quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Rodoviários fazem protesto no Ibura contra o acúmulo de funções*

Fonte: site Diário de PE**
Isso é muito sério, gente. Ontem tentei gravar uma situação: o ônibus parado enquanto o motorista contava o troco de uma passageira - isso pode ser enquadrado como desvio de função?
Segundo: o tempo das viagens pode aumentar (o que reflete um problema não apenas para o/a motorista, mas também para quem depende do transporte - mais uma redução de custo para empresários do transporte, mais mal estar para usuárixs/pessoas.
Terceiro: a função do cobrador/a não se resumia a checar carteiras, passar troco e liberar a catraca, sua cadeira, agora vazia, também representava um apoio ao motorista ou à motorista, já que ele/ela auxiliava o/a motorista avisando quando podia fechar a porta traseira; também sinalizando para veículos fora do ônibus para sair de uma rua e entrar em outras, o que reduzia o risco de um acidente entre o coletivo e outros veículos. A sensação final, pessoalmente, é da "solidão" do motorista, desumanizado, dirigindo por umas 2 horas por viagem, passando troco, conferindo documentos, entrando e saindo de ruas sem apoio de alguém ao seu lado; ou tendo problemas com passageiros/as, pois não é possível enxergar os retrovisores traseiros quando os ônibus estão lotados. No final, parece que estamos sendo jogados contra os rodoviários e rodoviárias. Precisamos nos solidarizar. Precisamos nos opor.



quarta-feira, 27 de novembro de 2019

ZIKA VÍRUS: uma pesquisa sobre a participação da Fundação Oswaldo Cruz no combate à epidemia de Zika


Dissertação de Mestrado (2019)

Resumo

O presente trabalho refere-se à investigação do processo de pesquisas sobre Zika vírus realizado em um laboratório de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães, Fiocruz-Recife. Trata-se de um estudo de caso realizado durante os anos de 2017-2018, após a epidemia de Zika vírus que ocorreu no período de 2015-2016. Foram empregadas análise documental e observação-participante. Os dados foram analisados quantitativamente e qualitativamente. Tais análises se realizaram a partir da sociologia associativa (teoria ator-rede). Como resultado, foi identificado que a produção científica sobre Zika vírus aumentou durante o período da epidemia não apenas entre cientistas do campo de pesquisa (bancos Aedes Informa e Arca, da Fiocruz), mas também a nível internacional (bancos de Saúde: PubMed e LiLacs). O processo de pesquisa sobre Zika em Entomologia pode ser decomposto em ao menos três etapas: da coleta de mosquitos, a transformação das amostras de mosquitos coletados em dados, e a divulgação dos dados em meios científicos e não-científicos. O que permite com que o laboratório se associe à mídia e chegue à população, modificando as relações e vínculos sociais anteriores ao período da epidemia. Por último, foi identificado que o laboratório funciona a partir de redes de rotinas internas, e que humanos e não-humanos são incorporados a estas rotinas. A associação de rotinas de diferentes instituições (i. e. fomento à pesquisa, vigilância epidemiológica, seminários acadêmicos) é o que possibilita o combate à epidemia de Zika. Também foi visto que o embargo à realização de pesquisa pode ocorrer devido à demanda de pesquisadores/as em relação ao número de máquinas disponíveis para uso e, também, em relação às demandas pessoais atrapalhando o ritmo de execução das rotinas de laboratório. Em conclusão, sugere-se como possível contribuição para o campo, rotinas de nivelamento, como realização de cursos procedimentais, como de PCR, ao menos anualmente. Investimentos em infraestrutura poderiam incrementar a produção, pois a disponibilidade de máquinas é o que permite a execução de certas rotinas. Foram desenvolvidos dois conceitos nesta pesquisa: rotinas e comunicadores. Tais conceitos podem contribuir para análise da inter-relação de rotinas de instituições e organizações distintas, pois elas são essenciais para o desenvolvimento das associações observadas em campo. Também se sugere o desenvolvimento de mais pesquisas de cunho sociológico sobre temas ligados à ciência e ao Zika vírus.


Palavras-chave: Instituto Aggeu Magalhães (IAM). Entomologia. Sociologia da ciência. Zika vírus.

Link para versão completa:  https://www.academia.edu/41097949/UNIVERSIDADE_FEDERAL_DE_PERNAMBUCO_CENTRO_DE_FILOSOFIA_E_CI%C3%8ANCIAS_HUMANAS_DEPARTAMENTO_DE_SOCIOLOGIA_PROGRAMA_DE_P%C3%93S-GRADUA%C3%87%C3%83O_EM_SOCIOLOGIA?source=swp_share

Fonte da Imagem: encurtador.com.br/iqBLY

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Ser o quê mesmo? Ontologia e Filosofia antes da Virada Ontológica da Antropologia

