quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A favor das CIÊNCIAS SOCIAIS

    Nesse breve escrito, divido algumas conclusões de minha imersão na antropologia. Isto é: compartilho um efeito gerado em mim pelas leituras de textos de antropologia ao mesmo tempo em que analiso como as salas de aula e os livros nos ajudam a perceber coisas que antes não percebíamos e que mexem com nossas experiências e percepções pessoais.

Recentemente, num esforço, li um capítulo de “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (Olavo de Carvalho). Fiquei pensando: será que ele já leu algum clássico em sociologia, história ou antropologia? Segundo, sua retórica ou argumentação cruza o céu e a terra em um parágrafo, concluindo em como devemos nos comportar “para não sermos idiotas”. Não se encontra isso em um bom clássico de ciências sociais.

Nesses próximos 15 minutos desejo apenas dizer que a percepção de Olavo, assim como a minha ou a sua, pode ser transformada. E isso não significa doutrinada. Por acaso estudar matemática ou astronomia é ser doutrinado? Estudar biologia tampouco. Por que estudar ciências sociais e história seria? O que importa é compreender como cada área científica nos enriquece com uma maneira de perceber a realidade. Porém, tal maneira de percebê-la não significa reproduzir textos de maneira religiosa, afinal, não estamos pregando.

Luis Dumont, um célebre antropólogo francês, criou um conceito chamado de apercepção. Basicamente, dizia que na sociedade moderna, de indivíduos, a sociologia poderia demonstrar como nossa individualidade, na verdade, seria resultado de uma configuração específica de nossa sociedade “moderna”; pois em outras civilizações, como a indiana, seria a coletividade que estaria em questão. Ou seja: ter consciência dessa relação entre nós e a sociedade seria uma apercepção sociológica.

A antropóloga Mary Douglas, estudando outros povos, dizia que nossa percepção tinha relação com nossas experiências e com os rituais (chamo rotinas) em que a sociedade em questão participa. Ela também diz que nossa percepção da realidade é seletiva, pois temos certa configuração perceptiva
que selecionaria uma forma de perceber certas coisas e deixaria outras coisas de lado.

Simetria e autonomia, GB 2019
O que quero dizer, com isso, que nas aulas de antropologia, estamos diante da possibilidade de comparar diferentes sociedade e “civilizações” – como ocorre com a área da história – e, assim, contrastar diferentes percepções. Ao fazer isso, nós passamos a remodelar, caso desejemos, o modo como vemos nossa sociedade. Podemos mudar e selecionar os novos modos de perceber e enxergar a realidade. De um modo de outro, você escolherá se consegue repensar ou não sua experiência, pois, no final, isso depende da sua relação com o que você está lendo. O mesmo vale para quem ler Olavo de Carvalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Duas religiões econômicas no comércio

 - Terminei. Vamos? - Diz minha pequena. - Posso ir ao banheiro? - Diz minha segunda pequena. Alguns minutos depois, caminhamos sobre o asfa...