domingo, 1 de março de 2020

A adesão das teorias pós-coloniais na perspectiva de gênero dos cursos de Ciências Sociais em Universidades Federais de Pernambuco


INTRODUÇÃO
            Este trabalho resulta de um ano de pesquisa sobre a adesão de teorias em universidades, cujo foco era a adesão dos estudos pós-coloniais no Recife. Mais especificamente, visava verificar se existia adesão desses estudos nos chamados estudos de gênero. Desse modo, pretendia responder a seguinte pergunta: como os estudos pós-coloniais chegaram e se estabeleceram nas universidades federais de Pernambuco e existe relação com estudos de gênero?
            Julgamos, a princípio, como relevante o estudo de tais temáticas, porque os estudos pós-coloniais desde a década de 1980 (BARBOSA, 2010; COSTA, 2006; DIRLIK, 1997) vem se desenvolvendo no restante do mundo e parecem estar chegando às terras brasileiras recentemente. Conforme se percebe com a criação de grupos de estudo sobre o assunto nas universidades federais pernambucanas (UFPE-sede); além de ter ganho um revista cujo objetivo seria o de divulgar e acumular pensamentos e idéias pós-coloniais[1].
            Nesse sentido, nossos primeiros passos durante o ano de 2014 foram os de começar a pesquisa bibliográfica sobre os trabalhos ditos pós-coloniais e os de gênero. No intuito de sabermos com que objeto estávamos lidando e, assim, poder coletar dados mais precisos sobre o que realmente representariam os estudos pós-coloniais. O que, por sua vez, permitiria, supúnhamos, contribuir para elencar Pernambuco no debate internacional sobre tais estudos.
            Podemos então, brevemente, saber com que objeto de estudo estamos lidando a partir de os parágrafos seguintes. Todavia, é importante ressaltar que, em fins da pesquisa, mudamos a abordagem teórico-metodológica inicial e escolhemos trabalhar com a Teoria do Ator-Rede de Bruno Latour (2000; 2008). Dessa forma, apresentaremos uma introdução breve sobre nossa abordagem, após situarmos os objetos de nossa pesquisa conforme revisão bibliográfica (abaixo).
Estudos de gênero
            Os chamados estudos de gênero só se desenvolveram a partir da segunda metade do século XX, à guisa de trabalhos seminais como o da antropóloga Gayle Rubin (1975), (Cf. HAMLIN, 2011). No Brasil, foi apenas em fins da década de 1980 que o importante artigo da historiadora Joan Scott gênero uma categoria útil de análise histórica (1995), foi difundido (SAFFIOTH, 2005).
            A época da Guerra Fria esconde um elemento muito curioso: o de que as mulheres (se é que esse termo se estabilize em algum significado) tiveram maior acesso ao Ensino Superior nesse período sem, contudo, alcançarem a mesma expressividade que detiveram no período em que os “homens” partiram para as Grandes Guerras (SHIENBINGER, 2001). Ou seja, se olharmos para o período que vai da Primeira Grande Guerra ao pós-guerra, verificaremos, ainda segundo Shienbinger (2001), que o número de mulheres que entraram em universidades foi diferente de acordo com os períodos analisados. Dessa maneira, quando do período das guerras, enquanto milhões de homens partiam para outros países para os conflitos, as universidades “abriram” as portas para mulheres. Quando estes voltaram (ou parte deles) o próprio governo norte-americano financiou, por meio de programas e incentivos financeiros (op. cit.) o retorno de homens para as universidades. Somente, então, no período da Guerra-Fria, é que as mulheres voltaram a ocupar mais vagas em universidades. É válido ressaltar, por outro lado, que o termo gênero não surge por influência de grupos feministas. Pelo contrário, o termo surge dentro de laboratórios que pouco ou nada tinham a ver com questões sobre “desigualdade entre homens e mulheres”. Em outras palavras, a “fermentação” ou adesão ao estudos de gênero poderia ter alguma relação (que não investigamos) com o desenvolvimento de lutas feministas fora das universidades[2].
