Gabriel Ferreira de
Brito – PPGA
GB 17 jul 2019. |
Neste texto,
objetivo realizar uma comparação sobre etnografia em duas autoras e um autor:
Mariza Peirano, Marilyn Strathern e Tim Ingold. Tal comparação tem como objeto textos
que fazem parte da ementa da cadeira de Etnografia, ofertada no primeiro
semestre letivo de 2019 como cadeira eletiva na Pós-Graduação em Antropologia
da Universidade Federal de Pernambuco. Como resultado, espero demonstrar a
agência hermenêutica dos autores mencionados/as. Em conclusão, sugiro que a
discussão sobre o que é etnografia devia ser encarada como um exercício
constante de ampliação de nossa percepção sobre o que entendemos sobre ser
humano a partir de outras percepções.
Introdução
O
método de seleção e análise foi prático, pois eficazmente já utilizado
anteriormente e se constitui como análise documental das mais elementares, na
medida em que não abandona os rudimentos de tal tipo de análise (SÁ-RODRIGUES;
ALMEIDA; GUINDANI, 2009). Com prático, queremos dizer que seguimos as seguintes
etapas: leitura “flutuante” ou geral dos textos; em seguida, os textos foram
fichados em um arquivo em separado; depois disso a análise classificatória dos
textos com base no tema proposto (etnografia) gerava um resultado, um produto
textual. Desta feita, na primeira parte, apresento algumas definições de
etnografia em Peirano; em seguida passo para Strathern; por último, comento
Ingold. Em conclusão, apresento algumas comparações e proponho uma nova
abordagem sobre o tema.
Etnografia: teoria viva
Conforme
texto lido e interpretado em debates em sala de aula, isto é: A favor da
etnografia, neste momento, apresento a réplica (ficcional) de Peirano a um
artigo escrito por um, à época, jovem australiano chamado Nicholas Thomas (Against ethnography). O pressuposto da
autora, mencionado na introdução do livro é de que o desenvolvimento de
disciplinas acadêmicas ocorre de maneira eficaz nos constantes confrontos,
sejam com contemporâneos sejam clássicos (PEIRANO, 1995).
É
notável que no texto Peirano pareça associar sempre a etnografia ao trabalho de
campo. Ela assim o faz, como veremos, devido à crítica ao “excesso” de produção
de etnografias. Mas para seguir sua exposição, é preciso situar de onde parte
sua crítica. Por isso, é necessário esclarecer que Peirano interpreta a própria
interpretação de Thomas que sustentaria seu argumento sobre uma comparação
entre passado antropológico (positivista) e presente (interpretativista) – e
assim, para este autor, a quem Peirano situa na esteira pós-moderna, o presente
teria produzido um excesso de etnografias (daí ele falar em pós-etnografia) deixando
de lado a capacidade de propor teorias antropológicas como dantes (com a
ressalva de que não se estaria propondo mais uma nomotética positivista).
Peirano
resgata Malinowski e, especialmente, Evans-Pritchard, para demonstrar que, como
este último considerava a antropologia como uma tradutora, diferente do primeiro, a etnografia então seria um meio pelo qual a teoria
antropológica se desenvolveria. Isso aconteceria pelo desafio que o antropólogo
encontraria quando conceitos de senso comum confrontariam teoria e campo com os
conceitos nativos. Dito de outro modo, Peirano coloca, nesta passagem, a
etnografia como subsídio para a teoria antropológica. Mais à frente (1995, p. 42,
43), Peirano diz que a etnografia seria uma espécie de experimento. Ora,
deduz-se que se a antropologia fornece as bases, o experimento então seria a
ferramenta de teste em que a teoria seria posta à prova.
