segunda-feira, 5 de agosto de 2019

ESSENCIALISMO E NATURALIZAÇÃO para curiosas/os


Explicando alguns termos a partir do pragmatismo

            De acordo com um famoso filósofo e psicólogo norte-americano (William James), existe uma relação entre percepção e experiência. Em poucas palavras: “vemos as coisas de nosso jeito e isso é diferente do modo como outra pessoa enxergaria o assunto”.
Mas vamos adicionar outro pensamento a isso. Uma antropóloga britânica pesquisou (Mary Douglas) etnias africanas e temas religiosos. A partir disso, chegou à conclusão que a nossa percepção está moldada pelos “ritos” (chamo-os de “rotina”). Ou seja: agora é a experiência comum – àquelas de grupos - das pessoas que as faz enxergar e perceber as coisas de maneira semelhantes.
Cada pessoa, todavia, vive inúmeras experiências em suas vidas e, muitas vezes, ao mesmo tempo! Além disso, a própria intenção e os valores morais das pessoas parece condicionar o modo como elas chegam a um entendimento. Um filósofo alemão (Arthur Schopenhauer) dizia que nossa vontade e nossas emoções afetam até mesmo como percebemos a realidade e como lidamos com ela.
Parece, então, que chegamos a um problema – como não chegar à conclusão que “tudo se torna opinião de cada um e cada uma” e como não cair no erro de achar que “quem tem mais experiência sabe mais’ sobre a ‘verdade’”?
A resposta é bem simples: sua opinião precisa ser testada! E ela deve resistir às “provações” – quem diz isso é um filósofo e antropólogo francês (Bruno Latour). Então, se você perguntar para um estudante de antropologia ou sociologia o que é NATURALIZAÇÃO, por exemplo, ele ou ela responderão mais ou menos da seguinte maneira: é um fenômeno ou uma coisa que acontece quando alguém tem uma opinião invariável sobre um comportamento e o justifica a partir de uma alguma ideia que classifica algo como normal ou inevitável, como se não dependesse de outros fatores. Por exemplo: “a desigualdade ou diferença entre ricos e pobres, supostamente, é uma coisa NATURAL, porque sempre foi assim e sempre será”.
Diário de Pernambuco,1850, 20 (1).*


 Caso perguntem sobre ESSENCIALISMO? O RACISMO [ver foto sobre venda e posse de pessoas escravizadas de/em Pernambuco] é um ótimo – e péssimo – exemplo. Durante os séculos XIX e início do XX estava “na moda” unir a percepção da “EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES” e a noção de progresso humano e realizar pesquisas para descobrir provas dessa suposta evolução e, neste caso, sustentar a ideia de que BRANCOS seriam superiores aos NEGROS e, por isso, a COLONIZAÇÃO estaria justificada. Conclusão: a percepção essencialista se utilizava da ciência para buscar evidências e provas que justificassem uma diferença entre pessoas. Esse tipo de ideia é comum entre machistas, racistas, classistas etc., mas não somente, visto que essencialismo é, antes de tudo, uma relação entre como percebo o mundo, como o julgo, e que rotinas eu participo (você vai à universidades assistir seminários? Quais filmes assiste? Tem o hábito de ler literatura, ficção, poesia, ou filosofia? Ouve músicas instrumentais, MPB, pop, folkindie, funk, brega etc? – percebam que não é uma coisa superior ou inferior à outra: mas sim as diferentes experiências e o que elas estimulam na sua consciência; assim como uma rotina de exercícios físicos diários é um ótimo estimulante para características musculares e para a saúde e bem estar em geral, outros hábitos também o são, mas para nossa percepção e saúde mental).
É aqui que amarramos o texto! Diferentes grupos possuem diferentes percepções e, em alguma medida, você encontra diferentes experiências, mas certas semelhanças nas percepções e opiniões conforme você sai de uma discussão sobre “lugar de fala” e “gênero” e passa para um grupo discutindo sobre “Lula Livre” e “Bolsominion”. No caso do LUGAR DE FALA, por exemplo, também encontramos outros termos associados, como “PROTAGONISMO”, privilégio epistêmico etc. Mas estamos sempre falando do que já se falou antes – percepção e experiência -, mas agora estamos produzindo novos sentidos e mudando as coisas.
 Em conclusão, não estou direcionando as coisas para dizer que as experiências individuais são superiores ou inferiores. Ou que as opiniões “são de cada um” e o que conta é que “cada um tem a sua”. Estou apontando para como nossa própria percepção é moldada. Chamo atenção para a diferença entre fatos e opiniões. Chamo atenção para o singular, o único na experiência. Mas também chamo atenção para não essencializar (não generalizar) demais e classificar sempre a experiência do outro como “de grupo” e a nossa como a correta; nem também achar que a experiência individual supera a capacidade analítica de uma pesquisa – não se trata de comparar experiência individual com meses ou anos de pesquisa.

* Fonte: Hemeroteca Digital do Brasil: http://memoria.bn.br/DocReader/029033_03/115

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