O termo gênero, apesar de representar um avanço e, até os dias de hoje, ser amplamente utilizado, recebeu críticas por se contrapor, em certa medida e, de acordo com alguns/algumas autores/as (AGUIAR, 2000; SAFFIOTI, 2005; etc.) ao conceito de patriarcado.
            A partir da década de 1980, com o desenvolvimento de teorias do discurso e da corrente pós-estruturalista, segundo Hamlin (2011), tanto a construção social/cultural do sujeito mulher, tanto a diferença entre biológico e social – respectivamente sexo/gênero –, passou a ser criticada. No primeiro caso, a crítica partiu da ideia de que a universalidade de uma identidade de um sujeito mulher obscureceria diferenças de opressões e a heterogeneidade de formas de “se ser mulher”; no segundo, fora contraposta à estabilidade de um vínculo entre o sistema sexo-gênero a ideia de que não existiria uma relação direta entre tais termos, o que permitiria pensar o gênero como “flutuante”, a despeito do corpo “biológico”. O que se valoriza a partir daí, é a ideia de performance (ao menos entre os/as pós-estruturalistas). Ideia essa que coloca tanto a apreensão do que se entende por sexo, tanto o que se entende por gênero, como derivadas de práticas cultural/corporais (HAMLIN, 2011).
            Por fim, pode-se dizer que os estudos de gênero, seja em sua vertente inicial na qual o gênero é vinculado ao sexo (RUBIN, 1993), seja em sua versão pós-estruturalista, na qual o gênero e o sexo são compreendidos por meio da ideia de atos performativos (HAMLIN, 2011; BUTLER, 2008, 2011), se opuseram a ideia de um sujeito natural, que herdaria atributos em “essência” e biológicos. Portanto, a noção de que a cultura e o social se opõem ao discurso natural – essencialista/naturalizante – valorizando a contingencia e a diversidade cultural – socializante – dos “indivíduos”, que resultou em uma mudança nas abordagens e práticas científicas e políticas sobre os estudos sobre as “desigualdades entre homens e mulheres”.
Estudos pós-coloniais
            Os chamados estudos pós-coloniais dialogam ou são influenciados, em grande medida, pelo desenvolvimento dos “estudos subalternos, pelo feminismo, pelo afrocentrismo etc...” (BARBOSA, 2010, p. 57). O que acaba por situar os estudos pós-coloniais dentro de uma ampla tradição crítica em teoria social. No entanto, tais estudos também já foram alvo de crítica. Correntes feministas, por exemplo, afirmam que os estudos pós-coloniais não são novidade, em relação a questão da “colonialidade do poder”. Isto é, para Curiel (2003), tal conceito é uma teoria que tem sua razão de ser a partir de lutas “concretas” que se desenvolveram em meados do século passado, como o aparthaid na África, as lutas nos EUA contra a segregação racial e, também, pelas reivindicações de um feminismo protagonizado por mulheres negras[3].
            O argumento acima vai de encontro com a pesada crítica proferida ainda na década de 1990, pelo historiador turco, Arif Dirlik (1997), que afirma serem os estudos pós-coloniais, na verdade, uma ideologia que ofusca os verdadeiros motivos de seu sucesso contemporâneo: são resultado, segundo ele, justamente da divisão internacional do trabalho sob o capitalismo e, por isso, não são sua crítica ou seu antípoda, mas sim sua “aura”. Dessa maneira, para este historiador, os teóricos pós-coloniais estão a prestar um desserviço para o combate à hegemonia capitalista, já que se concentram em dissolver ideias “totalizadoras”, dando ênfase à subjetividade, identidade e aos indivíduos. Esquecem-se dos problemas materiais que estruturam tais relações e que viabilizam ou não o surgimento de teorias acadêmicas.
