sexta-feira, 26 de junho de 2020

Como a mídia monta tua opinião?

 

           

Reproduzido da Internet. Fonte abaixo.

Rolou uma pesquisa do Datafolha sobre Bolsonaro e Queiroz, realizada entre 23 e 24 de junho. A pesquisa ouviu 2116 pessoas. Estatisticamente ela se diz representativa da população brasileira. Só no município de Olinda temos 392.482 pessoas (IBGE).

            O que mais me chamou à atenção foi, no entanto, que a pesquisa pergunte a “opinião” das pessoas sobre o que elas não sabem. Por que fazer uma pesquisa sobre a opinião das pessoas? Depois a mídia divulga a “opinião” da “maioria dos brasileiros” (2116 pessoas).

            Você, finalmente, pode dar sua opinião também, mas para pessoas próximas e para contatos em redes sociais. Esse é o segundo movimento que conecta o que você assistiu na globo com as redes sociais. Isso gera o efeito de realidade dos números do Datafolha: você vai ter a sensação que encontrou “a maioria” dos brasileiros e brasileiras. Basta que alguém dê sua opinião sobre Queiroz.

           

            Mas como a mídia faz isso? Qual o problema, na verdade? É simples: a mídia está trabalhando com o “poder” das opiniões. Ao usar “estatística” (Datafolha), ela junta o dado com o que embasa a opinião “da maioria”. Ao fazer isso, no entanto, perdemos de vista outras possibilidades e caímos na “guerra de opiniões”. E sabe qual a consequência disso: continuidade dos mesmos posicionamentos políticos: “você tem sua opinião e eu tenho a minha”.

            O papel da mídia, então, de controlar a ordem política, vai modelando o que importa das opiniões. O engano é achar que ela “controla” as pessoas. A mídia está modelando a opinião ao visibilizar "o que é importante de ser discutido". Mas o posicionamento sobre isso é individual (“você tem sua opinião e eu tenho a minha”). Nada novo pode brotar disso aí, bença. Tenha-se ou não consciência disso.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

The SINNER (3ª temporada): Nietzsche e Hitler

 

         

Reprodução de internet. Link abaixo

   Se você ou um amigo ou amiga viaja demais em Nietzsche, avise: ele tá dando sentido a sua vida, ao que você vive. Schopenhauer também. Ele tá dando o sentido pra sua vida que a religião queria dar e você descobriu que não explicava sua dor.

            Bom, The Sinner 3 é bem isso. De um ponto de vista da própria série, acho que faz uma coisa legal: nos coloca o detetive como protagonista: sempre foi a história dele contada, mas a gente pode achar que é sempre de outra pessoa (talvez fosse, aliás).

            Na terceira, uma frase ajuda muito, porque vem de Nietzsche: “se você olhar demais para o abismo, ele pode olhar de volta”. Na mesma cena, cê saberá outra coisa: “Isso pode cair num elitismo. Hitler citava Nietzsche para os soldados nazi-racistas alemães.

            Ou seja: Hitler era leitor de Nietzsche. Porém, não se enganem: Nietzsche não era antijudeus (antisemitismo). Hitler o era. Ele leu Nietzsche e usou assim. Leiam “Quando Nietzsche chorou”. Eu diria mais algo sobre The Sinner, mas façam a leitura. Se eu disser, vai estragar a conclusão.

            Por fim, o que quero dizer: Nietzsche morreu achando q era Cristo. Assustado. Hitler lia Nietzsche e usava na guerra. Raiva e ódio pra esconder sua raiva dos Judeus e dos não arianos (pretos, ciganos, gays – o antissemitismo era um guardachuva). Schopenahauer morreu feliz quando começou a ser famoso.

            Enfim: entenda uma coisa: leia O pequeno príncipe, Nietzsche ou Schopenhauer. Vc quer dar sentido a sua dor, feito Hitler. Tem um filme com um título bem legal: “Entre meninos e lobos”. É isso que the Sinner 3 mostra. E vale para nossa vida. Nunca se iluda com ideias que você lê: elas só dão sentido pra sua experiência. Morrerás melhor de outras formas.


