Em 2012, segundo semestre letivo, iniciei a graduação no
Bacharelado em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE).
Na UFRPE não existe, atualmente, curso de licenciatura em CS; na Universidade
Federal de Pernambuco existe a opção pelo bacharelado ou pela licenciatura.
Entrei em CS por meio do conhecido Sisu, sem ser por cotas.
Salvo engano, minha nota foi pouco acima de 600 pontos. Salvo engano, de novo,
acho que CS era minha segunda opção de curso, sendo História a primeira. Na
época, eu não entendia muito bem as diferenças entre bacharelado e
licenciatura, tampouco para que serviria, na prática, o curso de CS. Mas uma
coisa eu sabia, eu queria entrar no mestrado. Se me perguntassem por que, eu
diria, por questões profissionais e financeiras, além de achar que tinha
aptidão para a área (ciências humanas e sociais).
Pois bem, cursei CS sem gostar muito de salas de aula. No
começo da graduação era um aluno (discente) dedicado; depois fui me tornando “rebelde”
e “indisciplinado”. Contudo, isso não me impediu de concluir o curso no tempo
previsto e, no semestre seguinte, tentar o mestrado em Sociologia na UFPE. Mas
não sem antes tentar o mestrado em História na UFRPE e não conseguir passar (é,
parece que História não era, afinal, o curso que eu deveria fazer).
Após cursar as disciplinas do mestrado e estar em fase de
desenvolvimento de pesquisa, decidi analisar pra onde eu poderia ir com o curso
Superior em CS e Mestrado em Sociologia (e aqui as coisas se tornam bem
complicadas...).
Primeiro: eu posso dar aula na Educação Básica (Fundamental e Médio)? Não! Quem poderia dar aula de “Sociologia” – na verdade,
CS – são portadores e portadoras de diploma de licenciatura; bacharelado é pra
ser pesquisador e pesquisadora ou docente (professor e professora
universitário/a).
Com a proposta de Reforma do Ensino Médio, promovida por
meio de medida provisória (MP) do governo do excelentíssimo presidente Michel Temer, em
conjunto com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), chefiado por Mendonça
Filho, não será mais necessário ter o diploma de licenciado em CS,
basta ter o que se chama de “notório saber”... O que significa, em outras
palavras, que profissionais de outras áreas poderão lecionar CS no lugar de
licenciados e licenciadas em CS.
Oras, vetado duplamente de tentar um concurso ou seleção
simplificada para a educação pública Básica, então melhor seria continuar
dentro do escolhido: Bacharelado.
Segundo: aí vem a possibilidade de escolha – docente e/ou
pesquisador/a. De fato, é o que eu gostaria de fazer: ser pesquisador (não
docente!). Então vem a pergunta: onde atuar como pesquisador exercendo a função
de sociólogo? Iniciativa pública ou privada. Simples! O problema é que
raramente existem vagas na iniciativa privada ou concursos para a iniciativa
pública. Vou dar um exemplo: recentemente o SENAI (mai/2018) abriu uma seleção
para contratação de pesquisador (a). Quantas vagas? Uma. Apenas uma.
Observação: a vaga poderia ser preenchida, também, por Economistas. Critérios
para seleção? Domínio de alguns softwares de análise de dados... Bom,
presumi-se que em uma graduação em pesquisa em pleno século XXI não deva existir uma
defasagem nesse quesito. Surpresa – sim, há uma defasagem. As disciplinas
(cadeiras) da graduação em CS simplesmente não estão capacitadas para um
ambiente informatizado*.
A UFPE possui esse “diferencial”. Na graduação (e no
mestrado em Sociologia) existe o uso de um software para análise de dados estatísticos.
O IBM SPSS. No entanto, esse software é utilizado como ferramenta
de tratamento de dados quantitativos. A pergunta que se segue é: não existe
nenhum software para tratamento de dados qualitativos?
Respondendo a pergunta: sim, eles existem. No entanto, em
ambas as graduações federais locais (bacharelado), métodos qualitativos de
pesquisa se resumem à leitura de textos que apresentam os diferentes métodos
qualitativos e, normalmente, apresentam diferentes abordagens para tais
métodos (por exemplo: abordagem crítica, positivista, interpretativista etc.).