É
ainda no mesmo sentido que Peirano (p. 49/52) afirma que toda etnografia
deveria sustentar re-análises e, mais ainda, que esse seria um critério de
qualidade antropológica. Vê-se, assim, que o pressuposto da autora não é
negado. Isto é: ela disse no início que o bom desenvolvimento de disciplinas
acadêmicas se desenvolveria com o constante confronto com os contemporâneos ou
com os clássicos. Então ela não se contradiz. Pelo contrário, mantém-se fiel a
sua ideia inicial e, concordamos, demonstra que na antropologia, a etnografia
aparece, justamente, como um exercício de confronto constante entre o que já
foi dito, entre o que se diz, e entre o que se encontra a cada experimento
etnográfico. O que, por outro lado, é ir contra o autor de “Against Ethnography”[1].
Por
último, neste ínterim, talvez caiba uma breve problematização sobre “o
contexto”. Mas qual contexto? O da aula, da ementa e da participação. E aqui,
quem sabe, também apareça a questão da escrita e do campo. Ora, se a ementa
enquadra a discussão, mas não a esgota; e se as aulas de Etnografia podem ser
encaradas como um momento em que informantes (docente e discentes) eram objeto
do antropólogo (eu), mas se o antropólogo era também parte do campo, cabe então
pensar na inclusão de outro texto a partir do antropólogo-informante (eu), sem
esquecer que, neste caso, o leitor é outro informante (o docente ministrante da
cadeira). Desta feita, trago então o texto de Peirano que encerra a definição
da autora sobre etnografia – que é o que nos interessa.
Se
“A favor da etnografia” é um texto da década de 1990 e no qual Peirano fala da
relação entre teoria (antropológica) e etnografia (meio para por em conflito a
teoria e o campo), em “Etnografia não é método”, podemos encontrar uma mudança
na própria definição de Peirano para a etnografia. Em tal texto (2014), a
autora defende a etnografia como uma teoria vivida. Notar: ela não nega que a etnografia
seja um meio para a teoria, mas agora incorpora um sentido adicional, pois
desloca a teoria para o campo e, mas ainda, traz o campo para dentro do
antropólogo ou antropóloga (PEIRANO, 2014, p. 3). Assim, a autora então expande
o que se entende por etnografia. E esta expansão é que abre espaço para
aproximá-la a concepção de etnografia de Marilyn Strathern (2014)[2],
ao mesmo tempo em que a afastará de Tim Ingold (2012; 2015; 2016;), como
veremos mais à frente.
O efeito etnográfico
Para
a antropóloga britânica Marilyn Strathern, após os anos 1990, a famosa
separação entre campo e gabinete parece ter passado por uma transformação em
que o tempo passou a importar mais do que o local geograficamente situado do
campo e da escrita. Com a noção de tempo, a antropóloga se refere mais a
questão de “isolamento ou separação” (STRATHERN, 2014, p. 345) em relação ao
campo espacialmente dado. Neste sentido, para ela, a imersão se torna um fator decisivo para se pensar na etnografia, e
não mais a questão do espaço. Mas desta relação, o etnógrafo teria sempre em
mente a atividade de escrita[3].
Outro
aspecto interessante relacionado ao campo é o seu caráter duplo. Isto é: para
Strathern (2014), o campo físico gera efeitos sobre a escrita, e esta re-cria o
campo, mas o efeito é, portanto, de mão-dupla, pois um está atuando sobre
outro. Além disso, se o campo é “duplo”, a escrita pressupõe uma perda, pois
não é possível que a escrita esteja em conformidade completa com o outro[4].
É
seguindo no mesmo caminho que Strather enfatiza a questão do momento
etnográfico (2014, p. 350). Para ela, se a imersão não se resuma a presença em um campo, mas também ao
efeito “retroativo” em que durante a escrita ocorra novamente a imersão, então
teríamos duas relações operantes. A primeira parece girar em torno da “tração”
entre o observado em campo e a própria trajetória (conhecimento) utilizada para
a análise, resultando na percepção do/da etnógrafo/a entre o que provém de cada
lado desta relação. A segunda é o processo de envolver esses dois lados,
chamado de momento etnográfico.