Fonte da imagem: https://img.youtube.com/vi/fOc2Ex1QEZI/hqdefault.jpg

           


domingo, 21 de junho de 2020

Já quebrasse o isolamento “social”? Mas que diabos significa “social”?

Reprodução do EL PAÍS. Link abaixo.


Resumo: vou tentar explicar para não cientistas sociais o sentido do uso do termo Social que é utilizado nas Ciências Sociais. Para cientistas sociais, vou esclarecer melhor o Social que uso na minha pesquisa. Concluo dizendo que a Covid-19 deixa o social "mais visível". Aqui, portanto, é onde as Ciências Sociais se tornam mais "úteis" para a "sociedade", pois usam o social com base em provas e evidências tratadas cientificamente.  

Qual a doença é mais social: Covid-19 ou o vírus Zika?

- Ver post anterior: (https://form-acaoblog.blogspot.com/2020/06/qual-doenca-mais-social-zika-ou-covid-19.html)

            Vou ter que definir o social “a pedido”, digamos assim, de leitores/as acadêmicos. Um sociólogo e uma socióloga problematizaram e deram sugestões sobre o assunto. Daí eu tá escrevendo esse post. Pra você, contudo, que NÃO É de Ciências Sociais, será que essa questão desperta teu interesse? Bom, espero que sim.

 

Os sentidos diferentes do Social na Sociologia

            “Que nem” na medicina, que precisa definir algum sentido para a palavra Saúde, ou na economia que precisa também explicar o que é “economia”, ou também na psicologia, a sociologia precisou, no seu início, definir o que era Social e o que não era Social. Como qualquer uma das áreas mencionadas (medicina, economia, psicologia etc.), na Sociologia você estudaria, basicamente, as interações humanas, coletivamente, seja estudando o que as pessoas fazem (práticas e hábitos); seja pesquisando o que elas dizem sobre o que fazem (representações sociais). O método científico social, então, traz as regras pra que esse campo de pesquisa possa produzir dados (provas e evidências) válidos e confiáveis para que se alcancem resultados que expliquem “acontecimentos sociais”.

            A “bronca” é que não existe apenas uma maneira de se fazer o que eu disse sobre os “acontecimentos sociais” na Teoria Social, pois existem várias formas de entender o Social. Quando você vai fazer uma pesquisa, você tem que “escolher” qual o Social parece dar conta do “perfil” da sua pesquisa. No mestrado, eu escolhi a teoria social conhecida como teoria ator-rede. Então o “social” tinha o sentido de “associações”. Seu criador principal foi o filósofo e antropólogo francês Bruno Latour (tá vivo ainda).

 

O social da Teoria Social Associativa

            Nessa sociologia “associativa”, nós estudamos como as coisas vão se “conectando” e “mudando” (assim “entendemos” como a “sociedade” vai mudando algumas coisas e mantendo outras). Tipo: no caso de Zika, que estudei, eu assistia pessoas num laboratório da Fiocruz de Recife-PE. Aí eu, basicamente, queria entender como era o antes, o durante e o depois de uma descoberta científica (como a ciência muda a sociedade?). Neste caso, eu pesquisava pessoas de jaleco que, por sua vez, examinavam mosquitos vetores do vírus Zika. No entanto, se eu fosse utilizar o sentido de social da teoria social mais clássica, do sociólogo francês já falecido,  Émile Durkheim, eu não olharia para as conexões (tenho um capítulo em um livro publicado em que explico essa diferença: https://onedrive.live.com/?authkey=%21AEM3ULMJHCnP%5FoE&cid=B0566265C9AAC3F8&id=B0566265C9AAC3F8%2117272&parId=B0566265C9AAC3F8%21453&o=OneUp).