            Em Desprovincializando a Sociologia: A contribuição pós-colonial, Sergio Costa (2006) afirma que tanto estruturalistas quanto pós-estruturalistas, ignoraram o fato de que o conhecimento sempre parte de algum lugar. Isto é: todo conhecimento parte de um lugar de enunciação (no sentido literal de enunciar, emitir). Por isso, tais abordagens não percebiam que ter um lugar de enunciação pressupõe uma lógica dependente de um centro, a partir do qual se enuncia (aqui, o conhecimento científico) e, por conseguinte, surge uma periferia que, acaba negligenciada.
            É nesse sentido que a crítica e teórica indiana, Gayatri Chakravorty Spivak, sustenta que na medida em que mesmo críticos como Foucault e Deleuze, ao defenderem a crítica a um sujeito Soberano, acabaram inaugurando um Sujeito (SPIVAK, 2010). Ou seja, a crítica dos dois autores mencionados, ignora sua própria determinação geopolítica. Assim como foi dito por Costa (2006) em relação a estruturalistas e pós-estruturalistas. Do que decorre, basicamente, que os aqui criticados ignoram o papel do intelectual na divisão internacional do trabalho (SPIVAK, 2010).
            Por último, basicamente, é também lugar comum na crítica pós-colonial afirmar que existe uma relação de poder no próprio conhecimento científico. Que mesmo depois das libertações e independências de países antes coloniais, sobrevivera uma forma de dominação muito mais sofisticada que a anterior, pois não está presente mais pela força, mas por meio de classificação hierárquica de conhecimento, pessoas e espaços. A saber, a ideia de uma “colonialidade” do poder (QUIJANO, 2005).
            Os estudos pós-coloniais são muito mais complexos e ricos do que o que estamos aqui apresentando, mas a nível introdutório e, mais importante, por questões de espaço também, encerraremos esta secção e apresentaremos a Teoria do Ator-Rede, já que será a partir dela que analisamos nosso objeto de pesquisa.
Teoria do Ator-Rede
            Segundo o filósofo Fréderic Vandemberghe (2006), a filiação em que se pode situar o pensamento de Bruno Latour, um dos mais importantes pensadores dessa corrente, pode ser rastreada a partir da teoria da sociologia pragmática, de uma herança nietzscheana e, também, de uma preocupação com a questão da possibilidade da ordem social hobbesiana. Além disso, também é possível dizer que Latour (1994; 2000; 2008) está situado dentro do debate sobre agencia/estrutura (CAMILLES, BUSSULAR & ANTONELLO, 2013).
            Bruno Latour (1994; 2000; 2008), sustentamos, está tentando redefinir as ciências sociais e a sociologia. Segundo ele, essas áreas do saber não estão dissociadas das ciências da natureza. Na verdade, diz ele, esse é o grande problema: nem o social explica nada, nem a natureza esconde explicações. Tudo é construído provisoriamente tanto pela sociedade, tanto pela natureza. Em outras palavras as “coisas” da natureza (objeto-não-humanos) participam da sociedade (sujeito-humanos) e vice-versa (LATOUR, 1994). Assim, nunca podemos dizer que algo é resultado de “construção social” ou que são resultado da natureza – como descobertas em laboratórios de cientistas e engenheiros.
            Com isso, Latour (2000) diz que temos que seguir a ciência em ação, como um antropólogo segue os nativos de outros povos e descreve suas culturas. Dessa maneira, se torna possível entender as associações que ocorrem entre humanos e não-humanos que mantém o social provisoriamente ordenado. Dito de outro modo: não existe um social anterior à observação que explique as ações, como ocorreria por meio do estruturalismo (LATOUR,2008), mas também não existe uma Natureza anterior a sua própria criação artificial no laboratório. Por isso, a sociologia deve ser re-fundada, passando a ser uma sociologia das associações (LATOUR, 2012; VANDEMBERGHE, 2006).
