quinta-feira, 22 de agosto de 2019

CORTES NO CNPq - A favor das Ciências Humanas

Circular por universidades, participar de grupos de redes sociais, assistir TV ou ouvir rádio, tem causado ansiedade e preocupação para estudantes de todo o Brasil. Tudo isso devido às recorrentes notícias sobre cortes de bolsas. Até o momento, o CNPq teve cortes de R$ 330 milhões em seu orçamento.

Os impactos desses cortes sobre Pesquisa Desenvolvimento e Tecnologia no país são assustadores. Ontem, por exemplo, foram cortadas 24 bolsas de graduação (Iniciação Científica) na UFPE. Qual a importância de uma bolsa dessas? Duas coisas vem logo de cara: 1) uma bolsa de iniciação científica é semelhante a um estágio. Ou seja: alguém que está apenas aprendendo “na teoria” tem a chance de aprender “na prática” (na minha graduação tive a oportunidade de desenvolver duas pesquisas de iniciação científica que, creio eu, foram fundamentais para me preparar para entrar no mestrado e, agora, no doutorado). 2) as bolsas são essenciais para estudantes de baixa renda (mas não somente), porque primeiramente: elas só são dadas a quem não mantém vinculo empregatício, o que, portanto, significa: ou você estuda ou você trabalha (bem sabemos como essa escolha é difícil e, na maioria das vezes, trabalhar não é uma opção, é uma necessidade; o que afasta milhões de brasileiros/as das universidades – quantas famílias não veem passar no Vestibular como a realização de um sonho? Meus avós sempre sonharam em ver filhos/as e netos/as em uma universidade. Meu pai e minha mãe – ambos artistas plásticos – também, apesar de meu pai ter falecido dois anos antes de me ver realizar o sonho dele, junto às minhas irmãs, que já cursavam nível superior).

Ainda sobre cortes, o CNPq suspendeu a oferta de 4500 bolsas que seriam concedidas a partir do próximo semestre letivo, setembro em diante. Ou seja: menos 4500 pesquisas serão desenvolvidas no Brasil devido a esse corte do governo Bolsonaro. Como se não bastasse, 84 mil bolsistas podem perder suas bolsas a partir, também, de setembro. Isto é: não são novas bolsas, são bolsas que já estão financiando pesquisas atualmente.

Por outro lado, é importante destacar que o Nordeste (#somostodosparaíbas) tem resistido. Recentemente universidades da região assinaram um convênio com universidades do Japão em prol de desenvolvimento social baseado em Tecnologias Humanas. Essa parceria será apresentada em uma solenidade que ocorrerá no próximo dia 24, no Salão Nobre da UFRPE (#ruralinda). Mas o que significa “tecnologia humana”?

Caso você esteja em alguma rede social, ou converse colegas de trabalho ou amigos, provavelmente você já deve ter ouvido alguém falar que “deviam desenvolver pesquisas úteis” e, segundo, que cursos de Humanas são cursos “ideológicos”, como aquela tal “ideologia de gênero”. Pois, bem, a primeira questão seria: útil pra quem? Segundo, “ideologia de quem”? “Nós não temos ideologia, mas “eles têm” – dizem pessoas que não foram às escolas, não foram a universidade, não tem família, não participam do mercado trabalho, não namoram, não falam nenhum idioma ou, como dizem sociólogos/as, não existem em sociedade; ou antropólogos/as, não vivem em uma cultura; ou historiadores/as, não são resultado de uma história.

Tecnologias são, antes de tudo, meios com os quais nos relacionamos para produzir alguma mudança ou adaptação a algum ambiente ou situação – seja ele um material ou uma ideia. Porém, costumamos separar “tecnologia” e “ideologias”. Na prática, dirão, uma máquina é uma coisa, uma ideia é outra coisa, só uma opinião. Mas por que será que uma das maiores potências (pasmem!) capitalistas do mundo, firma parcerias com o Brasil para o desenvolvimento de tecnologias humanas? Onde estaria a “ideologia” do Japão? É inútil tentar encontrá-la, pois o que importa é simples: o desenvolvimento humana tem na economia apenas uma de suas possibilidades; o desenvolvimento chamado social – essas tecnologias sociais – existem para, por exemplo: combater à criminalidade, capacitar pessoas para o mercado de trabalho (já ouviu falar de capital humano?), para combater à violência – principalmente contra a mulher -, para garantir o Estado de Direito, para conscientizar sobre nossa humanidade em comum, para garantir a paz, não a guerra; para promover o diálogo e a democracia; para assegurar os direitos das próximas gerações ao meio ambiente (nossos filhos e filhas etc; Para, como disse certa vez certo filósofo quando foi se perguntou: “qual o papel da Educação após o nazismo?” – e ele respondeu – “impedir que Auschwitz (campo de concentração nazista) – se repita”. Pois bem, a cultura combate o autoritarismo.
Por fim, cabe dizer que existe uma relação óbvia entre interesses e meios tecnológicos para desenvolver uma sociedade. A questão da utilidade da ciência para fins mercantis (FUTURE-SE) e o desprezo pelas ciências humanas representada pelos cortes orçamentários ao CNPq resulta ao menos em duas coisas: 1) retirar o sonho de milhares de brasileiras e brasileiros de conseguir continuar na universidade, lançando como única alternativa de sobrevivência, o abandono desse sonho (estudar ou trabalhar ); 2) no total (até agora): 4803 (com acréscimo de 194 bolsas cortadas no estado do Piauí). 

Fonte: site UOL*
Links:



Bolsas de segundo semestre - Suspensão de chamada de novas bolsas:







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