Fonte: Internet*

Neste breve texto, quero introduzir o uso do termo “ontologia”. O resultado esperado é esclarecer qual o uso que esse termo tem para área de filosofia. O motivo de redigi-lo se deve aos usos que tal termo adquire na antropologia (naquela abordagem mais atual conhecida como “virada ontológica”). Para tanto, escolhi dois artigos, ambos em português. Contemplei dois filósofos notáveis para o século XX: Gyrogy Lukacs, herdeiro do marxismo; e Martin Heidegger, que relaciona a ontologia à fenomenologia da tradição inaugurada por Edmund Husserl.
            No primeiro artigo, escolhi Sérgio Lessa como comentador, pois o filósofo brasileiro é um importante comentador da obra de Lukács e é um dos responsáveis pela difusão de sua obra no Brasil. Em “Lukács e a ontologia: uma introdução” (1985), Lessa situa a ontologia em sua tradição grega, passando por Aristóteles e Platão na Antiguidade, o pensamento teológico medieval ao seu uso em Marx, conforme a leitura que Lukács faz do co-fundador do materialismo histórico. Basicamente, Lessa remete o estudo filosófico sobre o ser como a preocupação da chamada ontologia. Assim, estudar o ser é, ao mesmo tempo, nos perguntar sobre a essência da realidade constitutiva do ser. O pensamento filosófico grego pensa a ontologia de um modo “fixo”, como uma essência eterna pré-existente à realidade. Então falar em ser é falar sobre essa essência fixa e compreender que as coisas que acontecem (os chamados fenômenos) participam de uma relação com essa essência do ser que, neste caso, passa a conhecer as coisas ou causas dos fenômenos.
            Na teologia medieval, o ser passa a ser associado a uma essência religiosa, a qual pressupõe um Deus, um ser eterno que de algum modo está relacionado à essência humana. Assim, ontologia passa ser compreendida como uma compreensão sobre um ser, a uma essência religiosa (judaico-cristã).
            Mais tarde, Hegel associa a ideia de um Espírito Absoluto em-si. Os fenômenos ou as coisas que acontecem podem finalmente encontrarem-se com esse ser em si do Absoluto, tornando-se para-si. Como se nossas relações remetessem à manifestação da essência desse Espírito Absoluto. O Estado Moderno, por sua vez, seria essa manifestação do Espírito e nós, partes desse resultado do desenvolvimento. Lessa não diz exatamente isso, ainda assim, essa interpretação um tanto descuidada pode servir para nossos fins; entretanto, é preciso se ter em mente que existem possibilidades tanto de recusar essa (minha interpretação) quanto a leitura que Lessa faz de Hegel. A quem possa interessar: “pesquise mais, não pare por aqui”. O que importa é destacar a transição da abordagem teológica do ser para a hegeliana. Mais tarde, para sermos breves, Marx aparece como quem desloca a “essência” para a “materialidade”, mas no processo, diz que nosso ser não “manifesta a essência da matéria”, mas que as relações sociais entre os “homens” em um dado momento histórico é que nos fazem sermos aquilo que podemos ser, nem menos nem mais. Assim, o pensamento de uma época, por exemplo, deveria refletir o estado atual dos modos de produção da sociedade (feudal, capitalista etc.). Importa salientar que o ser aqui não está associado nem ao “idealismo/transcendência” nem ao pensamento (ontologia) religioso.
            A partir do que até agora foi dito, a ontologia em Lukács surge como uma tentativa de descrever os diferentes momentos pelos quais pode emergir o que se chamará de uma “ontologia do ser social”. Esta, por sua vez, distingui-se de seres orgânicos e inorgânicos por meio de um processo (salto) que mantém uma continuidade destes modos de ser em um novo tipo de ser que inaugura uma nova modalidade ontológica do ser, a especificamente humana, social. É bom notar a oposição entre ontologia “laica”, um ser “secular”, daquela religiosa, “transcendental”.

***

            O segundo artigo que escolhi, sobre Heidegger, é de Maria Helena Damasceno e Silva Megale, também filósofa, e se chama “Introdução à ontologia heideggeriana e ao meio ambiente: abertura do ser para o infinito da existência com o outro” (2009). Infelizmente serei mais breve neste artigo. Mas basicamente, o texto enfatiza a questão do ser aí, como presença, ou como experiência e modo de existência (Dasein). Ao fazê-lo, a autora está dando destaque ao caráter fenomenológico da abordagem de Heidegger. Sua intenção é demonstrar essa negação de elementos transcendentais prévios à própria existência do ser aí. Em outras palavras: se você é uma pessoa aí (um ente), ser algo ou conceber uma essência do que você é só pode ocorrer a partir de sua existência e na sua relação com os outros. O que significa que não estamos em uma essência ou pensamento fixo (grego), ou relacionado à uma entidade (Deus/Espírito Absoluto), nem à uma materialidade prévia condicionante de um modo específico de possibilidades de ser (Marx/Engels), na qual nos situamos numa estrutura de classes sociais, por exemplo. O que não significa, por outro lado, que esses exemplos estejam errados de antemão, previamente, mas suas possibilidades só existem na medida em que você também existe como participante dessa ou daquela possibilidade de ser. Ao mesmo tempo, elas não fixam as coisas ou encerram o mundo em uma essência (Grega/Deus/Espírito/Matéria/Ser social). Megale encerra seu artigo defendendo a possibilidade de essa possibilidade de “ser aí” não se fechar.
            Minha escolha dos dois textos é bem pessoal. Há alguns anos, ao ler “Prolegômenos para uma ontologia do ser social”, de Lukács, li uma passagem biográfica que dizia que Lukács questionara a fenomenologia husserliana e, a meu ver, de modo reducionista, ao se perguntar se um acontecimento real, como um atropelamento de carro, poderia ser colocado “entre parênteses” (se bem me lembro) – o que tem o efeito de perguntar a você se você acredita na realidade de o acontecimento real de um carro te atropelar; o que leva a obvia conclusão de que se a existência do carro não pode ser ignorada, então não podemos “por a realidade entre parênteses” e “fingir que o carro não existe” (ou seja: não se pode por a realidade que conhecemos previamente fora de nossa análise). Sendo ou não sendo esse o caso, o sentido se mantém: a crítica de Lukács estava relacionada a negar certezas sobre a realidade, como se fosse muito “voluntarioso” ou “questão de opinião” observar o mundo apenas em sua imediaticidade – o mundo dos fenômenos. Fazer isso seria negar, para Lukács, as estruturas que condicionam a realidade (que ele percebera e tem como verdade). Por isso, escolhi essa dicotomia marxismo-fenomenologia. Além disso, tais abordagens são bem representativas de pensamentos estruturalistas e representacionalistas, de um lado, daqueles mais próximos ao interpretativismo e, depois, à virada ontológica de outro.
            Por fim, quis com esse texto demonstrar como a ontologia foi abordada por dois exemplos pontuais que, é claro, passam infinitamente longe de encerrarem os exemplos possíveis. Porém, creio que tais exemplos podem demonstrar o mais pertinente para minha exposição: falar sobre ontologia é, a princípio, nos perguntarmos sobre a essência do ser, sobre a realidade das coisas. Começar a refletir sobre isso é em alguma medida nos perguntar sobre o sentido de ser humano (Heidegger). Dos gregos ao século XX, com Heidegger e Lukács, tentei explicitar como esses filósofos lidaram com a ontologia. Ambos estavam tentando responder, basicamente, sobre o sentido de ser humano e sobre “como se constitui nossa realidade especificamente humana”.
            A grande questão, afinal, é – isso será essencial para compreender a virada ontológica – nos perguntarmos sobre se o ser dos entes ou o ser das coisas na filosofia grega e em seus herdeiros contemporâneos não é o mesmo que ir a campo como um antropólogo ou antropóloga fariam e pesquisar “qual a ontologia que está sendo construída por outros” – aliás, será que o termo ontologia seria suficiente para traduzir as experiências sobre “o ser” dos “outros”, digamos, povos Ameríndios, por exemplo? Essa é uma questão para um próximo post.  



