domingo, 26 de junho de 2022

Notas sobre o livro Modos de Existência

 

O livro Modos de existência: uma antropologia dos modernos, de Bruno Latour, filósofo, sociólogo e  antropólogo, foi publicado pela editora Vozes em 2019. O original foi publicado em francês pela Éditions La Découverte, em 2012.

Para a teoria antropológica, e filosofia, destaca-se o problema com o pensamento ontológico moderno. Nisso, ele se aproxima de correntes teóricas relacionadas ao realismo especulativo e à virada ontológica na antropologia.

No tocante à antropologia, mais especificamente, Latour é considerado um autor bastante inovador e crítico das "escolas" antropológicas mais tradicionais, como a antropologia estrutural, a social e a cultural. Algo que o afasta dos conceitos clássicos de "cultura" e "sociedade", assim como da ideia de uma Natureza universal e "Representações Culturais" diferentes.

A proposta do MDE segue em consonância com a virada ontológica que o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro defende (v. Metafísicas Caninbais: elementos para uma antropologia pós-estrutural). O que significa o deslocamento teórico de problemas relacionados à epistemologia - saberes, conhecimento, representações culturais etc., - na antropologia, para questões referentes aos seres.

Sendo uma proposta baseada numa investigação ontológica, o MDE parte do pressuposto que a modernidade fundada pelo pensamento europeu e "exportada" via colonização de outros povos resumiu problemas a respeito da pluralidade do ser, e do real, a questões de conhecimento (epistemologia) - dualismo ontológico: sujeito/objeto, natureza/cultura, mente/matéria, símbolo/objeto, linguagem/mundo, representação/real etc.

Ao invés de investigar os "conhecimentos e representações de uma realidade/Natureza", e da Razão, o MDE busca identificar como a experiência concreta possui uma pluralidade de modalidades do/de ser que podem apontar para diferentes ontologias.

Ontologia, então, passa a categorizar as diferentes modalidades da experiência que podem ser, e foram, descobertas até então, por Latour, seguidores e seguidoras que desenvolveram o projeto que resultou no MDE.

Ao todo, foram quinze modos de existência, ou doze modos e três ferramentas de investigação. Cada um dos modos instaura/identifica seres particulares; e possui sua própria "racionalidade" ou critérios de considerar a experiência verdadeira ou falsa (também chamados de condições de felicidade e infelicidade). Além disso, estes seres deixam trajetórias particulares que são como pistas para sua identificação e classificação. A função investigativa é descobrir esses "rastros" deixados por essas trajetórias.

Outros pesquisadores e pesquisadoras têm descoberto (instaurado) outros modos de existência ao longo da última década; assim como há quem critique e reduza os modos de existência. Mas uma coisa é certa: o livro é seminal.  

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