sexta-feira, 26 de julho de 2019

Etnografia como agência e ampliação perceptiva




Gabriel Ferreira de Brito – PPGA

GB 17 jul 2019.
Neste texto, objetivo realizar uma comparação sobre etnografia em duas autoras e um autor: Mariza Peirano, Marilyn Strathern e Tim Ingold. Tal comparação tem como objeto textos que fazem parte da ementa da cadeira de Etnografia, ofertada no primeiro semestre letivo de 2019 como cadeira eletiva na Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco. Como resultado, espero demonstrar a agência hermenêutica dos autores mencionados/as. Em conclusão, sugiro que a discussão sobre o que é etnografia devia ser encarada como um exercício constante de ampliação de nossa percepção sobre o que entendemos sobre ser humano a partir de outras percepções.

Introdução
            O método de seleção e análise foi prático, pois eficazmente já utilizado anteriormente e se constitui como análise documental das mais elementares, na medida em que não abandona os rudimentos de tal tipo de análise (SÁ-RODRIGUES; ALMEIDA; GUINDANI, 2009). Com prático, queremos dizer que seguimos as seguintes etapas: leitura “flutuante” ou geral dos textos; em seguida, os textos foram fichados em um arquivo em separado; depois disso a análise classificatória dos textos com base no tema proposto (etnografia) gerava um resultado, um produto textual. Desta feita, na primeira parte, apresento algumas definições de etnografia em Peirano; em seguida passo para Strathern; por último, comento Ingold. Em conclusão, apresento algumas comparações e proponho uma nova abordagem sobre o tema.

Etnografia: teoria viva
            Conforme texto lido e interpretado em debates em sala de aula, isto é: A favor da etnografia, neste momento, apresento a réplica (ficcional) de Peirano a um artigo escrito por um, à época, jovem australiano chamado Nicholas Thomas (Against ethnography). O pressuposto da autora, mencionado na introdução do livro é de que o desenvolvimento de disciplinas acadêmicas ocorre de maneira eficaz nos constantes confrontos, sejam com contemporâneos sejam clássicos (PEIRANO, 1995).
            É notável que no texto Peirano pareça associar sempre a etnografia ao trabalho de campo. Ela assim o faz, como veremos, devido à crítica ao “excesso” de produção de etnografias. Mas para seguir sua exposição, é preciso situar de onde parte sua crítica. Por isso, é necessário esclarecer que Peirano interpreta a própria interpretação de Thomas que sustentaria seu argumento sobre uma comparação entre passado antropológico (positivista) e presente (interpretativista) – e assim, para este autor, a quem Peirano situa na esteira pós-moderna, o presente teria produzido um excesso de etnografias (daí ele falar em pós-etnografia) deixando de lado a capacidade de propor teorias antropológicas como dantes (com a ressalva de que não se estaria propondo mais uma nomotética positivista).
            Peirano resgata Malinowski e, especialmente, Evans-Pritchard, para demonstrar que, como este último considerava a antropologia como uma tradutora, diferente do primeiro, a etnografia então seria um meio pelo qual a teoria antropológica se desenvolveria. Isso aconteceria pelo desafio que o antropólogo encontraria quando conceitos de senso comum confrontariam teoria e campo com os conceitos nativos. Dito de outro modo, Peirano coloca, nesta passagem, a etnografia como subsídio para a teoria antropológica. Mais à frente (1995, p. 42, 43), Peirano diz que a etnografia seria uma espécie de experimento. Ora, deduz-se que se a antropologia fornece as bases, o experimento então seria a ferramenta de teste em que a teoria seria posta à prova.
            É ainda no mesmo sentido que Peirano (p. 49/52) afirma que toda etnografia deveria sustentar re-análises e, mais ainda, que esse seria um critério de qualidade antropológica. Vê-se, assim, que o pressuposto da autora não é negado. Isto é: ela disse no início que o bom desenvolvimento de disciplinas acadêmicas se desenvolveria com o constante confronto com os contemporâneos ou com os clássicos. Então ela não se contradiz. Pelo contrário, mantém-se fiel a sua ideia inicial e, concordamos, demonstra que na antropologia, a etnografia aparece, justamente, como um exercício de confronto constante entre o que já foi dito, entre o que se diz, e entre o que se encontra a cada experimento etnográfico. O que, por outro lado, é ir contra o autor de “Against Ethnography”[1].
            Por último, neste ínterim, talvez caiba uma breve problematização sobre “o contexto”. Mas qual contexto? O da aula, da ementa e da participação. E aqui, quem sabe, também apareça a questão da escrita e do campo. Ora, se a ementa enquadra a discussão, mas não a esgota; e se as aulas de Etnografia podem ser encaradas como um momento em que informantes (docente e discentes) eram objeto do antropólogo (eu), mas se o antropólogo era também parte do campo, cabe então pensar na inclusão de outro texto a partir do antropólogo-informante (eu), sem esquecer que, neste caso, o leitor é outro informante (o docente ministrante da cadeira). Desta feita, trago então o texto de Peirano que encerra a definição da autora sobre etnografia – que é o que nos interessa.
            Se “A favor da etnografia” é um texto da década de 1990 e no qual Peirano fala da relação entre teoria (antropológica) e etnografia (meio para por em conflito a teoria e o campo), em “Etnografia não é método”, podemos encontrar uma mudança na própria definição de Peirano para a etnografia. Em tal texto (2014), a autora defende a etnografia como uma teoria vivida. Notar: ela não nega que a etnografia seja um meio para a teoria, mas agora incorpora um sentido adicional, pois desloca a teoria para o campo e, mas ainda, traz o campo para dentro do antropólogo ou antropóloga (PEIRANO, 2014, p. 3). Assim, a autora então expande o que se entende por etnografia. E esta expansão é que abre espaço para aproximá-la a concepção de etnografia de Marilyn Strathern (2014)[2], ao mesmo tempo em que a afastará de Tim Ingold (2012; 2015; 2016;), como veremos mais à frente.

