalismo, jamais saímos dele).

             

Mas e os “meios de comunicação”? A “era das redes sociais”?

            Ora, ligar a internet, o rádio, a TV, o jornal, mas também ligar a luz da retina, o som nos tímpanos é sempre, como no filme, Matrix, mas também na Antropologia de Bateson, ou da ecologia psicológica de Gibson, comunicar-se, e ser meio de comunicação.

            Não à toa que Neo, sim, de Matrix, disse em certo momento: “Um mundo feito de Luz”; e Morpheus, noutro: “Estou tentando libertar a sua mente”. O nome Morpheus vem de “Sono”; ou seja, Morpheu é aquele que ainda dorme, mas quer despertar, precisa da Luz.

            E qual a palavra usada por coachings? Qual a palavra utilizada por todo esse mundo em que a neurociêntica (anímica) ou a física quântica (anímica) ou a comunicação por feixes de luz na água (anímica), assumem que somos capazes de mudar o mundo, só precisamos despertar-crer-acreditar (no sagrado, Deus/Deusa; no meio laico, anímico, em si mesmos/as/es)? A esse mundo, ou cidade, onde você mesmo é o placebo (You Are Placebo), jamais foi a pandemia a fonte de toda intriga (o vírus é só um ser colonizando o corpo de colonizadores por excelência, nós), mas sim de seus intérpretes e os meios de comunicação, pois a CIÊNCIA não esteve errada sobre Sars-Cov-2, mas hospedar seus e suas intérpretes (da medicina e da saúde) em REDES SOCIAIS programadas para vender conforme gosto de “usuários”, então estamos CONSUMINDO COVID-19 COMO PÍLULAS DE BYTES EM FORMATO DE LUZ.

            Nosso problema é que sempre nos “iludimos” com a ideia de TEMPO e de que HOUVE A COLONIZAÇÃO. Sim, se se pensou, foi assim. Mas que nem no filme Lucy, a “nova” medida é o espaço. E isso não é nada mais nada menos que falar em como infraestruturas geofilosóficas (Derrida/Deleze/Guatarri) comunicam a nossa experiência pandêmica mediada por nós e nossas técnicas comunicativas.

           

Eis minha moca voz traduzida para parte do “povo”, já que academicamente falo com a linguagem dos seres, traduzida pela filosofia de ontologia, não dos saberes (epistemologia).

 

            O pensamento está se abrindo novamente. Pós-epistemologicamente. Podemos curar o passado? E, assim, deixarmos Foucault e as epistemologias, mas também Deleuze e Guatarri, em seus sonos ateus, em paz? Se sim, o regime de controle só pode ser pensado se reconhecermos a finitude do projeto universal. O projeto que criou o Olho da Universidade.

 

“Você abandonou a Ciência?”

- Nada disso. A Ciência cura. Mas a linguagem dos seres forma ouvintes, mas com saberes, todo gesto restitui autoridades. Nasce, assim, a disjunção entre ciências, saberes e seres: disjunções ou experimentações, eis a questão. Pontes, diria Stengers, não rótulos e classificações.

 

Nota: agradeço as pessoas que participam desta pesquisa. Cada uma se verá em alguma passagem. Devido ao anonimato, não posso mencioná-las. Agradeço também as “conversas” indiretas, de quem lê o que levo ao público, mas não honra a citação. E agradeço também as pessoas que vem participando de meus cursos, pois esses são os momentos que mais tenho aprendido como o “Olho da Universidade” mantém a hierarquia colonial a cada relatório ou escrita acadêmica. Tenha-se ou não consciência disso.

             

 

 

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