Fonte da imagem: https://www.google.com/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Faltamontanha.com%2Fwp-content%2Fuploads%2F2018%2F07%2FTepuys-de-Roraima-e-Kukenan-Venezuela-Fonte-Divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg&imgrefurl=https%3A%2F%2Faltamontanha.com%2Fo-que-e-um-planalto%2F&tbnid=XY_rtMsONdlJ7M&vet=12ahUKEwjGvMeC64bmAhULAbkGHXNfBvMQMygVegQIARAx..i&docid=UWVvhc3qz4o9gM&w=735&h=400&q=platos%20gografia&ved=2ahUKEwjGvMeC64bmAhULAbkGHXNfBvMQMygVegQIARAx

Pequenos picadores: mosquitos como " mais-que-vetores " no alto sertão sergipano


Fonte: Internet.²
Este trabalho, aqui comunicado, é da autoria de um biólogo de formação, mas também antropólogo (mestre). Seu trabalho bem que poderia ser chamado de "pode o mosquito falar?", tal como num artigo de 2002¹, em que um pesquisador utilizou essa expressão como título de seu trabalho. Abaixo, resumo:



Resumo: Resultado de uma pesquisa de campo de aproximadamente 40 dias distribuídos em 3 meses, este trabalho é parte de uma dissertação ainda em andamento. Trata-se de uma etnografia realizada no Monumento Natural (MONA) Grota do Angico, unidade de conservação (UC) situada no alto sertão sergipano. Os desdobramentos das relações efetivas entre populações humanas e mosquitos são o fio condutor deste trabalho. Na Unidade, não há registros de arboviroses, o que não exclui a possibilidade de suas ocorrências. Somado a isso, elas não foram percebidas ou mencionadas pelos sertanejos como realidade local, o que me fez propor uma abordagem mais-que-vetora para a relação entre eles e os insetos em questão. Constituindo uma paisagem emaranhada de seres vivos ou não, humanos ou não, o MONA está sob constante visita de pesquisadores e turistas do mundo inteiro, além dos agentes do estado – todos, em geral, mencionados pelos sertanejos como os hômi da rua. Entre a preservação e o extermínio de espécies, a rua determina uma série de condutas a serem seguidas pelos sertanejos que habitam o local. Os insetos, então, foram a minha porta de entrada para reflexões sobre questões que emergiram em campo, dentre as quais: a composição dos mosquitos na paisagem e a sua luta, seja lutar por sobreviver no ambiente naturalmente adverso que é a caatinga ou lutar contra o local a que são alocados: parasitas e pragas a serem exterminadas. Este trabalho é, portanto, um esforço de se " falar com " mosquitos, tomando como ponto de partida a maneira como os sertanejos pensam esses insetos. Tais concepções nativas, portanto, potencialmente subsidiam diálogos com uma ciência comprometida a pensar a era de extinções em massa. Palavras-chaves: relações humano-animal – insetos vetores – sertanejos

Autor: Túlio Maia (University of Exeter UK). 

Link para o artigo no Academia.Edu: https://www.academia.edu/35500386/Pequenos_picadores_mosquitos_como_mais-que-vetores_no_alto_sert%C3%A3o_sergipano?email_work_card=title








1: Timothy Mitchell, ‘Can the Mosquito Speak?’ In Rule of Experts: Egypt, Techno-Politics, Modernity (Berkeley, CA: University of California Press, 2002)

2: Fonte: Link: https://www.google.com/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Fexpressaosergipana.com.br%2Fwp-content%2Fuploads%2F2017%2F03%2Fseca-e1488467812579.jpeg&imgrefurl=https%3A%2F%2Fexpressaosergipana.com.br%2Fseca-no-sertao-sergipano-e-sua-industria-crescente%2F&tbnid=lMcPCTidjoEs0M&vet=12ahUKEwi7zt6VyYXmAhXJBLkGHclID08QMygAegUIARDVAQ..i&docid=Vzzn3OnO342HoM&w=875&h=450&q=sert%C3%A3o%20sergipano&ved=2ahUKEwi7zt6VyYXmAhXJBLkGHclID08QMygAegUIARDVAQ




quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Tratamento noticioso do vírus Zika na imprensa: Estudo comparado das estratégias noticiosas no Brasil e em Portugal


Autores:

Resumo
"Resumo: Dada a importância que o jornalismo pode desempenhar nos processos de aquisição de informação em saúde, o presente estudo foi desenvolvido para entender as diferenças na cobertura jornalística entre o Brasil e Portugal no caso Zika, identificando de que forma as notícias traduzem uma adaptação ao tipo de prevenção necessário para contextos distintos. A análise incide sobre as notícias de imprensa em diários portugueses e brasileiros que abordam esta temática no ano de 2016, o que corresponde ao pico ascendente de casos registados e à mediatização da organização de dois eventos internacionais de grande envergadura – o Carnaval e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Os resultados mostram uma grande disparidade no tratamento nos dois países. Os enquadramentos apontam, de igual forma, para abordagens diferentes dada a intensidade da epidemia no Brasil e para a desigualdade na quantidade e nos formatos jornalísticos.
"
Link: https://www.academia.edu/36435251/Tratamento_noticioso_do_v%C3%ADrus_Zika_na_imprensa_Estudo_comparado_das_estrat%C3%A9gias_noticiosas_no_Brasil_e_em_Portugal?auto=download

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Zika: depressão, ansiedade e estresse são comuns entre as mães de crianças com microcefalia


Saiu no Blog Casa Saudável uma pesquisa realizada por uma pesquisadora da Fiocruz-PE, Ludmila Menezes. 

Fonte: Blog Casa Saudável. Ver link da postagem.
A pesquisa relata que mães de crianças com Síndrome Congênita de Zika (mães de anjo) possuem níveis de transtorno maior do que mães em outras situações. Ver matéria na íntegra no link abaixo:



Link: https://blogs.ne10.uol.com.br/casasaudavel/2019/11/17/zika-depressao-ansiedade-e-estresse-sao-comuns-entre-as-maes-de-criancas-com-microcefalia/?fbclid=IwAR3HUmGRTkLPAn_duOdnr8R_zNe_3POAyt2KhbykjAuwjTOPFj8PCLigBKI

sábado, 16 de novembro de 2019

ZIKAZERO: UMA ANÁLISE DA POPULARIDADE DA CAMPANHA DE SAÚDE NO INSTAGRAM


Comunicador: Parlamento: Efeito Zika

Fonte: imagem de internet¹

Autor (a): Thiago Lucena e Kenney Bacarin.