O efeito etnográfico
            Para a antropóloga britânica Marilyn Strathern, após os anos 1990, a famosa separação entre campo e gabinete parece ter passado por uma transformação em que o tempo passou a importar mais do que o local geograficamente situado do campo e da escrita. Com a noção de tempo, a antropóloga se refere mais a questão de “isolamento ou separação” (STRATHERN, 2014, p. 345) em relação ao campo espacialmente dado. Neste sentido, para ela, a imersão se torna um fator decisivo para se pensar na etnografia, e não mais a questão do espaço. Mas desta relação, o etnógrafo teria sempre em mente a atividade de escrita[3].
            Outro aspecto interessante relacionado ao campo é o seu caráter duplo. Isto é: para Strathern (2014), o campo físico gera efeitos sobre a escrita, e esta re-cria o campo, mas o efeito é, portanto, de mão-dupla, pois um está atuando sobre outro. Além disso, se o campo é “duplo”, a escrita pressupõe uma perda, pois não é possível que a escrita esteja em conformidade completa com o outro[4].
            É seguindo no mesmo caminho que Strather enfatiza a questão do momento etnográfico (2014, p. 350). Para ela, se a imersão não se resuma a presença em um campo, mas também ao efeito “retroativo” em que durante a escrita ocorra novamente a imersão, então teríamos duas relações operantes. A primeira parece girar em torno da “tração” entre o observado em campo e a própria trajetória (conhecimento) utilizada para a análise, resultando na percepção do/da etnógrafo/a entre o que provém de cada lado desta relação. A segunda é o processo de envolver esses dois lados, chamado de momento etnográfico.
            Numa passagem clássica a autora diz que tal momento é o de junção entre o que é entendido com a necessidade de entender (2014, p. 350). Assim, o momento etnográfico não aparece como simples relação de sobreposição, mas como uma relação bastante específica devedora da imersão (escrita e campo). Além disso, esse momento é também um “artefato da análise” (p. 357). E, aqui, Strathern parece se aproximar, novamente, de Peirano, quando aquela defende a etnografia como uma teoria em ação (PEIRANO, 2014).
            Retomando o eixo principal deste artigo, a etnografia, parece pertinente notar que Strathern não se propôs a distinguir a etnografia da antropologia. Há diversas passagens que um termo para substituir ou ser sinônimo do outro (STRATHERN, 2014, p. 353/4/5/6/61). Mas há um momento específico em que a etnografia parece paradoxalmente ser função daquele que vai ao campo; enquanto a da antropologia, a que está no gabinete:

Nesta última porção do século xx, os antropólogos são tão conscientes do aparecimento e do desaparecimento das formas sociais quanto o eram em seu início. Esta é urna das razões para eu não pedir desculpas pelos movimentos comparativos que fiz aqui (ajustando a exposição conjunta da Papua-Nova Guiné e da Grã-Bretanha ou, mais precisamente, da Melanésia e da Euro-América concebidas pela etnografia)... (STRATHERN, 2014, p. 367).