Numa
passagem clássica a autora diz que tal momento é o de junção entre o que é
entendido com a necessidade de entender (2014, p. 350). Assim, o momento
etnográfico não aparece como simples relação de sobreposição, mas como uma
relação bastante específica devedora da imersão (escrita e campo). Além disso,
esse momento é também um “artefato da análise” (p. 357). E, aqui, Strathern
parece se aproximar, novamente, de Peirano, quando aquela defende a etnografia
como uma teoria em ação (PEIRANO, 2014).
Retomando
o eixo principal deste artigo, a etnografia, parece pertinente notar que Strathern
não se propôs a distinguir a etnografia da antropologia. Há diversas passagens
que um termo para substituir ou ser sinônimo do outro (STRATHERN, 2014, p. 353/4/5/6/61).
Mas há um momento específico em que a etnografia parece paradoxalmente ser
função daquele que vai ao campo; enquanto a da antropologia, a que está no
gabinete:
Nesta última porção do século xx, os
antropólogos são tão conscientes do aparecimento e do desaparecimento das
formas sociais quanto o eram em seu início. Esta é urna das razões para eu não
pedir desculpas pelos movimentos comparativos que fiz aqui (ajustando a
exposição conjunta da Papua-Nova Guiné e da Grã-Bretanha ou, mais precisamente,
da Melanésia e da Euro-América concebidas pela etnografia)... (STRATHERN, 2014,
p. 367).
Por
outro lado, diante do que já se expôs aqui, Strathern não restringe a
etnografia ao campo; mas parece fazê-lo com a antropologia em relação ao “gabinete”.
Por isso, parece apropriado dizer que apesar de não resumir a etnografia a
“mera” descrição de outros povos, ela estaria indissociavelmente ligada ao que,
em nosso senso comum, entendemos como “pesquisa de campo”.
Chega de etnografia
Chegamos,
por fim, à definição – notavelmente polêmica – de Tim Ingold. Sua estratégia
mais recente foi de distinguir a etnografia da antropologia e, também, da
observação participante. Mas ainda há quase uma década, Ingold definia do
seguinte modo (apenas) etnografia e antropologia:
O objetivo da antropologia, creio eu, é
buscar uma compreensão generosa, comparativa, mas, nada obstante, crítica do
ser e saber humanos no mundo que todos habitamos. O objetivo da etnografia é
descrever as vidas de outras pessoas além de nós mesmos, com uma precisão e
sensibilidade afiada por uma observação detalhada e por uma prolongada
experiência em primeira mão...
(INGOLD, 2015[2011]. Grifos meus).
Mais
recentemente, Ingold (2016) tem sido mais ácido em sua crítica as semelhanças
entre etnografia e antropologia. Retomando sua comparação entre esses campos e
da observação participante “entre eles”, o antropólogo britânico tem proposto
um afastamento mais radical entre eles. Inicialmente o antropólogo associa
etnografia ao seu produto final, um documento. Ao fazê-lo, está enfatizando que
não é qualquer encontro com outras pessoas ou qualquer aprendizado com outros
que faria algo ser considerado etnográfico (se o fosse, então estar em sala de
aula enquanto professor de etnografia seria fazer etnografia! (INGOLD, 2016, p.
406). Para ele, a etnografia se concentra nessa tarefa ulterior de escrever sobre outros povos.
Em
seguida, Ingold afirma que etnografia e trabalho de campo não são sinônimos. De
um ponto de vista lógico basta dizer que se Ingold distingue etnografia de
observação participante, então nem um nem outro se resumiria ao campo. Em
acréscimo a sua separação, poderíamos pensar em pesquisas de outras áreas em
que se aplicam questionários e se entrevistam pessoas de determinado lugares:
salas de aula de Agronomia (BRITO, 2016) ou Laboratórios de Entomologia (BRITO,
2019), por exemplo. Ora, o trabalho de campo não era sinônimo de etnografia, os
fins eram outros, afinal. Segundo Ingold (2016, p. 407), o campo só emerge
quando se sai dele; mas o mesmo não ocorreria com a etnografia. Então campo
também não significa realizar observação participante, ao invés, implicaria em
um estar com o outro no mundo, em correspondência e em contemplação. O que ele
chama de compromisso ontológico.