Resumo



RESUMO Em 2016, o aumento do número de casos de Zika e o interesse público sobre o tema no Brasil e mundo motivaram o governo federal a criar a campanha #zikazero. Comparada às outras campanhas do governo, percebeu-se nesse momento o investimento das estratégias de comunicação para a mobilização social e o uso mais intensivo das Redes Sociais Online. Vimos à criação de banners digitais para redes sociais como: Facebook, Twitter, Tumblr e animações interativas nos principais sites governamentais. Dentre os veículos que foram incorporados na lógica da campanha está o Instagram, uma rede social que se baseia no compartilhamento de imagens e que tem em um aplicativo no smartphone a sua principal plataforma de divulgação. A pesquisa analisou a receptividade dessa campanha na rede Instagram comparando a quantidade de conteúdos publicados com as hashtags utilizando a ferramenta de busca da própria plataforma e analisando as postagens mais populares. Comparamos também com o interesse pelo termo usando da visualização das buscas por meio da ferramenta Google Trends. Os dados e achados foram comentados teoricamente, tabulados e essa sistematização permitiu identificar os conteúdos que mais obtiveram sucesso (se considerarmos sua visibilidade). Vimos que os vídeos que usaram celebridades, na criação de uma corrente de desafios entre eles, mereceram maior destaque e popularidade, o que confirma o recurso do uso de líderes de opinião. Interessante destacar também que apenas um conteúdo dos mais populares foi produzido pelo Ministério da Educação, sendo os outros conteúdos espontâneos produzidos por usuários.

Fonte da imagem: Zika Zero 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

SURTO DE SÍNDROME DE GUILLAIN BARRÉ

Fonte: site de internet*

Este post segue como função de Comunicador.

Autoria: Nobrega et al 2018 

Resumo

Resumo Objetivo: investigar a ocorrência da síndrome de Guillain-Barré (SGB) na Região Metropolitana do Recife, Brasil, 2015. Métodos: estudo descritivo com dados do Sistema de Informações Hospitalares, Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica e entrevistas; os casos de SGB foram classificados segundo os critérios de Brighton, e a infecção prévia, segundo critérios laboratoriais e clínicos. Resultados: em 2015, houve três vezes mais internações por SGB que em 2014; investigaram-se 44 casos confirmados ou prováveis de SGB, dos quais 18 apresentaram sintomas de infecção por Zika até 35 dias antes da ocorrência da SGB, principalmente exantema; houve um caso confirmado laboratorialmente para Zika e um óbito. Conclusão: os achados reforçam possível relação da SGB com infecção por Zika, por ausência de aumento da ocorrência da SGB em anos epidêmicos de dengue, ausência de registro de transmissão de chikungunya, presença de manifestações clínicas compatíveis com infecção por Zika e uma confirmação laboratorial. Brote de síndrome de Guillain-Barré potencialmente relacionado con la infección anterior por el virus Zika, en la Región Metropolitana de Recife, Pernambuco, Brasil, 2015

Link: https://www.academia.edu/37902567/Nobrega_et_al_2018_Surto_de_sindrome_de_Guillain_Barre?source=swp_share
* Disponível em: https://www.google.com/imgres?imgurl=http%3A%2F%2Fsaude.gov.br%2Fimages%2Fguillain_barr%25C3%25A9.png&imgrefurl=http%3A%2F%2Fsaude.gov.br%2Fsaude-de-a-z%2Fguillain-barre&tbnid=e1hCpTSjFmsaNM&vet=12ahUKEwijifWk6uTlAhX8D7kGHWWTA5YQMygBegQIARAs..i&docid=f_W6IL5Xdc8PTM&w=793&h=453&q=guillain%20barre&ved=2ahUKEwijifWk6uTlAhX8D7kGHWWTA5YQMygBegQIARAs

A masculinidade e a ideologia; o processo de socialização masculina

Fonte: site de internet.*

Este artigo foi publicado inicialmente na revista OPSIS, Catalão, v. 13, n. 2, p. 173-188 - jul./dez. 2013.

Autores: Brito, Gabriel F. de.; de Paula Jr, Josias V.

Modestamente ele alcançou 100 leituras no Researche Gate. Por isso, divulgo-o aqui. O texto faz parte de um momento inicial de pesquisa, baseado em uma epistemologia marxista. Neste sentido, sua razão de ser, bem como seus argumentos, se sustentam apenas na medida em que os dados coletados (fontes primárias e secundárias) foram avaliados com base na relação entre ideologia  e ontologia a partir de Marx, Mészáros e Luckács. 

A literatura analisada sobre masculinidade, gênero e intersecionalidade se baseia em autoras como Saffioti, Ridenti, Vaisman, Jesus etc.

Resumo

Resumo: Pretendemos, no presente artigo, refletir sobre a relação da ideologia, socialização e a masculinidade. Nosso referencial teórico para o conceito de ide-ologia se apoia em Marx, Mészáros e Lukács; é a partir destes pensadores que pretendemos dialogar com os estudos sobre o feminismo, a masculinidade e os gêneros  em  geral,  pois  pensamos  que  a  influência  destes  três  elementos  pode  assumir aspectos mais danosos para as mulheres e outros gêneros nas populações mais carentes da sociedade. Com referências a estatísticas sobre violência con-tra  mulher  e  pesquisas  qualitativas  sobre  sexualidade,  paternidade  e  violência,  pretendemos confirmar que o resultado de tal analise é de que a baixa instrução e  a  desigualdade  social  acentuada  (principalmente  no  Brasil)  representam  um  perigo para os gêneros dominados. Dessa forma também será possível reafirmar que o conceito de masculinidade marginalizada pode ser observado na socieda-de,  permitindo  uma  melhor  apreensão  dos  diferentes  tipos  de  masculinidades  possíveis na nossa cultura e em tantas outras.Palavras-chave: ideologia, gênero, masculinidade, masculinidade marginalizada, patriarcado. 


(1) (PDF) A masculinidade e a ideologia: a socialização masculina. Available from: https://www.researchgate.net/publication/307844278_A_masculinidade_e_a_ideologia_a_socializacao_masculina [accessed Nov 12 2019].

Boa leitura!



domingo, 10 de novembro de 2019

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Microcefalia no Piauí, Brasil: estudo descritivo durante a epidemia do vírus Zika, 2015-2016

Fonte: Internet*


Esse post cumpre a função de iniciar outro uso para este blog: concentrar informações sobre o conceito sociológico que chamei de Comunicadores. Neste sentido, o blog se torna um veículo para concentrar notícias sobre Zika e temas correlatos, com Microcefalia, Cianobactérias etc.


Esse Comunicador reúne produção científica (experts) e não-científica (jornalismo, mídia em geral). Esta função visa superar uma divisão encontra em minha pesquisa de mestrado em sociologia (2017-2018). Na ocasião, eu descobri duas coisas: i) o que sai dos laboratórios só pode ser "testado" (avaliado) pela rede científica (outros laboratórios que testam as provas por trás das descobertas); ii) que os fatos que vão para "o resto da sociedade", por meio do jornalismo em geral, são "traduzidos" conforme os fins dos veículos de comunicação. O que gera um problema: o efeito de uma manchete mal feita, mal intencionada etc., ou a tradução da linguagem técnica pode distorcer a informação gerando efeitos "negativos" sobre a população. Foi pensando nisso que decidi criar esse "novo Parlamento".

