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Qual a doença é mais social: Covid-19 ou o vírus Zika?
- Ver post anterior: (https://form-acaoblog.blogspot.com/2020/06/qual-doenca-mais-social-zika-ou-covid-19.html)
Vou
ter que definir o social “a pedido”, digamos assim, de leitores/as acadêmicos. Um
sociólogo e uma socióloga problematizaram e deram sugestões sobre o assunto. Daí
eu tá escrevendo esse post. Pra você, contudo, que NÃO É de Ciências Sociais,
será que essa questão desperta teu interesse? Bom, espero que sim.
Os sentidos diferentes do Social na Sociologia
“Que
nem” na medicina, que precisa definir algum sentido para a palavra Saúde, ou na
economia que precisa também explicar o que é “economia”, ou também na psicologia,
a sociologia precisou, no seu início, definir o que era Social e o que não era
Social. Como qualquer uma das áreas mencionadas (medicina, economia, psicologia
etc.), na Sociologia você estudaria, basicamente, as interações humanas,
coletivamente, seja estudando o que as pessoas fazem (práticas e hábitos); seja pesquisando o que elas dizem sobre o que fazem (representações sociais). O método científico social, então, traz as regras pra que esse
campo de pesquisa possa produzir dados (provas e evidências) válidos e confiáveis
para que se alcancem resultados que expliquem “acontecimentos sociais”.
A
“bronca” é que não existe apenas uma maneira de se fazer o que eu disse sobre os
“acontecimentos sociais” na Teoria Social, pois existem várias formas de entender o
Social. Quando você vai fazer uma pesquisa, você tem que “escolher” qual o
Social parece dar conta do “perfil” da sua pesquisa. No mestrado, eu escolhi a
teoria social conhecida como teoria ator-rede. Então o “social” tinha o sentido
de “associações”. Seu criador principal foi o filósofo e antropólogo francês
Bruno Latour (tá vivo ainda).
O social da Teoria Social
Associativa
Nessa
sociologia “associativa”, nós estudamos como as coisas vão se “conectando” e “mudando”
(assim “entendemos” como a “sociedade” vai mudando algumas coisas e mantendo
outras). Tipo: no caso de Zika, que estudei, eu assistia pessoas num laboratório
da Fiocruz de Recife-PE. Aí eu, basicamente, queria entender como era o antes,
o durante e o depois de uma descoberta científica (como a ciência muda a
sociedade?). Neste caso, eu pesquisava pessoas de jaleco que, por sua vez, examinavam
mosquitos vetores do vírus Zika. No entanto, se eu fosse utilizar o sentido de
social da teoria social mais clássica, do sociólogo francês já falecido, Émile Durkheim, eu não olharia para as
conexões (tenho um capítulo em um livro publicado em que explico essa
diferença: https://onedrive.live.com/?authkey=%21AEM3ULMJHCnP%5FoE&cid=B0566265C9AAC3F8&id=B0566265C9AAC3F8%2117272&parId=B0566265C9AAC3F8%21453&o=OneUp).
O uso “social” e a “utilidade
das Ciências “do” Social
Vamos a um exemplo
para entender melhor o uso do social como associação: falo eutrofização e Zika
no post anterior, mas também falo de pobreza, política, que seriam as coisas
mais “sociais”, no sentido mais de senso comum. Porém, eu faço isso sempre
trazendo dados (provas e evidências) das conexões. Utilizar errado a teoria
social associativa é chamado de “Duplo Click”, que quer dizer que você não tem
um dado e, mesmo assim, “forja” a conexão “forçando a barra”, tipo dizendo que na
Agronomia todo mundo ama o agronegócio, por exemplo (sem dados, sem conexões!).
Falo isso tudo
porque pesquisei isso também, mas na graduação (Parte sobre Agronomia: https://form-acaoblog.blogspot.com/2018/03/monografia-parte-ii-agronomia.html).
Aliás, é o que não cientistas fazem o tempo todo no nosso dia a dia quando
falam de política, mídia etc. É nosso “hábito” comum. Mas é aí que podemos nos “gabar”
de ter “utilidade pública”, porque é exatamente o que diferencia um sociólogo
ou uma antropóloga de Weintraub (antigo ministro da Educação), por exemplo: não
estamos inventando ou forjando conexões que não existem.
Enquanto
antropólogo, no entanto, acho que devemos aproveitar essas ocasiões para
entender melhor “os outros”: o que tem além do óbvio quando alguém tá fazendo
esse tipo de coisa? Uma hipótese pessoal que cheguei foi que as pessoas parecem
ter “acordado” nas últimas duas décadas sobre o papel da mídia. Seu senso crítico
está atento, não é só mais desconfiar da política, agora você desconfia da TV
também. Isso não é uma coisa boa? Eu acho que sim. Porém, isso tem um lado
ruim, porque é dessa desconfiança que as pessoas passam a confiar mais “nos
seus olhos” e no que podem, elas mesmas, pensar, muitas vezes caindo nas fake News.
Mas uma coisa não necessariamente leva a outra (sem dados, sem conexões!)
Conclusão
Voltando ao papo para encerrar, eu acredito que a Covid-19 faz o “social” ficar visível, como se, finalmente, pudéssemos dar “matéria” ou “corpo” para o social que era só uma coisa vaga, como a Saúde, a Natureza etc. E, sendo mais “acadêmico” (filosofia), eu acho que o Social aparece como expressão-palavra de um lado (Covid-19), de outro como corpos adoecidos pela Covid-19 (essa é a parte linguística da filosofia dos franceses Deleuze e Guatarri). Ou seja: se tu ficar “seguindo” os “passos” da doença, da Covid-19, você vai poder “desenhar” a circulação dela como se fosse o “Social” que não “enxergávamos antes”, porque não tinha como a gente materializá-lo. Agora não, agora podemos “ver o social” pelo “rastro da doença”. É por isso, afinal, que o combate mais efetivo contra a doença é com a higiene pessoal, a não aglomeração “social”, o afastamento entre as pessoas, a descontaminação de objetos etc. Infelizmente, é claro, sabemos que no Brasil, aqui em Olinda, mais especificamente, as pessoas de classe baixa não podem se dar “ao luxo” de ficarem em casa por um motivo simples: irão morrer de fome, pois elas não têm renda.
Precisamos mudar esse mundo, é o que sempre digo: tem
um novo querendo nascer.
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