            O trabalho do pesquisador passa a ser o de observar e descrever o que os humanos e os não-humanos estão fazendo e até onde se estende a rede que os relaciona (LATOUR, 2012). Isso determinará até onde um fato fabricado pelos cientistas se estende (IDEM, 2000). Esses humanos e não humanos podem ser tanto, de fato, pessoas quanto objetos, são coisas (moléculas, micróbios, diesel, vento, softwares etc.,). Não cabe mais dar explicações e interpretar a ação dos atores. Mas sim, dar voz a eles. Mas como isso é possível? Apenas quando os porta-vozes dos humanos e dos não-humanos falam por eles. Ou seja, cientistas podem falar por suas bactérias, enquanto os sociólogos falam pelos trabalhadores, oprimidos, por exemplo.
            Latour chama os humanos e os não-humanos que precisam de um representante ou tradutor (porta-voz) que fale em seu nome, de actantes (1994; 2000; 2001; 2008). Com isso, pretende dizer que os actantes também estão atuando tanto quanto os humanos nas associações e, sem eles, seria impossível existir associações que resultassem em relativos ordenamentos dos “coletivos”.
            “Coletivos”, por sua vez, é uma expressão utilizada para se opor à separação “natureza-cultura” e ao uso do termo “sociedade” (LATOUR, 1994). Se não existe uma sociedade, o que restam são coletivos parte natureza, parte cultura, vinculados em redes sociotécnicas (1994; 2008). Isto é, são as associações entre ciência e técnica, que compõem redes que também não deixam de ser sociais, por isso, sociotécnica (2000).
            Por último, destacamos outra palavra-chave fundamental no jargão latouriano – caixa-preta. Quando se inicia uma discordância sobre um fato, ou umacontrovérsia científica – sobre a invenção do motor a diesel, por exemplo, ou sobre se a forma da molécula de DNA seria de dupla hélice[4] – se reuniria pessoas, “recursos” e aliados (contra adversários) para se chegar a um fato, artefato ou máquina científica. O grande segredo ou mistério para nós, leigos, é que sempre recebemos a ciência pronta.Podemos até saber usar, como o mais recente iphone ou notebook, ou uma Ferrari possante, mas não fazemos ideia do caminho e dos conflitos que o fato ou a máquina tiveram que passar até chegar a seu resultado final; ou em outras palavras, tornarem-se caixas-pretas.     
            Por meio da Teoria do Ator-Rede que estudamos a adesão aos estudos pós-coloniais e sua possível relação com os estudos de gênero.


2.      OBJETIVOS
2.1.   Objetivo Geral

Analisar o grau de adesão das teorias pós-coloniais nos estudos de gênero nas universidades federais de Pernambuco.

2.2.   Objetivos Específicos
·         Analisar e descrever como as perspectivas teóricas pós-coloniais, na perspectiva de gênero, chegaram e se desenvolveram nos cursos de Ciências Sociais da UFPE e UFRPE.
·         Considerar como a teoria pós-colonial foi incorporada aos referencias teóricos na área de gênero discutidos em cursos de graduação e pós-graduação a partir da Sociologia e da Antropologia.
·         Analisar quantitativamente e qualitativamente a produção bibliográfica de monografias, dissertações e teses da UFPE e UFRPE cuja temática tenha como referencial teórico os temas de pós-colonialismo e gênero;
·         Entrevistar docentes que trabalham com tais temáticas nos âmbitos da graduação e pós-graduação;
·      Analisar as contribuições pernambucanas para o debate internacional sobre pós-colonialidade e gênero.

3.    METODOLOGIA
            Inicialmente escolhemos técnicas de coleta de dados qualitativas, como análise documental, observação participante e entrevistas. Dessa maneira, fizemos uma análise documental para catalogar a produção das universidades sobre as temáticas de gênero e de pós-colonialidade. Seguimos com observação participante em grupos de estudo, como o Curupiras UFPE-UFRPE, além do Grupo de Leitura do Mal de Arquivo UFPE. Além disso, realizamos entrevistas com docentes e discentes destes grupos no intuito de tentar captar os motivos que os levavam a aderir a pós-colonialidade e se, também, viam a possibilidade de relacionar tais temáticas.