 

O uso “social” e a “utilidade das Ciências “do” Social

Vamos a um exemplo para entender melhor o uso do social como associação: falo eutrofização e Zika no post anterior, mas também falo de pobreza, política, que seriam as coisas mais “sociais”, no sentido mais de senso comum. Porém, eu faço isso sempre trazendo dados (provas e evidências) das conexões. Utilizar errado a teoria social associativa é chamado de “Duplo Click”, que quer dizer que você não tem um dado e, mesmo assim, “forja” a conexão “forçando a barra”, tipo dizendo que na Agronomia todo mundo ama o agronegócio, por exemplo (sem dados, sem conexões!).

Falo isso tudo porque pesquisei isso também, mas na graduação (Parte sobre Agronomia: https://form-acaoblog.blogspot.com/2018/03/monografia-parte-ii-agronomia.html). Aliás, é o que não cientistas fazem o tempo todo no nosso dia a dia quando falam de política, mídia etc. É nosso “hábito” comum. Mas é aí que podemos nos “gabar” de ter “utilidade pública”, porque é exatamente o que diferencia um sociólogo ou uma antropóloga de Weintraub (antigo ministro da Educação), por exemplo: não estamos inventando ou forjando conexões que não existem.

Enquanto antropólogo, no entanto, acho que devemos aproveitar essas ocasiões para entender melhor “os outros”: o que tem além do óbvio quando alguém tá fazendo esse tipo de coisa? Uma hipótese pessoal que cheguei foi que as pessoas parecem ter “acordado” nas últimas duas décadas sobre o papel da mídia. Seu senso crítico está atento, não é só mais desconfiar da política, agora você desconfia da TV também. Isso não é uma coisa boa? Eu acho que sim. Porém, isso tem um lado ruim, porque é dessa desconfiança que as pessoas passam a confiar mais “nos seus olhos” e no que podem, elas mesmas, pensar, muitas vezes caindo nas fake News. Mas uma coisa não necessariamente leva a outra (sem dados, sem conexões!)

 

Conclusão

            Voltando ao papo para encerrar, eu acredito que a Covid-19 faz o “social” ficar visível, como se, finalmente, pudéssemos dar “matéria” ou “corpo” para o social que era só uma coisa vaga, como a Saúde, a Natureza etc. E, sendo mais “acadêmico” (filosofia), eu acho que o Social aparece como expressão-palavra de um lado (Covid-19), de outro como corpos adoecidos pela Covid-19 (essa é a parte linguística da filosofia dos franceses Deleuze e Guatarri). Ou seja: se tu ficar “seguindo” os “passos” da doença, da Covid-19, você vai poder “desenhar” a circulação dela como se fosse o “Social” que não “enxergávamos antes”, porque não tinha como a gente materializá-lo. Agora não, agora podemos “ver o social” pelo “rastro da doença”. É por isso, afinal, que o combate mais efetivo contra a doença é com a higiene pessoal, a não aglomeração “social”, o afastamento entre as pessoas, a descontaminação de objetos etc. Infelizmente, é claro, sabemos que no Brasil, aqui em Olinda, mais especificamente, as pessoas de classe baixa não podem se dar “ao luxo” de ficarem em casa por um motivo simples: irão morrer de fome, pois elas não têm renda. 

Precisamos mudar esse mundo, é o que sempre digo: tem um novo querendo nascer.

 

 

Fonte da imagem: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/quarentenas-ioi%C3%B4-em-capitais-do-brasil-cultivam-incerteza-e-adiam-a-retomada-da-economia/ar-BB15Lbj2?ocid=msedgntp

sábado, 20 de junho de 2020

Qual a doença mais “social”: Zika ou Covid-19?

Fonte: reprodução da Isto é. Link abaixo.

Resumo: vou tentar explicar porque eu acho a Covid-19 mais "social"  do que a Zika. Farei isso com dados e conhecimento de Entomologia, Epidemiologia e Antropologia de epidemias (minha própria pesquisa). Concluo dizendo que sim, Covid-19 é mais social, mas que, também, para antropologia, e demais ciências sociais, podemos fazer uma antropologia decolonial quando trabalhamos juntos com as ciências da natureza (afinal: Sociais descem o barrote nas ciências da natureza!)