Por
outro lado, etnografia aparece como a tentativa de elucidar o mundo da vida do
outro (INGOLD, 2012, p. 408). Assim, de um só golpe, etnografia não pressupõe o
compromisso ontológico (ou a correspondencia entre o antropólogo e seus
informantes) – que seria prerrogativa da observação participante; nem seria um
aprender e educar, presentes na antropologia. Seria, ao invés, um “compromisso”
retrospectivo em que o etnógrafo descreve (elucida) o mundo da vida do outro.
Mas resta saber, por fim, se etnografia seria um método para a antropologia e
outras disciplinas. Deixemos que o próprio Ingold responda:
[...] Enquanto ofício que envolve
escrever sobre as pessoas, a etnografia sem dúvida tem seus métodos,
como sugerido por Mill. Mas que ela seja um método, aplicado com vistas
a uma finalidade maior, é algo altamente questionável. Argumenta-se firmemente
na negativa. A etnografia tem, decerto, um valor em si mesma, e não por ser um
meio para algo que está além dela...(2016, p. 409).
Em
conclusão sobre esta última interpretação sobre etnografia, cabe dizer que a
etnografia não é considerada um método. Ela aparece como algo específico,
independente e que, claro pode servir à antropologia e outras disciplinas na
medida em que os documentos produzidos por ela podem subsidiar análises sobre,
justamente, esses modos de vida descritos pelo/a etnógrafo/a. Além disso, se
ela não é método, nem se confunde outras áreas, então classificar cada etapa de
outras pesquisas (ida a campo e escrita, momento etnográfico, deslumbramento
etc., (STRATHERN, 2014); ou “teoria em ação” (PEIRANO, 2014) seria, nos termos
de Ingold (2016), esquizofrenia. Para ele, fazer teoria seria justamente
retornar as propostas originais da antropologia.
Considerações finais
A análise
comparativa de três proeminentes especialistas na etnografia deve causar
vertigem a um aspirante à etnografia. Isso parece também indicar distinções
institucionais e regionais. Todavia, tanto ficar preso aos textos ora lidos, em
vertigem, ou nos resumir a uma evasiva sobre regionalidade e produção do
conhecimento ignoram outros aspectos que parecem também importantes.
Parece que
os/as autores/as mencionados/as possuem certos elementos em comum, mas as
oposições, principalmente com Ingold, provocam nossas definições tradicionais
sobre etnografia. Todavia, se nos aproveitarmos de alguns dos argumentos até
agora analisados, poderemos produzir uma nova interpretação. Tal exercício
parece válido na medida em que não apenas os distingue ou os aproxima, sendo
apenas mais uma interpretação, mas sim porque traz o que há de mais comum entre
eles: a hermenêutica e a agência.
Peirano parece
ter sido bem atenta a questão do movimento
comum tanto ao desenvolvimento de disciplinas, entendendo sua não perenidade
conceitual como virtude. Strathern nos trouxe a ideia da reificação resultante
do momento etnográfico, apontando
para a ideia de que tal momento produz um artefato textual. Não muito
diferente, Ingold nos disse que a descrição sobre o modo de vida dos outros
produz um documento ulterior (artefato textual?). Ao mesmo tempo, Ingold falou
sobre a observação participante como uma correspondência, um compromisso
ontológico e, sobre antropologia, trouxe sua importância como prática educativa
sobre modos de ser e de conhecer. Tudo parece apontar, apesar das nuances e
diferenças, para a ideia de que estamos diante de um consenso sobre movimento e fluxos em que a prática antropológica e etnográfica se dão. A
grande questão é se Peirano e Strathern estão atentas a diversos “momentos
etnográficos”, Ingold os desconsidera (e curiosamente o faz alegando justamente
que o momento de salas de aula não seria um “momento etnográfico”). Para ele,
parece que a etnografia se restringe “ao modo de vida dos outros”, nunca ao nosso.