            Desse modo, a coleta de dados por meio da entrevista semi-estruturada e da contextualização permitida por meio da observação participante, registrada em caderno de campo e posteriormente digitada, permitiu que o fenômeno estudado fosse compreendido em profundidade, opondo-se ao uso de enquetes ou questionários (GOLDENBERG, 1999). Assim, a entrevista semi-estruturada permitiu a vantagem de proporcionar uma coleta de informação de maneira mais intensiva (THIOLLENT, 1987; ANGROSINO, 2009).
            Uma das regras metodológicas sugeridas por Bruno Latour em Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora (2000), é a de chegar no campo quando os fatos ainda estão em construção. Ou seja, chegar quando cientistas ainda estão trabalhando para avaliar o risco do consumo de carne quando da ameaça da influenza aviária (HUBNER, 2014), por exemplo; ou, quando engenheiros estão fabricando uma nova forma de injeção eletrônica para motores de carros; ou ainda quando um novo software está sendo produzido para ser implementado à votação eletrônica, etc. Chegamos no momento em que os estudos pós-coloniais ainda estão se disseminando no campo observado.
            Em outras palavras, seguir os cientistas que estão por trás da adesão à pós-colonialidade nos permitiu compreender sua denúncia que abriu uma controvérsia científica. A saber: esses pesquisadores e pesquisadoras denunciam a ciência e a universidade afirmando que estes campos estão contaminados pela “colonialidade do poder” (QUIJANO, 2005). Então seguimo-los universidade afora, em nossa pesquisa. Analisando os dados que resultaram daí, de forma qualitativa (GOLDENBERG, 1999) mas sem “interpretar” o que os atores dizem e fazem, mas antes, descrevendo o que foi visto (LATOUR, 2008).

4.            RESULTADO E DISCUSSÃO
            Para discutirmos os resultados dos dados obtidos, perguntamo-nos: de onde veio a caixa-preta? Isto é, os estudos pós-coloniais chegaram de onde? Por quais mãos estão passando? Quem está trabalhando com essa caixa-preta e o que estão fazendo com ela?            Aludimos anteriormente à origem dos estudos pós-coloniais e os estudos de gênero (vide Introdução). Resgatemos então de onde vem a caixa-preta “estudos-pós-coloniais” de duas maneiras. Primeiro, da literatura que tivemos acesso, depois, a partir das entrevistas. Nosso propósito é seguir a caixa-preta e identificar os atores que estão trabalhando na produção da caixa-preta.
[...] Iniciada por aqueles autores qualificados como intelectuais da diáspora negra ou migratória [...] a perspectiva pós-colonial teve, primeiro na crítica literária, sobretudo na Inglaterra e nos Estados Unidos, a partir dos anos de 1980, suas áreas pioneiras de difusão. Depois disso, expande-se geograficamente e para outras disciplinas, fazendo dos trabalhos de autores como Homi Bhabha, Edward Said, Gayatri Chakravorty Spivak ou Stuart Hall e Paul Gilroy referências recorrentes em outros países dentro e fora da Europa. (COSTA, 2006, p. 1)
            Já o historiador Muryatan S. Barbosa acrescenta o seguinte: “as décadas de 1980-90, a crítica pós-colonial ganhou amplitude e institucionalização em diversas partes do mundo, sobretudo nas academias norte-americanas, européias (ocidentais) e indianas” (2010, p. 57). Observar: Inglaterra, Estados Unidos; depois ou concomitantemente, Europa e Índia.