 

Diferença da transmissibilidade e reprodução das doenças

            Eu venho “brincando” com a ideia de que a Covid-19 é mais “social” que a Zika porque a Zika depende da água pra se reproduzir, a Covid-19 não. Esse “jeito de ser” da Covid-19, no entanto, se tornou mais grave em abril, quando a Fiocruz descobriu que existia corona vírus no Esgoto de Niterói (RJ). Nossa, pasmei. Porém, a Fiocruz não concluiu se rolaria contágio pelo esgoto não. No entanto, pesquisadores/as descobriram o vírus nas fezes de pacientes contaminados por Covid-19, em hospitais. Daí o alerta para o monitoramento do esgoto.

 

Antropologia de Ouro Preto (PE)

            Eu venho pesquisando Covid-19 em Olinda (PE). Mas pesquisei sobre Zika antes. Percebi que pode existir correspondência entre águas e Zika. Então decidi seguir os canais de Ouro Preto (bairro de Olinda). Ao seguir eles, descobri que as ocupações chamadas de “irregulares”, que são típicas de periferias e estão bastante associadas à miséria e à pobreza extrema, são bastante comuns e, por isso, os afluentes dos rios (nossos canais), “conectam” pessoas e mosquitos transmissores de doenças.

           

O nascimento de Ouro Preto (PE)

            Historicamente o bairro de Ouro Preto nasceu na década de 1960, e parte de seu território, que é cortado por afluentes do Rio Capibaribe, era propriedade de uma empresa chamada de Fosforita SA. Resultado: os dejetos da empresa eram despejados no Rio Capibaribe. Na engenharia ambiental, chamam de eutrofização o processo pelo qual o rio que, ao receber o lixo e as fezes de residências e de empresas, aumentem suas taxas de minérios. A Fosforita SA produzia fosfato (muito utilizado para adubo e fertilizantes usados na agricultura colonialista). Isto é: seja pela empresa, seja pelas ocupações, temos um possível processo de eutrofização ocorrendo. Qual o problema disso? Isso atrai as chamadas “algas azuis”, as cianobactérias. Sim, e daí? Partes delas produzem cianotoxinas que podem causar dano neurológico. Advinha agora? Ano passado a Fiocruz descobriu que Zika e cianobactérias foram responsáveis pelo impacto maior da microcefalia e demais síndromes congênitas de Zika. Ou seja: há relação entre pobreza e Zika por meio das águas de rios.

 

O feliz casamento entre biomedicina e antropologia decolonial e a contribuição social como resultado

            Mas e a Covid-19? Bom, se a Zika segue sim pelas águas – conforme mosquitos que as transportam e dependem da água pra isso-, ela não pode estar em ambientes mais distantes de afluentes, tendo que se reproduzir nas águas paradas de residências e áreas alagadas pela chuva. Essa é, aliás, a realidade que o Estado ignora quando se concentra em exterminar os mosquitos. Ou seja: o Estado ignora sistematicamente a pobreza e a infraestrutura sanitária de regiões afetadas pelo vírus Zika.

            No caso da Covid-19, no entanto, temos uma contaminação diferente e mais ampla. Por isso eu a chamo de “mais social”. Ela precisa das interações humanas. Ela precisa ser transportada. Na epidemiologia dizem que o Aedes aegypti pode ter vindo de navios que transportavam pessoas escravizadas por colonialistas europeus brancos. Já a Covid-19 veio, também, de avião (avanço tecnológico!). Depois começou a circular como qualquer “turista”: de uber, de táxi e de transporte público. A cada novo transporte, o vírus se reproduzia nos corpos das pessoas.