Digo "novo" e "parlamento" porque neste blog também hospedo informações sobre o debate sobre agrotóxicos/defensivos agrícolas. Debate esse que comecei a investigar no ano de 2015, tendo concluído uma pesquisa que me garantiu o diploma de Sociólogo (Bacharel) pela UFRPE (2016).

Por fim, cabe dizer que neste Parlamento, o funcionamento se dará da seguinte maneira: na medida do possível, compartilharei informações pertinentes ao tema já mencionado, mas em postagens sucessivas e cujos marcadores serão: Parlamento; Efeito Zika.

Efeito Zika é o título da última parte de minha dissertação de mestrado. Nela, argumento que a relação entre Ciência e os mosquitos identificados como transmissores desse vírus chamado Zika é que gera alianças entre humanos e não-humanos que, por conseguinte, modelo o que no senso comum chamamos de Sociedade e Cultura. Quanto mais transmitimos informações científicas sobre o vírus Zika, mais a Sociedade gera efeitos específicos no modo como entendemos e lidamos com nosso ambiente, com não-humanos e, claro, com nós mesmos.

Primeiro Artigo da Série:

Microcefalia no Piauí, Brasil: estudo descritivo durante a epidemia do vírus Zika, 2015-2016

Autores/as: Igor Gonçalves Ribeiro, Marcia Regina de Andrade, Janaína de Moraes Silva, Zenira Martins Silva, Maria Amélia de Oliveira Costa, Marcelo Adriano da Cunha e Silva Vieira, Francisca Miriane de Araújo Batista, Herlon Guimarães, Marcelo Yoshito Wada e Eduardo Saad.

Link para o artigo: 
https://www.academia.edu/36310451/Microcefalia_no_Piau%C3%AD_Brasil_estudo_descritivo_durante_a_epidemia_do_v%C3%ADrus_Zika_2015-2016?source=swp_share


* Disponível em: https://www.google.com/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Fstatic.todamateria.com.br%2Fupload%2Fzi%2Fka%2Fzika-og.jpg&imgrefurl=https%3A%2F%2Fwww.todamateria.com.br%2Fzika%2F&tbnid=VovbDGNzkkl9vM&vet=12ahUKEwi9lve_tNrlAhUWHLkGHYECA5YQMygGegUIARDiAQ..i&docid=c3HJKoRjbiRRHM&w=1200&h=630&q=zika%20v%C3%ADrus&ved=2ahUKEwi9lve_tNrlAhUWHLkGHYECA5YQMygGegUIARDiAQ

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Fora de Contexto - texto apresentado em uma aula de Teoria e História da Antropologia na UFPE

Marilyn Strathern*


Preâmbulo
            Originalmente o ensaio ora analisado foi apresentado na famosa palestra Frazer, instituída inicialmente em 1922, em Universidades Britânicas. (p.9). Na época de sua apresentação, Strathern afirma que o pós-moderno estava sendo gestado no período de Malinowski, em oposição a Frazer. A fase de Frazer, por sua vez, era o moderno que estava a ser gestado (p. 10).

O que interessa a Strathern, nesse contexto, é demonstrar que "a redação não se exime das relações extralinguísticas e, portanto, constitui uma forma propriamente política de expressão do sujeito da antropologia..." (p. 11).

Ainda na apresentação (15) se fala da noção de jogo livre - o jogo em que os contextos são misturados como se não houvesse diferença entre eles; e jogo estruturado - cujo poder reflexivo se encontra precisamente na capacidade de diferenciar contextos. O jogo livre só existiria retoricamente; o segundo ocorre a partir de uma escrita comum à época, década de 1980, na qual a antropologia vivia um momento celebrado por alguns, criticado por outros, como de reflexividade antropológica ou de ênfase sobre o fazer antropológico em geral.
Tal reflexividade, e para antecipar o primeiro eixo analítico, é preciso dizer que a escrita e a relação entre autor/escritor, nativo/a e leitor/a vêm para o primeiro plano, sendo, portanto, a preocupação central de Strathern; o segundo eixo, que fica mais claro a partir da leitura do pósfacil de Renato Sztutman (USP), é o deslocamento da representação/cultural em Strathern, para uma abordagem ontológica. Sztutman define a virada ontológica da seguinte maneira, e a partir de Viveiros de Castro e Márcio Goldman: [...] a criação de novos conceitos a partir de etnografias interessadas em descrever outros modos de descrição do mundo. (p. 149)

I – Início
            Strathern inicia sua apresentação com uma interessante provocação: em que medida o propósito da antropologia pós-moderna de dar voz ao "outro" não serve antes a sua autolegitimação?

Anacronismo
            Falando sobre James Frazer, Strathern enfatiza o "anacronismo" presente em imputar visões de um agora tornado visível sobre um passado que se entendia em seus próprios termos. Aqui podemos sugerir que se trata da modalidade de jogo livre. Ou seja: os contextos do nosso presente são misturados com os do passado. Para a autora, isso é que nos dá a sensação de que "houve uma história". (p. 34).

Escrita e contextos
A autora levanta uma questão a cerca da legibilidade de Frazer em um momento e sua inelegibilidade em outro. Vejamos:

"A questão interessante é como antropólogos modernos [Malinoswki e companhia] conseguiram construir Frazer como uma figura que não cabia no tempo deles e como de fato a escrita, que para tantos outros era eminentemente legível, para eles se tornou ilegível. (p. 35).

            Para Strathern, Malinowski foi fundamental para esse efeito gerado sobre a obra de Frazer. Javier, Strather diz que a revolução promovida por Malinowski foi de: 1) substituir a antropologia de gabinete pela experiência de campo; 2) substituir, nos estudos da religião e da magia, as crenças em prol da ação social (o rito); 3) substituir falsas sequências evolucionárias por uma compreensão da sociedade contemporânea (sincronismo). Mas vejamos ainda como o eixo que chamamos de escrita, aparece nessa leitura: "Embora ainda haja algum debate mais ou menos frequente em torno dos argumentos do próprio Frazer, o que se condena é seu estilo [de escrita]" (p. 38).


Escrita e método
            Strathern diz que Malinoswki procedeu com uma escrita diferente da de Frazer. Ela fala do impacto do escritor sobre a imaginação, no relacionamento entre escritor, leitor e assunto/campo. Aqui as relações se dão de modo interno ao texto, no modo como o escritor arranja suas ideias. Com isso, o método comparativo mudou... (p. 42).