            Agora, observemos quantitativamente o número de vezes que a palavra pós-colonialidade é citada no Google acadêmico, como palavra-chave em dois idiomas: português e inglês.  Esses dois idiomas foram utilizados, já que de acordo com os autores acima, não foi em países de origem portuguesa, como o Brasil ou Portugal, que tais estudos se desenvolveram. Vejamos então a partir de períodos de 10 anos, de acordo com a década inicial que se diz que os estudos pós-coloniais se difundiram (1980):
TABELA 1: Citações da palavra “pós-colonilidade” e “pos-coloniality” em três períodos divididos por década (com excessão do terceiro período) realizada no Google Acadêmico.
PERÍODO
PORTGUÊS
INGLÊS
1980-1990
7
189
1991-2000
110
3,790
2001-2015
4,500
16,300





            Em gráfico, teremos a seguinte comparação:
TABELA 2: Gráfico comparativo por períodos em escala de 0 a 2000 citações em língua portuguesa e inglesa.









            Comparativamente, observar o gráfico acima, atentando para o fato de que em países de língua portuguesa, apenas a partir de 2001, que o número supera o período correspondente a dez anos atrás, em relação a países de língua inglesa. Ou seja, em países como o Brasil, os estudos pós-coloniais parecem só ter se desenvolvido a partir dos anos 2000.
            Para esta pesquisa, realizamos uma busca por teses e dissertações no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), encontramos 36 registros apenas, de 2010 até 2015, quando a palavra pesquisada fora pós-colonialismo, 1 resultado quando procuramos por pós-colonialidade. Quando a pesquisa é refinada e só se busca trabalhos na Universidade Federal de Pernambuco, nenhum trabalho é encontrado.
            Vamos então, ouvir o que dizem os próprios cientistas que seguimos.  No intuito de saber como os atores envolvidos tiveram contato com os estudos pós-coloniais. Nosso primeiro exemplo é o de um docente da UFPE.
Fiz minha graduação aqui em História, na UFPE; depois, entre 2005 e 2007, eu fiz minha pós-graduação em Comunicação, também aqui na UFPE e em 2008 e 2012, meu doutorado em sociologia lá na UFPB...
No mestrado [2005-2007] é que houve uma disciplina que era Comunicação e cultura, que era uma disciplina oferecida por Angela Priston, e fazia parte do conjunto de bibliografia dessa disciplina. Ela tinha tido uma experiência de formação acho... o doutorado dela tinha sido na Inglaterra, em Estudos Culturais...

            No caso abaixo, uma doutoranda em sociologia nos diz como teve seus primeiros contatos com os estudos pós-coloniais.
O meu projeto não tinha nenhuma leitura de pós-colonialidade, na verdade. Eu conhecia a pós-colonialidade, eu conhecia essa perspectiva porque eu sou amiga de... A gente inclusive visitou ela, quando ela tava lá, fazendo o doutorado dela em Coimbra [...] Agente trocava ideias, a gente senta pra conversar, o que cada uma tá fazendo. E ela vinha com essa perspectiva, com Boaventura, com tudo mais...
Quando eu [entro] no doutorado [2012], aí eu pago uma disciplina com meu orientador, Paulo Henrique Martins, [...]. Onde é toda uma leitura já nisso: pós-colonial. Aí foi, poxa, foi um encantamento. Ai eu disse assim, “poxa, mas isso é muito, muito legal! Muito bacana”. E eu acho que isso enriquecia muito a perspectiva que eu queria trabalhar no projeto. Entender, inclusive, a biomedicina como um projeto colonial. Como uma colonialidade do saber. Então tem algumas perspectivas nessas abordagens, em algumas abordagens da pós-colonialidade, não só de gênero, mas também numa sociologia do conhecimento, na pós-colonialidade do saber. A questão da paradigmática, da medicina, e a medicina é um projeto colonial. É uma invenção que apesar de não sair da biomedicina, é um monopólio do saber. Aí é por isso que entra, inclusive, Boaventura, com a ecologia dos saberes e tudo mais.