Ao pensar desse modo, ele mantém seus pressupostos mais teóricos para a
antropologia e a etnografia apenas subsidiaria, quando oportuno, à
antropologia; ao passo que essa esta última, com recurso à observação
participante, poderia levar a diferentes fins. Trabalhando desse jeito,
acreditamos que Ingold ganha de um lado e perde de outro. Num sentido
pragmático parece definir fronteiras mais concretas entre as disciplinas (o que
é louvável). Mas isso também o faz ignorar que a hermenêutica que ele exerce
também é comum aos povos que ele deseja “descrever” ou com quem deseja
“aprender”. Fazê-lo, então, separa os campos, mas não olhando para si mesmo e
seus pares como “estudáveis”, ele não pode comparar seus campos tão bem
definidos com o senso comum. Algo que não passa despercebido nem à Peirano,
quando ela compara os conceitos antropológicos ao senso comum, nem à Strathern,
quando ela fala da reificação das
palavras produzindo efeitos (legais, jurídicos, políticos, antropológicos
etc.).
Por fim,
podemos dizer o seguinte: nossa interpretação gera mais um produto (um
documento). Nele, inserimos e comparamos três interpretações sobre etnografia.
Sobre este tema, levo em conta não o significado mais adequado do que seria
etnografia, mas prefiro amarrar os textos, respeitando suas diferenças, e
concluir apontando para alguns aspectos: i) a hermenêutica etnográfica produz
efeitos práticos (Strathern) e/ou documentos (Ingold); ii) se a disciplina se
desenvolve conceitualmente por confrontos e está sempre em movimento (Peirano),
então devemos notar que o que estamos fazendo não difere de outras práticas
hermenêuticas; iii) se podemos definir a etnografia como algo específico,
diferente da antropologia (Ingold), então o que talvez tenhamos que observar
não seja o exótico ou o outro, mas os efeitos decorrentes das
práticas dos atores, sejam eles Melanésios, Azande ou pernambucanos. Com essa
mudança, não prendemos a etnografia em camisas de força, pois se Ingold, por
exemplo, quer amarrá-la, perpetuando uma definição, ao mesmo tempo em que fala
da antropologia como um modo de aprender, de ser e de conhecer, então o olhar
etnográfico talvez devesse estar atento à relação entre experiência etnográfica
sobre a percepção e sua relação com os próprios espaços acadêmicos como um
campo em que os ritos (aulas) também moldam a prática etnográfica. Algo que não
passou despercebido ao menos à Peirano.
Referências
BRITO, Gabriel Ferreira de. Agrotóxicos
ou defensivos agrícolas? Um estudo sobre a posição de agrônomos/as e de cientistas
sociais sobre o uso de agrotóxicos. 2016. 60 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (monografia de Ciências Sociais) – Universidade Federal Rural de
Pernambuco.
______. Zika vírus: uma pesquisa sobre a participação da Fundação Oswaldo Cruz
no combate à epidemia de Zika. 2019a..
(Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Sociologia) 109 f .
UFPE, Recife.
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo,
Perspectiva, 1976.
INGOLD, Tim. Chega de etnografia!
A educação da atenção como propósito da antropologia. Educação, revista quadrimestral, Por Alegre, v. 39, n. 3, pp.
404-411, set-dez 2016. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/21690/15179;Chega>.
Acesso: 21 jul. 2019.
______. Estar vivo: Ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição.
Tradução de Fábio Creder, Petrópolis, RJ, Vozes, 2015a.