Ficções persuasivas
            Strathern diz que "Uma vez que qualquer obra escrita busca um certo efeito, isso só pode ser uma produção literária" (p. 42). Desse modo, a escrita de Frazer impactou seus leitores devido a sua familiaridade com eles. Diferente do que viria a acontecer com a Antropologia posterior (p. 47). Isso demonstra que a escrita em Frazer vinculava autor e leitores. Seria apenas com o modernismo que surgiria a ideia de distância entre leitores e autores. Ou seja: do gabinete, Frazer selecionava material para escrever para seus leitores. Porém, quando a ideia de campo surge, com ela vem a sensação de deslocamento: o antropólogo agora sai do ambiente familiar e se dirige para um lugar distante, inserindo na relação entre autor e leitor, os informantes e seu contexto. Com isso, "O trabalho de campo tornou um novo tipo de ficção persuasiva possível" (p. 52).
            Dá-se ênfase a Malinowski e sua colocação do "outro-objeto" dentro da "moldura" de seu "contexto", afastando o primitivo do historicismo etnocêntrico. O etnocentrismo torna-se recurso para a escrita, pois descentra o eu, ou tenta, colocando pragmaticamente o entendimento observado em seu contexto. Diferente de Frazer, que os extraía de seus contextos para poder realizar comparações entre culturas e, assim, “as colocaria em degraus de evolução diferentes” (p. 54).
            Notar a ênfase recorrente de Strathern na escrita, em como Malinowski cria um texto que separa o nós e o eles e, assim, articula um texto em que utiliza modelos para traduzir o sentido ou senso comum do outro e os contrasta com o nosso sem, contudo, hierarquizá-los. Desse modo, não se fala apenas entre nós e eles, etnógrafo e campo, mas entre ambos e o leitor. Portanto, caberia ao etnógrafo criar textualmente, escrever, essa relação. Mais tarde, será justamente essa escrita sobre o outro que será denominada de autoridade etnográfica (ver nota 47, p. 66/67). Já Frazer, antes, estabelecia uma autoridade com referência a uma moldura extrínseca aos nativos - no sentido de história que ele e seus leitores compartilhavam (p. 61).


Os jogos e a escrita
            Diz que se poderia de modo pós-moderno, aprovar Frazer ao retirá-lo do seu contexto. Isso ocorre porque o leitor poderia interpretar o texto etnográfico ao seu bel prazer, sem os contextos (jogo livre). Caso queiramos embaralhar contextos, então teríamos um guia histórico no próprio Frazer (p. 71).
            Em suma: Frazer pode ser um pré-cursor do pós-modernismo, mas não um pós-moderno tal como se poderia pensar. Isso devido à sua escrita, claramente não reflexiva. Já Malinowski, ao falar de etnocentrismo e contextos deslocados, utiliza isso não apenas como uma crítica, argumento, mas como uma emolduração que deveria ser substituída metodologicamente por uma escrita sobre os informantes lidos em seus contextos e, claro, sustentada pela autoridade do antropólogo que carrega a tradução entre as culturas ao deslocar o contexto do campo para os leitores.
A antropologia pós-moderna, então, ao brincar, jogar com contextos e múltiplas vozes, em alguma medida não faz algo tão distante do que o próprio Frazer o fez no passado. A questão é que no contexto pós-moderno, existe a relação com o leitor e o posicionamento do etnógrafo como autor explicita e reflexiamente, além de que o texto se torna também polifônico em sua relação com os informantes, que deixam de ser meros objetos da antropologia.

Parece que Frazer "fazia", sem perceber, o jogo de contextos, levando em conta, todavia, apenas sua "moldura"; não a dos informantes, nem a dos leitores, apenas aquela comum a ele e leitores médios.

Parte II – Em contexto

            Após os comentários ao capítulo escrito por Strathern, ela inicia sua réplica se dirigindo claramente ao Javier, que a atacou de forma mais dura. Diz Strathern: "talvez o que salve a não ficção (por definição, nunca ‘a coisa real’) da transcendência sejam os próprios limites em sua capacidade de estabilização" (p. 123).
            Esta frase beira o esoterismo. Mas vejamos: primeiro ‘não-ficção’ é uma definição, uma escolha, um sentido dado ao invés de outro, a saber, ‘à coisa real’. Segundo: ‘não-ficção’, pensado então como análogo à ‘coisa real’ seria salva da transcendência devido aos limites na capacidade de estabilização. Em outras palavras: conseguimos estabilizar determinados sentidos da realidade de modo mais duradouro do que outros. Parece que podemos responder certas coisas de uma maneira quase intuitiva; já outras, não. Isso nos dá a impressão de que existe uma realidade além de nossas ficções. Anteriormente, Strathern usou esse tipo de reflexão para falar sobre a nossa impressão de que “existe uma história”. Portanto, não se trata de uma coisa diferente.
            Lembremos: os eixos são a escrita e ontologia. Javier “provocou” Strathern, preocupando-se com a verdade e, por conseguinte, com a separação da ficção da ciência; ela o respondeu: "verdade sobre o quê?". Nesse sentido, ela diz que o que importava para ela, diferente de uma busca pela verdade, era outra coisa, a saber: “"a forma pela qual ideias são comunicadas e [qual seria] seu decorrente efeito para a estruturação das relações interpessoais" (p. 124).
            A escrita, portanto, se produz como um efeito de realidade, ou gerando efeitos sobre a realidade. Tal efeito se dá em uma relação. Neste caso, Strathern está se referindo à escrita etnográfica como produtora de uma realidade. Eis sua divergência com Jarvier: enquanto ele reivindica uma verdade extra-discurso, apartada da linguagem, do signo e, finalmente, da ficção; Strathern está dizendo que a escrita gera um efeito de verdade em uma comunicação que, claro, só pode ocorrer numa relação. Não está em questão o estatuto de verdade, mas a descrição de uma realidade enquanto, por ser literária, não deixaria de ser uma ficção persuasiva.
            Strathern prossegue. Ela menciona E. Tonkien, dizendo que quando a autora fala em ideologia e política, por exemplo, contrastando a relação com ficção e contextos, ela muda sua "moldura" para uma "semântica" que considera algo como ficção, externalizando uma coisa em relação à outra. Isso, supomos, significa dizer que o próprio ato de Tonkien opera uma distinção que privilegia um "texto" (político-ideológico) e, portanto, parece se esquecer de estar inserida na escrita. Em outras palavras: tal como a verdade em Jarvier, Tonkien traz elementos externos à ficção como se eles não constituíssem uma realidade agenciável e agenciada pela própria escrita da autora.
            Strathern diz que Tyler e Marcus a descontextualizam. Prossegue dizendo que eles a questionam por "acreditar" no que seria moderno e pós-moderno, mas ao fazê-lo, acabam entrando numa discussão que insere uma visão teórica sobre se, de fato, "a" modernidade e "a" pós-modernidade seriam o que realmente, de fato, são. Em outras palavras: Tyler e Marcus querem uma história certa. Não fazem a inversão que ela fez com Malinowski e Frazer (como se o primeiro fosse o precursor de um certo Frazer – aquele que poderia ser a fonte do jogo livre, pós-moderno). Ela diz que eles alegam que todo texto possui uma autorreferência (selvagem/civilizado). Porém, ela diz que uma inversão particular e concreta pode não ser autorreferente (p. 127). Para Strathern, essa particularidade cria um contexto. Isso seria possível porque “estaríamos de fora”: por exemplo, sua inversão de Malinowski e Frazer (moderno, pós-moderno) pode ser visto como um jogo livre; mas ela ao mesmo tempo produz essa particularidade num jogo estruturado, produzindo um contexto a partir da reflexividade sobre sua escrita. Algo que não existia do mesmo modo, se é que existia, com os dois antropólogos mencionados.