            Seguindo outra entrevistada, que concluiu a graduação em São Paulo e que, atualmente, fazia parte do grupo Curupiras e era aluna de mestrado UFRPE:
Minha graduação foram quatro anos, eu entrei em 2008 e terminou em 2011[...] Assim, contato com os estudos pós-coloniais... eu não tinha essa compreensão que era uma corrente teórica, né? Mas eu tive contato com alguns autores [...] de expressão importante [...] pra teoria das pós-colonialidades. Foi com um professor que trabalhava com economia solidária, ele trabalhava muito com Boaventura...
            Percebe-se, em todo caso, o papel importante que os cientistas já formados (docentes) possuem ao passarem a caixa-preta adiante. Não nos cabe interpretar o que eles estão dizendo sobre, nem esboçar seus interesses. O que se observa é que cada ator envolvido tem seus motivos para fazê-lo. Notável, também, é a presença do ilustre Boaventura de Sousa Santos nas falas da maioria dos/as entrevistados/as.
            Continuando, agora um aluno da graduação em Ciências Sociais nos fala como teve contato com o assunto:
[...] foi com um amigo. Amigo aqui do curso. Inclusive ele tá no mestrado em antropologia. [...]  Ele [...] já falava de autores. De pós-colonialidade. A partir daí eu criei um interesse maior. Mas assim, dentro da academia, eu via poucas pessoas falando sobre a pós-colonialidade. Agora, não sei se é porque eu to mais próximo disso, mas eu vejo um pouco mais. Mas num primeiro momento eu não via na academia não [...] foi, no final de 2014.

            Unindo os números das tabelas acima, mais as entrevistas, podemos concluir que se trata de uma nova caixa-preta a circular pelas universidades federais de Pernambuco. Todavia, as qualidades intrínsecas a ela, como orienta Latour (2000), não é o que buscamos saber, mas sim tentamos seguir a produção dessa caixa-preta, nas mãos dos actantes envolvidos atualmente em sua fabricação. Ao que par
ece, chegar aqui em Pernambuco, Brasil, levou muito tempo desde sua criação no exterior. Ao chegar aqui, todavia, está seguindo seu curso, como foi possível ver nos eventos e reuniões cujo foco tem sido “estudos pós-coloniais”. Por isso, então seguimos nossos cientistas pra saber onde eles estavam levando sua caixa-preta.
            Durante a participação no Pré-ALAS, na Mesa-Redonda sobre Gênero corpo e cuidado, nossa curiosidade nos fez perguntar, já que grande parte do assunto parecia voltada para o papel da mãe na maternidade, seja no caso indígena, como exposto por algumas pessoas que estavam na mesa, perguntei aos/às expoentes, como eles/elas viam a participação, ou qual o papel do pai sobre o assunto. Também qual seria o papel do homem em relação a um assunto chamado “humanização do parto”. As respostas foram: “Paternidade é uma construção social, de fato...”; “Paternidade e cuidado. Pensar isso também sobre o aborto... Isto é, paternidade e direitos sexuais...”; “trabalhar com licença paternidade...” Aparentemente, o papel do pai não estava em questão.
            Já no GT 11 sobre “masculinidades”, que participei no 18º REDOR, intitulado de Gênero, Homens e Masculinidades, que ocorreu entre os dias 24 e 27 de novembro de 2014, na UFRPE, os porta-vozes dessa área estavam concentrados em outros actantes. Aqui, não apareciam nem “colonizados” nem somente “mulheres”, mas aparecia um actante chamado “homem”, que precisava ser representado e, ao mesmo tempo, em que questionavam se ele devia ou não participar de grupos feministas.