            Por outro lado, diante do que já se expôs aqui, Strathern não restringe a etnografia ao campo; mas parece fazê-lo com a antropologia em relação ao “gabinete”. Por isso, parece apropriado dizer que apesar de não resumir a etnografia a “mera” descrição de outros povos, ela estaria indissociavelmente ligada ao que, em nosso senso comum, entendemos como “pesquisa de campo”.

Chega de etnografia

            Chegamos, por fim, à definição – notavelmente polêmica – de Tim Ingold. Sua estratégia mais recente foi de distinguir a etnografia da antropologia e, também, da observação participante. Mas ainda há quase uma década, Ingold definia do seguinte modo (apenas) etnografia e antropologia:

O objetivo da antropologia, creio eu, é buscar uma compreensão generosa, comparativa, mas, nada obstante, crítica do ser e saber humanos no mundo que todos habitamos. O objetivo da etnografia é descrever as vidas de outras pessoas além de nós mesmos, com uma precisão e sensibilidade afiada por uma observação detalhada e por uma prolongada experiência em primeira mão... (INGOLD, 2015[2011]. Grifos meus).

            Mais recentemente, Ingold (2016) tem sido mais ácido em sua crítica as semelhanças entre etnografia e antropologia. Retomando sua comparação entre esses campos e da observação participante “entre eles”, o antropólogo britânico tem proposto um afastamento mais radical entre eles. Inicialmente o antropólogo associa etnografia ao seu produto final, um documento. Ao fazê-lo, está enfatizando que não é qualquer encontro com outras pessoas ou qualquer aprendizado com outros que faria algo ser considerado etnográfico (se o fosse, então estar em sala de aula enquanto professor de etnografia seria fazer etnografia! (INGOLD, 2016, p. 406). Para ele, a etnografia se concentra nessa tarefa ulterior de escrever sobre outros povos.
            Em seguida, Ingold afirma que etnografia e trabalho de campo não são sinônimos. De um ponto de vista lógico basta dizer que se Ingold distingue etnografia de observação participante, então nem um nem outro se resumiria ao campo. Em acréscimo a sua separação, poderíamos pensar em pesquisas de outras áreas em que se aplicam questionários e se entrevistam pessoas de determinado lugares: salas de aula de Agronomia (BRITO, 2016) ou Laboratórios de Entomologia (BRITO, 2019), por exemplo. Ora, o trabalho de campo não era sinônimo de etnografia, os fins eram outros, afinal. Segundo Ingold (2016, p. 407), o campo só emerge quando se sai dele; mas o mesmo não ocorreria com a etnografia. Então campo também não significa realizar observação participante, ao invés, implicaria em um estar com o outro no mundo, em correspondência e em contemplação. O que ele chama de compromisso ontológico.
            Por outro lado, etnografia aparece como a tentativa de elucidar o mundo da vida do outro (INGOLD, 2012, p. 408). Assim, de um só golpe, etnografia não pressupõe o compromisso ontológico (ou a correspondencia entre o antropólogo e seus informantes) – que seria prerrogativa da observação participante; nem seria um aprender e educar, presentes na antropologia. Seria, ao invés, um “compromisso” retrospectivo em que o etnógrafo descreve (elucida) o mundo da vida do outro. Mas resta saber, por fim, se etnografia seria um método para a antropologia e outras disciplinas. Deixemos que o próprio Ingold responda:
           
[...] Enquanto ofício que envolve escrever sobre as pessoas, a etnografia sem dúvida tem seus métodos, como sugerido por Mill. Mas que ela seja um método, aplicado com vistas a uma finalidade maior, é algo altamente questionável. Argumenta-se firmemente na negativa. A etnografia tem, decerto, um valor em si mesma, e não por ser um meio para algo que está além dela...(2016, p. 409).

            Em conclusão sobre esta última interpretação sobre etnografia, cabe dizer que a etnografia não é considerada um método. Ela aparece como algo específico, independente e que, claro pode servir à antropologia e outras disciplinas na medida em que os documentos produzidos por ela podem subsidiar análises sobre, justamente, esses modos de vida descritos pelo/a etnógrafo/a. Além disso, se ela não é método, nem se confunde outras áreas, então classificar cada etapa de outras pesquisas (ida a campo e escrita, momento etnográfico, deslumbramento etc., (STRATHERN, 2014); ou “teoria em ação” (PEIRANO, 2014) seria, nos termos de Ingold (2016), esquizofrenia. Para ele, fazer teoria seria justamente retornar as propostas originais da antropologia.
           
