sábado, 20 de julho de 2019

Ubiratã e Godofredo


 Parte Final

- Vamos levar Papai e Mamãe, Bira? – falou Godô para seu amiguinho que o levou para Terra Alta e Água Grande.

- Meu povo pode não gostar, nem os peixes, porque eles falam que as pessoas da cidade não conseguem mais sonhar. – Respondeu Bira, do povo da floresta.


-Mas não posso ir sem meus pais! – Reclamou, tristemente, Godô.

 

- Tá certo, Godô, não precisa chorar. Tem um jeito. Quando eles dormirem, eles vão conseguir te ouvir. É só falar com seu coração...


 Godô esperou seu pai e sua mãe irem dormir. Ele quase não conseguiu ficar acordado. Mas quando ia pegando no sono, lembrou de Bira falando “fale com o coração enquanto eles dormem, então eles vão te ouvir”.

       Godô foi até o quarto de seus pais. Eles dormiam. Seu pai, seu Júço, roncava, e sua mãe, dona Jessi, falava “sim... sim... o feijão vai queimar”. “Coitada da mamãe, trabalha até dormindo”, pensou Godô. “Vou levar ela e papai para Terra Alta e Água Grande”.

- Pai, mãe. – Disse Godô. – Bira me mostrou Terra Alta e Água Grande. Lá, os peixes são como pessoas. E pessoas são como peixe!

- Comer peixe! – falou seu Juço, depois voltou a dormir. – Lava a panela! – agora falou dona Jessi. E também voltou a dormir.

       Godô ficou triste. Viu que seus pais não acordariam. Com apenas 8 anos, ele ainda gostava de dormir com sua mãe e seu pai quando não conseguia dormir. Deitou entre ele e ela.

“Godô, acorda!”. Disse uma pessoa com cara de peixe e com pele cheia de escamas cinzentas. – Bira tá esperando, - Godô não teve medo, porque ele sabia que não existiam coisas tristes ou más em Terra Alta e Água Grande.

- Não posso ir mais. Desculpa. Mas meus pais não acordam. – Falou Godô, com sua voz triste...

                                 

Filho, eu ouvi – falaram em alto e bom som seu pai e sua mãe! Para surpresa de Godô, que tinha lágrimas descendo pelas pequeninas bochechas cor de jambo.

       Aquele ser com cara de peixe apenas abriu as janelas do quarto, tirando as cortinas, e logo se via fora da janela, Bira, com sua pele que parecia uma maçã vermelha, agora também coberta de escamas. Atrás deles, uma montanha, ao redor, Água Grande, com peixes saltando da montanha e um sol de um lado, uma lua do outro, no mesmo dia, como se o tempo ali não existisse. Então, os pais de Godô pularam as janelas como crianças pulando o sofá e correram. Todos voltaram a sonhar novamente, porque sempre souberam, só tinham esquecido.

       Godô e Bira então deram as mãos e correram com a pessoa com cara de peixe e, assim, voltaram a ser peixes felizes novamente.






Minha preciosa Lorena,
Eu prometi terminar essa historinha que comecei enquanto colocava você pra dormir, e ainda com 7 anos você dormiu.
Hoje, você fez 8 anos! Hoje, eu lembrei! Porque nunca esqueci. Então te dou esse presente, com todo meu carinho e amor.
Feliz aniversário.

Olinda, 12 de maio de 2019.
-Gabriel Ferreira de Brito, seu pai.

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