quinta-feira, 13 de agosto de 2020

História da guardiã dos animais

 Texto da minha filha, a Lorena. 9 aninhos.

 

Era uma vez uma sementinha no meio da floresta. Ela se perguntava por que demorava tanto para ela crescer como as outras árvores. Ela via todas as sementes crescer.

Ela foi achando que tinha problema para crescer até que ela viu ela mesma crescendo. Ela virou uma árvore pequena. Então ela ficou grande que nem as outras, mas algo surpreendente aconteceu: ela estava crescendo muito mais, estava ficando maior do que as outras. Ela ficou muito feliz. Descobriu que ela tinha um “espaço” na barriga que nos tempos de frio ajudava os animais a se protegerem da neve e dos predadores que vivem lá então.

No outono, vinham esquilos se alimentar dos frutos dela e faziam tocas a volta dela. Mas algo muito bom aconteceu: um lago congelado por conta do inverno foi derretendo e um lago novo foi crescendo com comida e água no mesmo lugar. Lá era um lugar perfeito para os animais ficarem em volta. Era cheio de flores e de árvores. Aquele lago se tornou uma cachoeira por conta da chuva. Lá era o lugar perfeito para os animais, mas quando chegou o inverno, os ursos usaram o “corpo” da guardiã como caverna e os outros animais saíram de lá. Mas por conta dos lobos, os animais tiveram que voltar para lá. Os lobos cercaram o corpo da guardiã e começaram a latir. Por conta do barulho, o urso acordou. Ele viu todos os animais em volta dele e logo pensou em comida, mas ao ver um filhote de cervo com um olhar de medo, ele logo pensou neles como amigos. Então ele foi para fora e rosnou muito alto e em volta dos lobos chegaram os ursos e ajudaram eles. A guardiã árvore ficou muito feliz, então os lobos foram embora. Com esses novos aliados lá, a floresta se tornou um melhor lugar.

 

FIM

 

Link da imagem: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcRpF3xd40OLC-5dZwiTWjuFhxiFw3GPKzAbtg&usqp=CAU

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Djamila, Foucault e a Episteme

     Estaríamos vivendo uma mudança no pensamento contemporâneo? É uma pergunta vaga, mas que convida à reflexão: se a Idade Contemporânea Ocidental tem início com a Revolução Francesa de 1789, estaríamos assistindo a uma "revolução não tão silenciosa" ao longo do século XX na medida em que as descolonizações pós-escravidão ocorreram?

 

Bom, retornando à França da segunda metade do século XX, encontramos um dos filósofos mais influentes e conhecidos de seu tempo: Michel Foucault (1926-1984). Uma das grandes contribuições desse filósofo foi a ideia de episteme (epistemé). Grosso modo: existiria uma maneira de pensar particular a cada época. Por exemplo: para Foucault, a locura e a razão andavam de mãos dadas antes da modernidade europeia. Depois disso, razão e loucura foram separadas e o acesso à verdade (conhecimento) só seria possível via razão[1].

 

Ora! Quanto mais eu leio sobre estudos culturais (cultura studies) e estudos subalternos (subaltern studies) - dos anos 1970 e 1980 -; estudos pós-coloniais e, mais tarde, decoloniais (e descoloniais) dos anos seguintes, que parecem ter chegado com mais força no Brasil nesta década (2010); e os "estudos sobre lugar de fala" que a Djamila não só aprofundou, mas também ajudou a difundir nos últimos anos - principalmente em tempos de Internet e de Redes Sociais -, mais eu tenho a impressão de que estamos diante de um novo modo de pensar "pós-contemporâneo", que eu chamaria de uma época decolonial, na esteira de todos esses estudos que mencionei. Em outras palavras: estou dizendo que não se trata apenas de uma epistemologia "decolonial", mas sim de um limiar entre duas épocas históricas.

 

Já não é mais uma época em que o modo de pensar científico-racional "apaga" os rastros políticos e socioculturais e estabelece um único modo privilegiado de acesso à verdade, pois já não se trata mais da possibilidade de conhecer "a verdade", mas de produzir  realidades alternativas. É o que há de comum, inclusive, com o pensamento de estadunidenses brancos e brancas, que defendiam o pragmatismo pluridemocrático e uma pluriverdade, como o filósofo e "pai da psicologia", William James (1942-1910) ou a filósofa e "mãe do serviço social", Jane Addams (1860-1935).

 

Repetindo o chavão "levando a sério" nossa interlocutora, Djamila Ribeiro, tal como Simone de Beauvoir é levada a sério pela "braquitude crítica"[esta semana sairá um post sobre branquitude e negritude escrito por um homem branco e um homem preto, no Soteroprosa], podemos nos perguntar se "lugar de fala" inaugura uma nova forma de pensamento, uma nova época para o pensamento contemporâneo. Daí a incomodar tantas pessoas que, mesmo sem brancura física, estão imersas na branquitude "do pensamento". Para meus críticos e colegas mais exigentes, digo o seguinte: se o pensamento secular se opôs ao pensamento religioso na idade contemporânea e, ainda hoje, assistimos a ascensão evangélica ao Estado brasileiro, por exemplo, nada mais "natural" ver conservadores incomodados com um novo modo de pensar (tal como crentes de outrora desaprovavam o secularismo).

