“Vou votar
em Fulano porque ele é do meu bairro”. Já ouvisse isso?
Pois
bem, é uma opinião que se ouve na boca de pessoas com alto ou baixo nível de
instrução; de analfabetos e letradas; de pequenos comerciantes a funcionárias
públicas ou donas de casa.
Fazendo
uma pesquisa antropológica sobre os impactos sociais da Covid-19 em um dos
trinta e três bairros do município daquela que é um patrimônio histórico e cultural da
humanidade, a saber, a cidade de Olinda, descobri que existem apenas dezessete
vagas para o cargo de vereador/a da cidade.
Oxe!
Se temos mais de 30 bairros e apenas 17 cargos de vereador, então só 17 bairros
serão contemplados nos próximos 4 anos. Ou seja: se um candidato vencer porque
prometeu ajudar seu bairro, então somente 17 bairros serão auxiliados.
Mas
e se tivermos eleitos candidatos de um mesmo bairro (três do bairro de Ouro
Preto, por exemplo)? Ora, 17 – 3 = 14. Serão 3 bairros a mais desamparados nos
próximos 4 anos.
Tudo
bem, esse papo todo parece um saco e pretensioso, talvez até arrogante: o
pesquisador dizendo o que devem fazer as pessoas que ele estuda. Mas quando o pesquisador
é também eleitor?
Bom,
da antropologia podemos extrair a lição de que é preciso compreender “o ponto
de vista” do outro (do eleitorado), no momento. Como morador, contudo, sei que
meu voto não partirá do mesmo discurso.
Ainda
com a lição da antropologia, andei pensando que “o ponto de vista” do outro é
plural, não singular. Neste sentido, vejo que esses diferentes pontos de vista
estão em grande medida relacionados à realidade vivida por cada pessoa, por sua trajetória, por suas experiências e, consequentemente, por suas percepções; com a capacidade do candidato de mobilizar
recursos e aliados em jogos de influência que utilizam, na maioria dos casos,
mas não em todos, os equipamentos públicos como mercadoria para negociação de
votos com o eleitorado (daí as pessoas dizerem: “voto no candidato que vai
ajudar nosso bairro”).
Oxe,
oxe, oxe! mas como é possível “mudar a realidade de nosso bairro” se a cada
quatro anos, o eleitorado só vota em pessoas “do seu próprio bairro” e,
portanto, sempre sobram bairros desamparados que, consequentemente, serão alvo
de campanhas que restauram precariamente espaços públicos no intento de ganhar votos
(chamo de gambiarra esse processo, baseando-me na antropologia de Fernanda Bruno
que, por sua vez, inspira-se na obra do filósofo da técnica, Gilbert Simondon)?
As gambiarras encontradas, atualmente, no bairro de Ouro Preto demonstram que candidatos vivem dessa prática enraizada no cotidiano eleitoral local.
Já o eleitorado, vivendo diferentes demandas e necessidades, chega a se engajar nesse período, como cabos políticos puxando votos para àquele que conseguir tapar o buraco da sua rua; tirar o lixo acumulado da esquina; colocar uma mão de cimento nos buracos do campinho onde nossos jovens jogam bola... sem falar dos paisagismos...
Desta relação, que bem podemos chamar de agência na teoria antropológica, as pessoas "fazem política" e disputam com outras pessoas, de outros bairros, para eleger seus próprios candidatos.
Eis uma faceta da política eleitoral olindense.
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