            Para piorar, pesquisadores/as da Europa estão tentando descobrir se existe correlação entre o tipo sanguíneo e a gravidade dos efeitos da Covid-19. Tudo indica que o tipo sanguíneo A é o mais afetado. Ou seja: mais gente desse grupo morre ou passa perto disso. Então temos aí mais um dado importante: diferente da Zika, a Covid-19 não se restringe à pobreza, mesmo que a falta de água associada à pobreza potencialize o risco de contágio (o que é uma consequência da circulação da doença pelos corpos, não a causa). Em outras palavras: a doença “pega” qualquer um, e tem uma circulação que acredito ser maior que a da Zika, porém, a falta de água e a pobreza é o que permite com que, neste caso, a Covid-19 não seja combatida como ela o é em bairros de classe média e alta.

            Podemos casar as ciências sociais e a biomedicina para fazer pesquisas que permitam chegar a esses resultados – como exponho aqui. No momento, estou fazendo uma experiência com uma colega da Entomologia para produzir um estudo interdisciplinar (Entomologia + Antropologia) para, de fato, deixar de apenas criticar o colonialismo na Ciência e transformá-la, de dentro, como agentes em busca de uma sociedade mais unificada e pós-racista. Não basta criticar, é preciso trilhar um caminho. Chega de polarizações e fanfarrice. Como se diz na série Ad Vitam (2018), ações importam, palavras não.

 

 Link da imagem: https://istoe.com.br/covid-19-pesquisadores-da-fiocruz-encontram-virus-em-esgoto-do-rio-de-janeiro/


 


sábado, 13 de junho de 2020

Ciência e Espiritualidade

https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid=CbPH%2ftfi&id=F2B2C87240FDC91C552FE31822C654E1326B562C&thid=OIP.CbPH_tfif3wJQBnf-iEcwwHaD4&mediaurl=http%3a%2f%2f2.bp.blogspot.com%2f-vCE7HvBCQ10%2fUJ04XP_sPRI%2fAAAAAAAAS-s%2f8NbMyuvKRnw%2fs1600%2fpiramedes-Maias-civilizacoes2.jpg&exph=318&expw=606&q=maias&simid=608008339201066606&ck=CC45C11314FC87567F493CDE15DE7994&selectedindex=9&ajaxhist=0&first=1&scenario=ImageHoverTitle
Reprodução de Internet. Link abaixo


 

Resumo: tento, aqui, explicar o lado “ruim” da ciência ou, noutras palavras, a sombra que a ciência gera sobre a existência humana, ofuscando parte da vida ao iluminar outras.

 

Feminismo e Marxismo

            Tanto movimentos sociais quanto instituições acadêmicas têm em comum a autoridade científica por trás sempre que se deseja falar sobre o conhecimento e experiência humana.

            No (s) feminismo (s) e na sociologia crítica, por exemplo (do marxismo aos frankfurtianos), existem “sombras” que são “feitas” pelo “apagamento” da “espiritualidade”, do “autoconhecimento” e do “elemento místico” para lidar com sofrimento, dor e emoções [a salvo outras abordagens mais holísticas do feminismo].

            Então os avanços e progressos embasados na ciência e na “razão” (eurocêntrica) acabam se tornando uma “arma” contra tudo que seja ligado à “crença”, “espírito”, “religião” e “misticismo” (O sagrado feminino, por exemplo, tão criticado em artigos e discursos também feministas por serem “essencialistas”; ou a religião, tão mal tratada pelo marxismo desde seu surgimento).

 Racismo e Ego 

            Recentemente comprei o livro “Tornar-se Negro”, de Neuza Santos Souza (2006). Fiquei impressionado com a afirmação da autora de que é com o empoderamento político que os pretos e pretas podem lidar com o seu lado emocional, sua experiência, seus traumas e violências sofridas com o racismo de nossa sociedade.

            Impressionei-me não porque parecia novidade. Mas porque eu já tinha essa impressão de que nossas experiências pessoais poderiam ser utilizadas como “motor” ou “combustível” para nossa produção acadêmica e posicionamentos políticos. Porém, é aqui que fica “a sombra”: o nosso lado emocional, negado pela ciência, fica “escondido” e, assim, nosso sofrimento e dores não são “curados” porque não recebem atenção.