Considerações finais
A análise comparativa de três proeminentes especialistas na etnografia deve causar vertigem a um aspirante à etnografia. Isso parece também indicar distinções institucionais e regionais. Todavia, tanto ficar preso aos textos ora lidos, em vertigem, ou nos resumir a uma evasiva sobre regionalidade e produção do conhecimento ignoram outros aspectos que parecem também importantes.
Parece que os/as autores/as mencionados/as possuem certos elementos em comum, mas as oposições, principalmente com Ingold, provocam nossas definições tradicionais sobre etnografia. Todavia, se nos aproveitarmos de alguns dos argumentos até agora analisados, poderemos produzir uma nova interpretação. Tal exercício parece válido na medida em que não apenas os distingue ou os aproxima, sendo apenas mais uma interpretação, mas sim porque traz o que há de mais comum entre eles: a hermenêutica e a agência.
Peirano parece ter sido bem atenta a questão do movimento comum tanto ao desenvolvimento de disciplinas, entendendo sua não perenidade conceitual como virtude. Strathern nos trouxe a ideia da reificação resultante do momento etnográfico, apontando para a ideia de que tal momento produz um artefato textual. Não muito diferente, Ingold nos disse que a descrição sobre o modo de vida dos outros produz um documento ulterior (artefato textual?). Ao mesmo tempo, Ingold falou sobre a observação participante como uma correspondência, um compromisso ontológico e, sobre antropologia, trouxe sua importância como prática educativa sobre modos de ser e de conhecer. Tudo parece apontar, apesar das nuances e diferenças, para a ideia de que estamos diante de um consenso sobre movimento e fluxos em que a prática antropológica e etnográfica se dão. A grande questão é se Peirano e Strathern estão atentas a diversos “momentos etnográficos”, Ingold os desconsidera (e curiosamente o faz alegando justamente que o momento de salas de aula não seria um “momento etnográfico”). Para ele, parece que a etnografia se restringe “ao modo de vida dos outros”, nunca ao nosso. Ao pensar desse modo, ele mantém seus pressupostos mais teóricos para a antropologia e a etnografia apenas subsidiaria, quando oportuno, à antropologia; ao passo que essa esta última, com recurso à observação participante, poderia levar a diferentes fins. Trabalhando desse jeito, acreditamos que Ingold ganha de um lado e perde de outro. Num sentido pragmático parece definir fronteiras mais concretas entre as disciplinas (o que é louvável). Mas isso também o faz ignorar que a hermenêutica que ele exerce também é comum aos povos que ele deseja “descrever” ou com quem deseja “aprender”. Fazê-lo, então, separa os campos, mas não olhando para si mesmo e seus pares como “estudáveis”, ele não pode comparar seus campos tão bem definidos com o senso comum. Algo que não passa despercebido nem à Peirano, quando ela compara os conceitos antropológicos ao senso comum, nem à Strathern, quando ela fala da reificação das palavras produzindo efeitos (legais, jurídicos, políticos, antropológicos etc.).
Por fim, podemos dizer o seguinte: nossa interpretação gera mais um produto (um documento). Nele, inserimos e comparamos três interpretações sobre etnografia. Sobre este tema, levo em conta não o significado mais adequado do que seria etnografia, mas prefiro amarrar os textos, respeitando suas diferenças, e concluir apontando para alguns aspectos: i) a hermenêutica etnográfica produz efeitos práticos (Strathern) e/ou documentos (Ingold); ii) se a disciplina se desenvolve conceitualmente por confrontos e está sempre em movimento (Peirano), então devemos notar que o que estamos fazendo não difere de outras práticas hermenêuticas; iii) se podemos definir a etnografia como algo específico, diferente da antropologia (Ingold), então o que talvez tenhamos que observar não seja o exótico ou o outro, mas os efeitos decorrentes das práticas dos atores, sejam eles Melanésios, Azande ou pernambucanos. Com essa mudança, não prendemos a etnografia em camisas de força, pois se Ingold, por exemplo, quer amarrá-la, perpetuando uma definição, ao mesmo tempo em que fala da antropologia como um modo de aprender, de ser e de conhecer, então o olhar etnográfico talvez devesse estar atento à relação entre experiência etnográfica sobre a percepção e sua relação com os próprios espaços acadêmicos como um campo em que os ritos (aulas) também moldam a prática etnográfica. Algo que não passou despercebido ao menos à Peirano.