A questão é: e o tratamento dos dados? Bom, isso é feito de maneira quase que
intuitiva. E aí reside uma crítica pertinente da área quantitativa à área
qualitativa.
(Talvez isso seja mais um agravante para pessoas que temem
escrever um trabalho de conclusão de curso (TCC) no formato de monografia. Ou
seja: é, supostamente, sua primeira pesquisa, você nunca analisou dados, e
ainda tem que defender sua pesquisa no rito de defesa do TCC contra
especialistas em sua área para poder obter seu diploma! Para isso, dirão,
existe o orientador ou orientadora. Mais ainda, para isso existem bolsas de
Iniciação Científica com duração de até 2 anos, financiadas por autarquias como
a CAPES e o CNPq, ou, localmente, a FACEPE. Apesar, claro, de que não há bolsas
para todo mundo e, também, nem todo mundo, afinal, tem interesse em fazer
pesquisa – me pergunto o que fazem no bacharelado!).
Terceiro: a opção de docência é de longe a mais simples de
todas. Primeiramente, é preciso conseguir passar numa seleção de doutorado e,
então, estudar mais quatro longos anos (somando: 4 anos de graduação + 2 anos
de mestrado + 4 anos de doutorado = 10 anos de estudo após a conclusão da
Educação Básica). Após obter o título, finalmente, você poderá tentar um
concurso para docência em Instituições Federais (IFs). Os salários são
relativamente bons, aproximando-se de R$ 10, 000,00 inicialmente.
Claro, antes disso existe a possibilidade de que aparecem
seleções para professor ou professora substituto/a. É possível, em alguns
casos, se candidatar apenas com diploma de graduação. Além disso, faculdades particulares ainda
costumam ter em seu quadro professores ou professoras apenas com o diploma de
mestrado.
Quarto: é possível, se nada mais restar, se candidatar em
concursos para concorrer a vagas de nível Superior em concursos públicos! Oras,
mas isso serve para qualquer curso... isto é: se pedir apenas nível superior,
sem especificar área – como é o caso de algumas vagas recentemente (mai/2018)
abertas na Secretaria de Educação de Pernambuco.
Como pode ser visto neste blog, eu realizei uma pesquisa na
área de Agronomia da UFRPE (link: http://form-acaoblog.blogspot.com/2018/03/monografia-conclusao-e-agradecimentos.html). A pesquisa foi comparada com CS. No contexto de
mercado de trabalho, a diferença é absurda. Agronomia é um ponto de passagem
obrigatório para políticas econômicas agrárias no modelo de gestão econômico brasileiro; CS e Sociologia, simplesmente, não. Dito de outra maneira: há uma
forte conexão entre formação agronômica, mercado, e políticas agrárias no
Brasil. Mas o mesmo não ocorre com CS e Sociologia.
A pergunta final é: por que fazer Ciências Sociais no
Brasil?
(Pretendo desenvolver uma pesquisa sobre esse assunto em
breve).
* Abaixo, links úteis para download de softwares (alguns CAQDAS - Computer Assisted Qualitative Data Analysis Software) para análise de dados:
* Abaixo, links úteis para download de softwares (alguns CAQDAS - Computer Assisted Qualitative Data Analysis Software) para análise de dados:
Download do Atlas ti 8. Análise qualitativa. – versão limitada
- Link: https://atlasti.com/free-trial-version/
Link para seminário introdutório ao Atlas ti. 8. (Em espanhol): https://www.youtube.com/watch?v=8NBYER_Ceno
Download do Guephi 0.9.2 Análise de redes, redes sociais. Link: https://gephi.org/users/download/
Download do Guephi 0.9.2 Análise de redes, redes sociais. Link: https://gephi.org/users/download/
Download do Sphinx iQ 2. – versão demo - (Análise quantitativa e análise qualitativa simples + coleta (surveys/questionários) e divulgação de
dados (Mobiles, web)) Link: http://www.sphinxbrasil.com/produto/sphinx-iq2/demo/260
Site da IBM (SPSS). Software de tratamento de dados
estatísticos – versão paga .Link: https://www.ibm.com/analytics/data-science/predictive-analytics/spss-statistical-software