           

Um mundo de experiência pura e o papel da antropologia

            Lendo há pouco sobre os Maias, e sua sabedoria milenar, lembrei que sou “Mago Branco”. Assim como “signos”, temos, pragmaticamente, chance de dar “sentido” a nossas experiências de diferentes maneiras. O filósofo e pai da psicologia, William James, defendia a religião, pragmaticamente, por seus “efeitos de verdade” (se faz bem para você, por que o filósofo tem que, arrogantemente, dizer que é uma “falsa verdade” – não ele não pode fazer isso! Não mais!).

            É preciso resgatar a nossa sabedoria compartilhada, de tantos povos e etnias, para lidar com nossas dores e sofrimentos. Chegou a hora de equilibrar nossa sociedade comum, pois ela não “vive só de Ciência” e de “Política”. Como diria o filósofo e antropólogo Bruno Latour, precisamos deixar as possibilidades dos diferentes modos de ser (ontologias) coexistirem. Aliás, é aqui que a antropologia cumpre seu papel como uma disciplina acadêmica da vida em comum e da tolerância – como sugeriu recentemente o antropólogo e biólogo Tim Ingold.

 

PS.: Esqueci do papel da arte (poesia, pintura, desenho etc.) como alternativa para lidar também com nossas dores, prazeres e emoções! Essa é a forma que, recentemente, descobri ser minha forma de “espiritualidade”. ^^


Fonte: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid=CbPH%2ftfi&id=F2B2C87240FDC91C552FE31822C654E1326B562C&thid=OIP.CbPH_tfif3wJQBnf-iEcwwHaD4&mediaurl=http%3a%2f%2f2.bp.blogspot.com%2f-vCE7HvBCQ10%2fUJ04XP_sPRI%2fAAAAAAAAS-s%2f8NbMyuvKRnw%2fs1600%2fpiramedes-Maias-civilizacoes2.jpg&exph=318&expw=606&q=maias&simid=608008339201066606&ck=CC45C11314FC87567F493CDE15DE7994&selectedindex=9&ajaxhist=0&first=1&scenario=ImageHoverTitle


quinta-feira, 11 de junho de 2020

O MITO da CIÊNCIA PURA: Moro, Salles e Bolsonaro


 Recentemente dois casos políticos ilustraram bem o mito da Ciência PURA ou “sempre do bem” - e separada da “Política” que é sempre do mal (interesseira, individualista ou maquiavélica). Vejamos...

 

SÉRGIO MORO um TECNICISTA

            Na saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, ele dizia que a escolha do novo diretor da polícia federal deveria ser uma escolha “técnica”, não “política”. Porém, político, aqui, significava “interesses pessoais” de Jair Bolsonaro, o então presidente da república.

            Beleza?

 

RICARO SALLES um anti-IDEÓLOGO

            Ricardo Salles, atual ministro do Meio Ambiente é outro representante político que costuma dizer que existem “ideologias” por trás de “relatórios técnicos” emitidos por órgãos e autarquias responsáveis pela produção de dados sobre, por exemplo, queimadas na Floresta Amazônica.

            Sacou? “Ideologia” é quando os dados “deixam de ser técnicos” e se tornam fruto de “interesses” opostos ao do governo.

 

BOLSONARO, SALLES E MORO e o mesmo MITO DA PUREZA

            Os dois casos mostram apenas uma coisa: a ciência e a “técnica” servem sempre a interesses, sejam de Bolsonaro, de Salles ou de Moro. É um mito “desconectar” ciência de “interesses” (ou ideologias para Salles e Bolsonaro); ou de “ganhos individuais” (como disse Mouro sobre “interferências políticas”).

            O que precisa ficar claro é se os “interesses” da Ciência e da “Técnica” estão a serviço do “bem comum”, se levam em conta responsabilidades sociais (ou socioambientais) ou não. O que significa que a produção de conhecimento precisa se alinhar com “um lado” ou “outro” da situação.