Conclusão
            Falamos que Fora de contexto é posfaciado por Renato Sztutman. Ele sintetiza o texto de Strathern da seguinte maneira: "o que chamamos de teoria deixaria o campo da transcendência, e a relação entre esta e a etnografia, entre o fazer da antropologia e sua história ou epistemologia, poderia se renovar” (p. 143). Com isso, ele associa Strathern à virada ontológica (p. 149).
            Como dissemos no início deste seminário, Strathern coloca em primeiro plano o papel da escrita. Ao fazê-lo, ela afirma que se a escrita antropológica é uma forma de escrita literária, então ela se torna uma ficção persuasiva. O segundo eixo, que pode ser associado à ideia de jogo estruturado, na qual a reflexividade do fazer antropológico se torna uma preocupação para a prática antropológica, tem em vista que o texto, um artefato construído pela relação entre etnógrafo/a, leitor/a e, diferente da antropologia moderna (Malinoswki) e pré-moderna (Frazer), o/a leitor/a, produz um efeito sobre a relação de comunicação entre as partes. O que significa que o texto, finalmente, torna-se parte da realidade, criando um novo contexto, diferente daquele presente no jogo livre, que estaria, em suas inversões e autorreferências, nas particularidades não esgotantes em si. Em outras palavras: escrever sobre algo é conceber um novo contexto sobre o que se escreve. Derrida jamais deixou de nos lembrar do caráter performativo da escrita.


sábado, 19 de outubro de 2019

COMO ENTENDER OS OUTROS? Da cultura para ontologia na antropologia (Virada Ontológica III)


Marcelo Camargo. Agência Brasil.*
Não é que não “exista” cultura. A questão é que seu uso como conceito pode tornar compreensíveis ações que vinculam pessoas, ambientes e coisas de um modo que parece explicar - para nós - o sentido por trás destas ações. A cultura, mais ainda, é normalmente compreendida como um tipo de média comportamental esperada em uma escala ampla e difusa (falamos de cultura alemã ou ameríndia; cultura de terreiros; cultura muçulmana etc.).

O problema é que quando desejamos compreender a cultura dos outros, diferentes de nós em relação a esse média comportamental suposta - como se todo muçulmano fosse um "terrorista", todo estadunidense fosse patriota, e todo brasileiro amasse futebol ou carnaval etc.), ou para que possamos esclarecer a razão ou os sentidos das ações que não nos parecem claras, recorremos à interpretação das representações culturais dos outros em nossos próprios termos ou "repertórios" culturais – nossos próprios modos de entender algo ou, de modo geral, "nossa própria visão de mundo" [Na área da história, por comparação, temos o anacronismo, que ocorre quando avaliamos o passado a partir de nossos próprios termos "presentes"]. Mas isso nunca permite “extrair” fielmente a experiência vivenciada por essas outras culturas, o que significa sempre uma perda de sentidos que, por outro lado, nos garante, pelo menos, uma representação mínima de outrem, de outras culturas [daí a importância da antropologia, pois ela pretender com o trabalho de campo conhecer mais profundamente essa "outra cultura", sem ficar apenas com impressões e pré-conceitos]. O que é um custo muito caro e não poucas vezes infrutífero (muitas vezes insustentável eticamente - bastante evidente na questão indígena). Aliás, é por isso que antropólogos/as são ótimos para entender a "cultura" de terraplanistas ou bolsonaristas, sem ficar brigando a priori e chamando o terraplanista de irracional, ou o bolsonarista de "apenas" fascista, cínico ou ignorante (o buraco é mais em baixo...) 


         Neste sentido, optar pela ontologia nos promete um tipo de mudança metodológica: como desejamos observar os outros? Como faremos isso? Se com o conceito de cultura olhávamos para representações dos outros e tentávamos transportar tais representações para "dentro" do nosso sistema de compreensão e nossa própria "visão de mundo", para tornar inteligível o que nos parecia irracional; com a nova abordagem nos concentramos nas ações (performance) que podem ser observadas  enquanto formas de lidar com o mundo diferentes, constituindo, assim, uma realidade local (nenhuma realidade é universal, ela é construída e difundida, reterritorializada, deslocada, transformada de um canto a outro). Observar desse jeito evita o problema da “colisão” da "nossa cultura" com a dos "outros". Isto é: não faz mais sentido fazer nossa representação cultural se chocar com a representação de outros, até porque cultura já faz parte de nosso sistema de signos, podendo não ser um conceito traduzível para outros povos. Tal como dois aviões que colidiriam no céu, talvez deixando poucos passageiros/as para explicarem “de onde vêm, quem são e como deveriam se ajudar”,  culturas levam a esse problema quando "colidem". 

Quando optamos por ontologias, seríamos como torres de observação monitorando e descrevendo quais sãos as rotas que os aviões (culturas) estão fazendo, sem que se chocassem e, possivelmente, fazendo-os se comunicarem em prol de ajuda. Politicamente poderíamos dizer que tais ajudas seriam ou pontuais, com objetivos em curto prazo, ou duradouras, como a constituição de um bem comum que se estenda politicamente.

Quem sabe, finalmente, se nossa compreensão chegue a um ponto de não observar a fotografia de Marcelo Camargo (acima) como se fosse uma diferença entre "povos primitivos" e "civilização moderna". Essa interpretação é, para nós antropólogos, apenas sinal de ignorância, quando não apenas etnocentrismo ou, pior, o cinismo comum ao governo que só enxerga a realidade como refém da circulação econômica de capital, como um fim em si mesmo.
             

