quarta-feira, 15 de julho de 2020

Estado Zero (Netflix) I: sobre a vulnerabilidade e o risco

                Fonte: MSN Brasil. Link abaix[1].

Sofie (Yvonne Strahovski) – a Serena da aclamada The Handsmaid’ Tale – estrela a minissérie Estado Zero (Stateless-2020)[2]), que levou 7 anos para ficar pronta. A série narra quatro histórias que envolvem diferentes motivos e causas que levam pessoas a um centro de quarentena para imigrantes na Austrália. A série, aliás, é baseada em fatos reais. Mas existe um elemento dela que queria traçar como fio condutor: a fragilidade emocional da protagonista (Sofie).

 

Sofie é uma jovem australiana de classe média. Ela tem um “emprego dos sonhos” para muitas mulheres – ao menos na classe baixa brasileira – ser aeromoça. Sua família vive confortavelmente e longe da pobreza, como uma família de costumes tipicamente tradicionais da família burguesa moderna. O que falta? Sofie precisa se casar e se tornar uma boa esposa. Segundo expectativas de sua família sobre quem ela deve ser ou se tornar.

 

Sofie não consegue se encontrar com essa realidade e acaba descobrindo um tipo de culto terapêutico que vincula “quebrar o estado emocional de alguém para refazê-lo”, sob o pretexto de que as pessoas possuem expectativas sobre o que nós devemos ser e isso nos aprisiona e nos faz sofrer, então devemos nos libertar e, como bebês, precisamos nos tornar vulneráveis e nos arriscar ao mundo de novo! Metáfora poderosa, sem dúvida.

 

Em pouco tempo Sofie abandona o emprego, abandona a família que, diga-se de passagem, é bastante invasiva, e se entrega completamente a essa novidade, se abrindo à vulnerabilidade sugerida no culto. Mais tarde, o enredo nos leva para um local, um centro de detenção no qual Sofie aparece, alegando ser uma mochileira alemã (Eva Hoffman). Por outro lado, a irmã de Sofie/Eva a procura desesperadamente.

 

Em paralelo à história de Sofie/Eva, uma família foge do Afeganistão, pois lá, tanto a mãe quanto suas duas filhas não teriam futuro, como enfatiza o pai, Ameer, um professor  que tenta levar a família para viver na Austrália, mas que acaba se envolvendo com um grupo de traficantes de pessoas. Isso, sem dúvida, selará o destino de Ameer e sua família, principalmente de sua filha mais velha, que nos lembra a história real da menina Malala.

 

Ao mesmo tempo em que a série conta essas duas histórias, outras se desenvolvem, como coadjuvantes, mas duas delas recebem mais atenção: a trajetória de uma encarregada da central de isolamento, Clare; e um homem, Cam, que tenta melhorar de vida e aceita os incentivos de colegas para se tornar guarda no local, mas que não faz ideia onde está se “metendo”. De certo, a série humaniza as pessoas por trás do centro de isolamento, que bem pode ser chamado de penitenciária para suspeitos de terrorismo e ameaça à segurança nacional, como enfatiza Clare em certo momento.

 

No final, gostaria de encerrar enfatizando a protagonista, Sofie/Eva. O que há de comum entre ela, eu e você (como disse a colega colunista do Soteroprosa, a Sarah, em seu post sobre a série Dark)?

 

Bem, o caso de Sofie vai além do centro de refugiados. Sua presença na “prisão” cumpre o papel de mostrar a fragilidade do sistema de imigração australiano (e não apenas). Mas é o aspecto pessoal e emocional de Sofie, sua fragilidade, que vai gerando uma busca por um sentido existencial, um problema identitário, de dúvida, insegurança e confusão que a tornam alvo de um grupo especializado em lidar com jovens nessa situação. Mais tarde, Sofie está correndo, fugindo de algo.

 

O que aconteceu? Eis o eixo que compartilhamos e que me preocupa pessoalmente: quantas pessoas, hoje, jovens, estão vivendo uma imagem de mundo e de identidade, mas que, ao mesmo tempo, podem estar se colocando em situações de risco e de vulnerabilidade? Eis o que me motivou a falar sobre essa série: a preocupação com pessoas que, mais intensamente diante da pandemia de Covid-19, andam mais frágeis e suscetíveis a influências que, em alguma medida, ao “bagunçarem” nossa “percepção” e identidade, podem as (nos) colocar em situações de risco que podem temporariamente parecerem uma saída, mas, a longo prazo, podem gerar situações que piorem nossa fragilidade?

 

Quanto ao importante tema da imigração, será necessário um post à parte. De resto, prepare-se para cenas comoventes praticamente a cada um dos seis episódios da minissérie. E, pessoalmente, busque acolhimento com familiares, amigos e amigas, e terapeutas certificados e certificadas, independente de se tratar da ciência institucionalizada (psicologia) ou terapias alternativas, contanto que você possa ter certeza de que essas pessoas sejam realmente capacitadas, pois certas orientações podem atrapalhar mais que ajudar. Eis o caso vivido por Sofie que, não custa lembrar, é baseado em uma história real.  

 

Fonte da imagem: https://www.msn.com/pt-br/tv/series-de-tv/estado-zero-miniss%C3%A9rie-da-netflix-levou-7-anos-para-ficar-pronta-e-traz-hist%C3%B3ria-real/ar-BB15XLMJ

 

[2] Teaser: https://www.netflix.com/br/title/81206211

 



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