Fonte: MSN Brasil. Link abaix[1]. |
Sofie (Yvonne Strahovski) – a Serena da aclamada The Handsmaid’ Tale – estrela a minissérie Estado Zero (Stateless-2020)[2]), que levou 7 anos para ficar pronta. A série narra quatro histórias que envolvem diferentes motivos e causas que levam pessoas a um centro de quarentena para imigrantes na Austrália. A série, aliás, é baseada em fatos reais. Mas existe um elemento dela que queria traçar como fio condutor: a fragilidade emocional da protagonista (Sofie).
Sofie é uma jovem australiana de
classe média. Ela tem um “emprego dos sonhos” para muitas mulheres – ao menos
na classe baixa brasileira – ser aeromoça. Sua família vive confortavelmente e
longe da pobreza, como uma família de costumes tipicamente tradicionais da
família burguesa moderna. O que falta? Sofie precisa se casar e se tornar uma
boa esposa. Segundo expectativas de sua família sobre quem ela deve ser ou se tornar.
Sofie não consegue se encontrar
com essa realidade e acaba descobrindo um tipo de culto terapêutico que vincula
“quebrar o estado emocional de alguém para refazê-lo”, sob o pretexto de que as
pessoas possuem expectativas sobre o que nós devemos ser e isso nos aprisiona e
nos faz sofrer, então devemos nos libertar e, como bebês, precisamos nos tornar
vulneráveis e nos arriscar ao mundo de novo! Metáfora poderosa, sem dúvida.
Em pouco tempo Sofie abandona o
emprego, abandona a família que, diga-se de passagem, é bastante invasiva, e se
entrega completamente a essa novidade, se abrindo à vulnerabilidade sugerida no
culto. Mais tarde, o enredo nos leva para um local, um centro de detenção no
qual Sofie aparece, alegando ser uma mochileira alemã (Eva Hoffman). Por outro
lado, a irmã de Sofie/Eva a procura desesperadamente.
Em paralelo à história de Sofie/Eva,
uma família foge do Afeganistão, pois lá, tanto a mãe quanto suas duas filhas não
teriam futuro, como enfatiza o pai, Ameer, um professor que tenta levar a família para viver na Austrália,
mas que acaba se envolvendo com um grupo de traficantes de pessoas. Isso, sem dúvida,
selará o destino de Ameer e sua família, principalmente de sua filha mais
velha, que nos lembra a história real da menina Malala.
Ao mesmo tempo em que a série
conta essas duas histórias, outras se desenvolvem, como coadjuvantes, mas duas
delas recebem mais atenção: a trajetória de uma encarregada da central de
isolamento, Clare; e um homem, Cam, que tenta melhorar de vida e aceita os
incentivos de colegas para se tornar guarda no local, mas que não faz ideia
onde está se “metendo”. De certo, a série humaniza as pessoas por trás do
centro de isolamento, que bem pode ser chamado de penitenciária para suspeitos
de terrorismo e ameaça à segurança nacional, como enfatiza Clare em certo
momento.
No final, gostaria de encerrar
enfatizando a protagonista, Sofie/Eva. O que há de comum entre ela, eu e você
(como disse a colega colunista do Soteroprosa, a Sarah, em seu post
sobre a série Dark)?
Bem, o caso de Sofie vai além do centro
de refugiados. Sua presença na “prisão” cumpre o papel de mostrar a fragilidade
do sistema de imigração australiano (e não apenas). Mas é o aspecto pessoal e
emocional de Sofie, sua fragilidade, que vai gerando uma busca por um sentido
existencial, um problema identitário, de dúvida, insegurança e confusão que a tornam
alvo de um grupo especializado em lidar com jovens nessa situação. Mais tarde,
Sofie está correndo, fugindo de algo.
O que aconteceu? Eis o eixo que
compartilhamos e que me preocupa pessoalmente: quantas pessoas, hoje, jovens,
estão vivendo uma imagem de mundo e de identidade, mas que, ao mesmo tempo,
podem estar se colocando em situações de risco e de vulnerabilidade? Eis o que
me motivou a falar sobre essa série: a preocupação com pessoas que, mais
intensamente diante da pandemia de Covid-19, andam mais frágeis e suscetíveis a
influências que, em alguma medida, ao “bagunçarem” nossa “percepção” e
identidade, podem as (nos) colocar em situações de risco que podem
temporariamente parecerem uma saída, mas, a longo prazo, podem gerar situações
que piorem nossa fragilidade?
Quanto ao importante tema da
imigração, será necessário um post à parte. De resto, prepare-se para cenas
comoventes praticamente a cada um dos seis episódios da minissérie. E,
pessoalmente, busque acolhimento com familiares, amigos e amigas, e terapeutas
certificados e certificadas, independente de se tratar da ciência institucionalizada
(psicologia) ou terapias alternativas, contanto que você possa ter certeza de
que essas pessoas sejam realmente capacitadas, pois certas orientações podem
atrapalhar mais que ajudar. Eis o caso vivido por Sofie que, não custa lembrar,
é baseado em uma história real.
Fonte da imagem: https://www.msn.com/pt-br/tv/series-de-tv/estado-zero-miniss%C3%A9rie-da-netflix-levou-7-anos-para-ficar-pronta-e-traz-hist%C3%B3ria-real/ar-BB15XLMJ
[2] Teaser: https://www.netflix.com/br/title/81206211
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