Fonte da Imagem: Jornal da USP. Link: https://jornal.usp.br/atualidades/os-indigenas-e-os-impactos-da-colonizacao-europeia/

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Ontologia e GÊNERO - Virada Ontológica II


Sexo/biologia a priori
            Quando um feto está sendo gerado, precisamos esperar algumas semanas pra saber seu sexo. Certo? Pois bem, para pensar em sexo (macho/fêmea) de um feto, devemos esperar exames de ultrassom pra saber. Certo? Isso é natural, né? Ficamos com a afirmativa: sim, é natural.
           
Gênero/cultura a priori
            Quando um feto é gerado, tornando-se uma criança, um bebê ou uma bebê, sabemos de antemão, que será um “menino” ou uma “menina”, já que fizemos ultrassom ou, como no passado, a criança nascia com um pênis ou vagina. Mas desde o desenvolvimento das ciências humanas e sociais, descobrimos que “não se nasce mulher, tornamo-nos mulheres” (ou “homens”).
            Com essa interpretação, começamos a entender que não bastava nascer com um “sexo biológico”, a “cultura” ou a socialização é que construía ser “mulher” ou “homem”. Então tá' certo: você pode nascer com um pênis ou com uma vagina, mas como você se tornará isso ou aquilo varia de acordo com a cultura na qual você nasceu. Assim, por exemplo, ser mulher ou homem em Recife é diferente de ser indianos, islâmicos, xucurus etc. Resultado: ser homem ou mulher varia de lugar para lugar; de época para época.
            Neste sentido, a cultura é que “constrói” sobre nossos corpos o que significa ser homem ou mulher. Mas significar isso ou aquilo pressupõe que nosso sexo é algo inquestionável. E seria diferente? Pois bem. Então vamos pensar que “gênero” é apenas um conceito.
            Quando falamos em gênero estamos falando numa “construção cultural”, numa construção “social”. O que significa dizer, como já dito, que cada sociedade ou cultura tem um jeito particular de lidar com o nascimento de corpos com pênis e com vaginas. Então feminilidade e masculinidade vão variar conforme “visitamos” diferentes sociedades. Por exemplo, se o futebol é uma coisa bastante associada a "cultura masculina", quando visitamos os Xucurú de Pesqueira, vemos que são as mulheres de lá que “dominam” o futebol (essa notícia saiu numa matéria do Globo Esporte).
            Em certo sentido, estamos acostumados/as a entender a “cultura” como variável, não o sexo biológico. Até aí tudo bem?
              
Ontologia/performance
            Nas últimas décadas do século XX, as ciências sociais e humanas começaram a se perguntar sobre em que medida nossa visão de cultura era “relativa”. Isto é: se te pergunto como é “ser mulher” ou como é “ser homem”, como você responderia? Conforme viajamos para outros lugares, os comportamentos e hábitos masculinos e femininos variam. Assim, parece que confirmávamos que o “gênero” era uma coisa de cultura – como se fosse os comportamentos e hábitos variados em cada lugar e tempo, conforme gênero em questão (masculino e feminino). Isso nos fazia perceber que existiriam diferentes formas “culturais” de ser homem ou mulher. Porém, surgiu um “movimento” que começou a pensar assim, “ora, se o gênero é cultura, porque nossa concepção sobre sexo não é?”. Por acaso o significado que damos para corpos com pênis e vagina é inquestionável, ou eles são resultado de nossa, por que não, construção cultural? Em outras palavras: se gênero é uma construção cultural, por que nossa milenar concepção de “sexo” também não seria? Acaso não são todas essas interpretações, produtoras de significados e sentidos que definem como homens e mulheres deveriam ser?
            Cultura/gênero é produto das ciências e movimentos sociais. Mais ainda, é algo recente. Antes, por exemplo, no início do século XX, no Brasil, os comportamentos não eram analisados com o termo “gênero”, mas com o termo “sexo” (masculino/feminino). Neste contexto, determinados comportamentos eram associados ao masculino, outros ao feminino; assim como acontecia com o termo “raça”, que associava coisas “boas” aos brancos e coisas “ruins” aos negros. O que estava aceito, por outro lado, era que da biologia, viria alguma influência sobre o comportamento de homens e mulheres, brancos e negros. O que resulta numa questão: se as relações sociais ou culturais se baseavam na biologia, existiria alguma diferença entre “sexo” (biologia) e “gênero” (cultura)?
            Com esse raciocínio, podemos nos perguntar, afinal, qual a diferença de lidar com sexo biológico e gênero cultural? Se ontologia é sobre a natureza do ser, da natureza da realidade, então gênero talvez sempre tenha sido sexo e vice versa*, pois seria a construção do sentido e significados sobre corpos que definiriam como entendemos o que uma coisa (macho/homem) é e o que é outra (fêmea/mulher)**.
            Num exercício prático, cultura está para representação daquilo que “consideramos” ser construído, como o gênero feminino e o masculino a partir de dados biológicos; enquanto a ontologia está para como corpos podem ser diferenciados e como eles produzem uma realidade a partir de suas práticas. Neste sentido, com ontologia podemos observar as construções (discursivas) que geram efeitos sobre o que entendemos por masculino e feminino, independente se falamos de sexo ou de gênero, pois ambos termos produzem práticas observáveis.
            O “truque” é “como” ou “pra onde olhar”. Quando usamos cultura, é como se olhássemos para representação/imagem que figura algo (homem, mulher); quando usamos ontologia, olhamos pra junção das práticas de pessoas produzindo seu modo de ser, independente das figuras que pressupomos. Assim, ser homem ou ser mulher é algo que precisa ser descrito, não algo explicado a partir de nosso próprio entendimento do que seja “gênero”, por exemplo. Sempre que uma pesquisadora mobiliza o conceito de gênero para realizar uma pesquisa, produzir um artigo etc., ela está mobilizando sua própria realidade para dar sentido à realidade por ela observada e, por conseguinte, para os atores ou informantes que ela estuda (tenha ou não consciência disso).
           

O gênero na imagem. GB 2019

* A socióloga Cynthia Lins Hamlin descreve como o gênero “coloniza” o sexo na obra de Judith Butler (Cf. Corpos-Texto: a Colonização do Sexo pelo Gênero na obra de Judith Butler.
** Faça um teste: tente imaginar um corpo, um feto, sem conceber uma identidade masculina ou feminina para ele/a. Agora se pergunte se em nossa “cultura” e sociedade, se esse corpo é ou não associado a uma identidade desde o momento em que passa a existir. É um “sujeito de direito”; é “menino” ou “menina”; é “filho de alguém”; é “parente de outrem”; é “estatística de natalidade” etc. Para Butler não existe algo que seja pré-linguístico, anterior as práticas discursivas.

Duas religiões econômicas no comércio

 - Terminei. Vamos? - Diz minha pequena. - Posso ir ao banheiro? - Diz minha segunda pequena. Alguns minutos depois, caminhamos sobre o asfa...