Por fim, e dito de outra forma, é que lugar de fala pode estar inaugurando uma modalidade de pensamento que: 1) veio para ficar; 2) que "amarra" os corpos ao ato de conhecer, inaugurando ou dando nome a uma epistemologia que não está concentrada apenas na ideia de "verdade" ou "como é possível conhecer", mas "como conhecemos algo por meio de diferentes corpos-ambientes?": i) o meio científico objetivo; ii) o meio pessoal, subjetivo, corporal (experiência); iii) e como sintetizamos isso em novas práticas científico-políticas?

 

A única questão que precisa ser mais desenvolvida é sobre as diferenças áreas científicas, pois há uma grande distância entre Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Essa distância, contudo, não se resume a diferentes epistemologias com uma ontologia de fundo, mas às especificidades de cada área - algo que desde o nascimento das Ciências Sociais, por exemplo, jamais foi resolvido e que, portanto, não é "culpa" de Djamila e seguidoras não terem solucionado, pois é uma questão que está no âmago da separação entre as ciências e, possivelmente, não tenho solução. Para sair do monismo de ficar "apenas na episteme inaugurada pelo lugar de fala", acredito que a filósofa belga, Isabelle Stengers, pode nos auxiliar nessa empreitada.

 

Ah, sobre os usos e abusos de "lugar de fala": migo, miga, se vcs se desentendem com seus namorados e namoradas pelo WhatsApp porque não entendem uma palavra no mesmo sentido e vcs são só duas pessoas, imaginem quando uma palavra circula pela boca de milhões ou até milhares de pessoas? ;)  

 

1: ver o artigo "O cogito e a loucura - revisitando o debate de Foucault e Derrida em torno da continuidade ou descontinuidade dos saberes", Rev. Synesis, v.5, n. 2, pp. 148-166, jul/dez. 2013, de Ronalado Filho Manzi.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Djamila, Marx e uma luta de classes/raças na economia política


 II

 

            Conversando com universitários de Ciências Sociais há quase uma década, ouvi “Por que Karl Marx fez tanto ‘seguidores’, diferente de Max Weber ou Émile Durkheim?”

 

            Bom, não foi bem isso. Mas usar “seguidores” ajuda a puxar para nossa época (2010-2020). Os anos passaram e aí eu cheguei a uma resposta. Acho que Marx se tornou uma máquina política: Weber e Durkheim não.

            Mas voltemos com o aparato da série Dark para o século XIX. Quem era Marx? Ele caminhava com Engels, seu amigo rico, que lhe dava uma força pq ele tava liso e tinha muitos filhos e filhas.

            Marx conseguiu continuar na universidade e foi um comentador de Hegel, um filósofo tão influente que hoje, dia 5 de agosto de 2020, encontrei Paulo Guedes, ministro da economia, falando que a razão aparecerá no tempo! Gente, isso é de Hegel, saiba ele ou não.

            Existia um rival de Hegel, Artur Schopenhauer que não fez o mesmo sucesso que Hegel, mas no final da vida, ficou menos ranzinza ao começar a fazer sucesso - recalcado! - (leiam A cura de Schopenhauer).

            Enfim: porque Djamila faz tanto sucesso e incomoda tanto? Simples: “ela se tornou uma máquina política”. Tal como Marx, inclusive, muitas vezes ela não é nem lida, apenas utilizada como máquina (quantos marxistas eu conheci que não liam Marx...); às vezes é sumariamente criticada, como se faz no bolsonarismo contra  Marx e seu socialismo científico (comunismo).

 

Esse o segundo post.

Djamila, Galileu e uma luneta chamada Lugar de fala

I

             Neste texto, eu vou pedir desculpas por usar uma retórica científicossocial. Mas será necessário. Prometo ir modificando essa linguagem em outros posts. Como esse é o primeiro post sobre Djamila Ribeiro, eu vou precisar leva-la tão a sério quanto um branco leva uma branca, como Simone de Beauvoir, filósofa francesa, a sério, pois acho que é o que não vem acontecendo...

 

Ato Um: uma revolução copernicana

            Uso, aqui, a filósofa belga, Isabelle Stengers, para comparar o que Galileu fez na Europa de sua época, neste caso em 1608, com o que Djamila fez em nosso tempo.

 

[...] E essa referência não é um artefato histórico: o próprio Galileu mostra-se perfeitamente consciente do fato de que, com ele, alguma coisa de novo estava em vias de se concretizar. Sua obra pública consagra um acontecimento, não somente um “novo sistema de mundo”, mas também uma nova maneira de argumentar à qual ele confere o poder de fazer os adversários caírem no ridículo e de obrigar Roma a se curvar e a mudar a interpretação das Escrituras. (p. 90).

 

                Ora! Reparem: Djamila fez o mesmo: seus adversários são brancos, sua escritura é a da Ciência. Segundo Massoni e Moreira (2015) - que inspiraram este texto -, ela e ele da Física, Stengers está dizendo “isto é científico” como o grande trunfo para se opor a seus adversários. Ora! Djamila não fez nada mais que isso com seu “lugar de fala”.

 

Esse é o primeiro post.

               Referências

Neusa Teresinha Massoni. A VISÃO EPISTEMOLÓGICA DE ISABELLE STENGERS. Ensino, Saúde e Ambiente, v8, n2, pp 111-141, ago, 2015.


Isabelle Stengers. A invenção das ciências modernas. Editora 34, 2002.


Duas religiões econômicas no comércio

 - Terminei. Vamos? - Diz minha pequena. - Posso ir ao banheiro? - Diz minha segunda pequena. Alguns minutos depois, caminhamos sobre o asfa...