            E aí, tu acha que o governo tem responsabilidade social e ambiental? Diz aí, abençado/a.

 

Fonte da imagem: https://s2.glbimg.com/215H8RD4bst0Otj6aT3LsGUeSuQ=/640x424/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2019/05/14/82490094_bsb_-_brasilia_-_brasil_-_03-05-2019_-_cerimonia_de_imposicao_de_insignias_da_ordem_do_rio.jpg

 



terça-feira, 9 de junho de 2020

Deus, humanidade e animais


Resumo: bença, vou tentar te mostrar o que acontece quando paramos de “dizer” coisas positivas ou negativas sobre “o ser humano” e passamos a usar Sociologia e Antropologia para “entender” as diferentes formas “desse” ser humano.

           

Humanidade e animais

            Somos diferentes dos animais, correto? Dizem, né? Somos animais, porém, quando não nos comportamos de modo “civilizado” e “racional”, deixando o “instinto” (animal) fazer com que “percamos a razão” (já ouviu, né?).

            E quando “queremos” escravizar os outros? São animais, não um ser humano!”, “são inferiores” etc., “animais”.

            “Ser humano” é uma coisa que muda conforme desejamos, ora serve pra uma coisa, ora pra outra. Por exemplo: “precisamos humanizar a saúde”, dizem cientistas sociais. “Médico desumano”, diz uma paciente mal atendida em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

            Mas, afinal, o que é ser humano?

           

Sociologia e seres humanos

            Man, mulher, na Sociologia não falamos “humanos”, vamos pra “sociedade” pra dizer que falar em “humano” é falar de modo muito vago. “Sociedade” se faz de “relações sociais”. Estas relações sociais explicam, por exemplo, porque o uso do termo “humanidade” pode ser utilizado para justificar (óbvio que erroneamente) a escravidão ou para falar em “parto humanizado”. Ou seja: esses diferentes “usos” de “humanidade” são resultado de diferentes “relações sociais”: no caso da escravidão, eram relações sociais em uma sociedade em que pessoas brancas escravizavam pessoas negras dentro da lei. Como a lei mudou, nos apressamos achando que o “racismo” acabou; não, ele não acabou, o que mudou foi que a escravidão se tornou crime.

            Já no caso do “parto humanizado”, as “relações sociais” das últimas décadas em alguns países estão valorizando outras formas de parto para reduzir violência obstétrica, entre outras coisas. Portanto, se nós falamos não em “os seres humanos são isso ou aquilo”, agora podemos falar: “as relações sociais aqui são assim, ali são ‘assado’”. Isso permite um feito notável: perceber as diferentes formas de “ser humano”.

 

Antropologia e culturas

            Na Antropologia, irmã (mas não siamesa!) da Sociologia, como costumo dizer, “cultura” é muito parecido com “relações sociais”. São “relações culturais”. Elas explicam diferentes hábitos e costumes de pessoas ao longo de diferentes “sociedades” e momentos históricos. Podemos ter, por exemplo, uma cultura no Brasil que seja semelhante a cultura dos Estados Unidos, como desejam alguns/algumas pessoas. Ou, por outro lado, podemos ter uma cultura geek ou nerd, ou sul-coreana mesmo não sendo da Coréia do Sul, como minha sobrinha linda, a Júlia. Percebe que “cultura” e “relações sociais” fazem com que a gente não diga que uma coisa está em todo ser humano, como a corrupção por exemplo, mas que é resultado de “momentos” ou “lugares” diferentes?

 

Isso é tudo pessoal. O resto é conversa fiada!

PS: é por isso que quando falamos em religião e deuses, perguntamos, mas de qual sociedade ou qual cultura?


Fonte da imagem: https://i.pinimg.com/originals/d8/bb/5f/d8bb5f52d5246d79f7bbdb6b299156cd.jpg

 


Duas religiões econômicas no comércio

 - Terminei. Vamos? - Diz minha pequena. - Posso ir ao banheiro? - Diz minha segunda pequena. Alguns minutos depois, caminhamos sobre o asfa...