______. Trazendo as coisas de
volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n 37, p. 25-44, jan./jun.2012.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832012000100002>.
Acesso: 27 dez. 2017.
NÓBREGA, Terezinha Petrucia da.
Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty. Estudos de Psicologia, v. 13, n. 2, pp. 141-148, 2008. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2008000200006>.
Acesso: 22 jul l2019.
PEIRANO, Mariza. A favor da
etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
______. O encontro etnográfico. 1987. Laranjeiras, Tempo Brasileiro, 1987.
______. Etnografia não é método. Horizontes antropológicos, vol. 20, n.
42, Porto Alegre, jul-dez, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832014000200015>.
Acesso: 22 jul. 2019.
Sá-RODRIGUES, Jackson R.;
ALMEIDA, Cristóvão D. de.; GUINDANI, José F. Pesquisa documental: pistas
teóricas e metodológicas. Rev. Bras. de História & Ciências Sociais.
n. 1, jul. 2009.
STRATHERN, Marilyn. O efeito
etnográfico e outros ensaios. Tradução: Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e
Luísa Valentini. São Paulo, Cosac Naify, 2014.
[1]
Em outro texto da autora que também apareceu na cadeira (O encontro
etnográfico), a preocupação de Peirano recai sobre a questão da escrita
etnográfica diante do contexto em que ele ocorre e como a construção daí
decorrente poderia ser encarada como auto-reflexiva para, por fim, produzir uma
análise crítica da própria construção etnográfica. Algo que, no texto que ela
comenta, de Vicent Crapanzano (Waiting,
the Whites of South Africa), sobre Aparthaid,
não acontece.
[2]
Aqui é interessante antecipar que para Strathern (2014, p. 354) seria possível
“retornar ao campo...”, “do ponto de vista intelectual, para fazer novas
perguntas sobre desenvolvimentos posteriores cuja trajetória de início não eram
evidentes”.
[3]
Aqui, não há dúvidas da semelhança entre ela e, como veremos, Tim Ingold, para
o qual o objetivo etnográfico, antes de tudo, seria a escrita sobre o outro
(INGOLD, 2016).
[4]
Esta experiência não é prerrogativa apenas da escrita etnográfica. O próprio
Ingold, retomando o famoso artista plástico, Paul Klee, fala da relação entre o
criar, como vida, e seu resultado, a forma, como morte (INGOLD, 2012); já o
filósofo Merleau-Ponty, falando de outro famoso artista plástico, Henri Matisse,
(NOBREGA, 2008), trata, especificamente, da perda que ocorre na relação entre a
natureza, a arte e a percepção. Gostaria de incluir uma experiência pessoal
como ilustrativa. Trata-se da mesma relação: filho de artistas plásticos e,
atualmente, como hobby, desenhista,
tenho ensinado pessoas próximas ocasionalmente a desenhar (filhas, companheira
etc.). É incrível a experiência de observar como a transposição da natureza
(morta ou não) para as linhas no papel encontra um olhar que ainda não consegue
transportar o que vê para a perspectiva que deseja retratar, com técnicas (e
obviamente isso não é uma tarefa fácil nem para um veterano). Do mesmo modo, com
a fotografia, por exemplo, parece acontecer o mesmo. Também como hobby, tenho podido aprender com amigas
e amigos fotógrafos/as profissionais sobre rudimentos da fotografia e, assim,
mesmo em fotografias, percebemos que nossa percepção precisa ser “ensinada” e,
ainda assim, nesta relação, a intencionalidade do que deve ser percebido, sem
dúvida, tende a perder algo, como se precisássemos sempre escolher – quando
sabemos o que escolher! – como retratar! Mary Douglas sempre nos alertou para
este caráter voluntarioso da percepção, experiência e ritual (DOUGLAS, 1976, p.
51, 82, 86). Em suma: na etnografia parece não ser diferente.