Referências

BRITO, Gabriel Ferreira de. Agrotóxicos ou defensivos agrícolas? Um estudo sobre a posição de agrônomos/as e de cientistas sociais sobre o uso de agrotóxicos. 2016. 60 f. Trabalho de Conclusão de Curso (monografia de Ciências Sociais) – Universidade Federal Rural de Pernambuco.

______. Zika vírus: uma pesquisa sobre a participação da Fundação Oswaldo Cruz no combate à epidemia de Zika.  2019a.. (Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Sociologia) 109 f . UFPE, Recife.

DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo, Perspectiva, 1976.

INGOLD, Tim. Chega de etnografia! A educação da atenção como propósito da antropologia. Educação, revista quadrimestral, Por Alegre, v. 39, n. 3, pp. 404-411, set-dez 2016. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/21690/15179;Chega>. Acesso: 21 jul. 2019.

______. Estar vivo: Ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Tradução de Fábio Creder, Petrópolis, RJ, Vozes, 2015a.

______. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n 37, p. 25-44, jan./jun.2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832012000100002>. Acesso: 27 dez. 2017.

NÓBREGA, Terezinha Petrucia da. Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty. Estudos de Psicologia, v. 13, n. 2, pp. 141-148, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2008000200006>. Acesso: 22 jul l2019.

PEIRANO, Mariza. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.

______. O encontro etnográfico. 1987. Laranjeiras, Tempo Brasileiro, 1987.

______. Etnografia não é método. Horizontes antropológicos, vol. 20, n. 42, Porto Alegre, jul-dez, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832014000200015>. Acesso: 22 jul. 2019.

Sá-RODRIGUES, Jackson R.; ALMEIDA, Cristóvão D. de.; GUINDANI, José F. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Rev. Bras. de História & Ciências Sociais. n. 1, jul. 2009.

STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico e outros ensaios. Tradução: Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e Luísa Valentini. São Paulo, Cosac Naify, 2014.



[1] Em outro texto da autora que também apareceu na cadeira (O encontro etnográfico), a preocupação de Peirano recai sobre a questão da escrita etnográfica diante do contexto em que ele ocorre e como a construção daí decorrente poderia ser encarada como auto-reflexiva para, por fim, produzir uma análise crítica da própria construção etnográfica. Algo que, no texto que ela comenta, de Vicent Crapanzano (Waiting, the Whites of South Africa), sobre Aparthaid, não acontece.
[2] Aqui é interessante antecipar que para Strathern (2014, p. 354) seria possível “retornar ao campo...”, “do ponto de vista intelectual, para fazer novas perguntas sobre desenvolvimentos posteriores cuja trajetória de início não eram evidentes”.
[3] Aqui, não há dúvidas da semelhança entre ela e, como veremos, Tim Ingold, para o qual o objetivo etnográfico, antes de tudo, seria a escrita sobre o outro (INGOLD, 2016).
[4] Esta experiência não é prerrogativa apenas da escrita etnográfica. O próprio Ingold, retomando o famoso artista plástico, Paul Klee, fala da relação entre o criar, como vida, e seu resultado, a forma, como morte (INGOLD, 2012); já o filósofo Merleau-Ponty, falando de outro famoso artista plástico, Henri Matisse, (NOBREGA, 2008), trata, especificamente, da perda que ocorre na relação entre a natureza, a arte e a percepção. Gostaria de incluir uma experiência pessoal como ilustrativa. Trata-se da mesma relação: filho de artistas plásticos e, atualmente, como hobby, desenhista, tenho ensinado pessoas próximas ocasionalmente a desenhar (filhas, companheira etc.). É incrível a experiência de observar como a transposição da natureza (morta ou não) para as linhas no papel encontra um olhar que ainda não consegue transportar o que vê para a perspectiva que deseja retratar, com técnicas (e obviamente isso não é uma tarefa fácil nem para um veterano). Do mesmo modo, com a fotografia, por exemplo, parece acontecer o mesmo. Também como hobby, tenho podido aprender com amigas e amigos fotógrafos/as profissionais sobre rudimentos da fotografia e, assim, mesmo em fotografias, percebemos que nossa percepção precisa ser “ensinada” e, ainda assim, nesta relação, a intencionalidade do que deve ser percebido, sem dúvida, tende a perder algo, como se precisássemos sempre escolher – quando sabemos o que escolher! – como retratar! Mary Douglas sempre nos alertou para este caráter voluntarioso da percepção, experiência e ritual (DOUGLAS, 1976, p. 51, 82, 86). Em suma: na etnografia parece não ser diferente.

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