            É importante lembrar que um dos coordenadores do GT mencionado, é também filiado à Organização Não-Governamental (ONG) feminista Instituto PAPAI e que havia integrantes do Instituto também entre os/as expoentes, além de uma participante do Grupo de Estudo sobre Masculinidades da UFPE (GEMA).     Já no V Encontro de Ciências Sociais da UFRPE, realizado entre os dias 1 a 5 de dezembro de 2014, participamos do GT 5, sobre Pós-colonialidade. As temáticas trabalhadas variaram. Movimentos sociais, educação e política, esporte e racismo, identidade e comunidades tradicionais, identidade e marginalidade, identidade local etc. Pode-se notar, no entanto, que gênero e feminismo já não apareceram, com exceção do trabalho intitulado: “Heterocapitalismo, políticas monstruosas e nomadismo sexual: por uma política de emancipação dos corpos e extinção da civilização”.
            Mais importante, nesse caso, estávamos, tal como no primeiro caso (Pré-ALAS) seguindo os nossos cientistas pós-coloniais. Nesse GT, estudantes e professores/as dos grupos de estudo nos quais realizamos observação-participante, estavam entre participantes e coordenadores/as. Seu trabalho estava concentrado nas associações que promoviam uma forma ação que, até ali, ao menos, não incluía os atores das áreas acima (feministas porta-vozes das mulheres, e feministas porta-vozes de homens).
Seguindo a ANT (LATOUR, 2000, 2012), podemos responder nossas indagações de o início deste tópico, principalmente sobre “o que estão fazendo para que ela (caixa-preta) para que ela se torne um fato integrante de sua realidade”, da seguinte maneira: grupos que se formaram para estudos de gênero, como no caso observado da 18ª REDOR, tem trabalhado com gênero e pensado na participação de homens no feminismo (ao menos no GT observado);  já no PRÉ-Alas, também no encontro observado, homens não eram mais os elemetnos participantes do texto produzido pelas pesquisas relatadas. Disso decorre que a associação entre masculinidades e gênero (que apesar de não ser objeto de nossa pesquisa, chamou-nos à atenção) não ocorre em certas formações de grupos; já em outros sim. Também percebemos que “pós-colonialidade” participa de uma “realidade” mas não de outra, pois as teorias não estão ainda relacionadas. O que demonstra um “corte” ou ruptura na rede entre “estudos pós-coloniais” e “estudos de gênero”. Por isso, concluímos que os caminhos observados poderiam, se combinados, aumentar o seu escopo de ação em relação ao que buscam. Isto é: assim como a junção de mais cabos de fibra-ótica e postes permitem a expansão de redes de internet, assim também ocorreria – e eis uma hipótese – com a junção de “estudos de gênero” e “estudos pós-coloniais”, já que o que parecem transmitir é “combate a desigualdade entre homens e mulheres” e “combate a desigualdade entre colonialistas e colonizados”. Seu resultado contudo, só poderá ser mensurado quando, na prática, os interesses dos envolvidos forem “transladados/traduzidos” (LATOU, 2000) por novos agenciamentos. Até então, nossa hipótese continua apenas como o que é: uma hipótese não testada e, por isso, caberá aos atores envolvidos decidirem se essa associação traduz os interesses de ambos os grupos ou não. De nossa parte, como somos cientistas do social e não da natureza, não podemos manipular nossos actantes humanos tal qual agrônomos manipulam “defensivos agrícolas” ou “agrotóxicos” em seus laboratórios no combate de pragas. Mas, de nosso texto – que segundo Latour (2012) é nosso próprio laboratório – selecionamos os “elementos” (“homens”, “mulheres”, “masculinidades”, “docentes”, “discentes”, “tabelas”, “números”, “palestras”, “artigos” etc.) e trazemos quais as “reações” que ocorreram quando os elementos foram e quando não foram agrupados e, também, sugerimos a nível de hipótese, o que poderia ocorrer caso fossem combinados – como num tubo de ensaio.
            Em relação à coleta de dados documentais, foi realizada pesquisa nas duas universidades. O que nos trouxe os seguintes dados: de 78 monografias analisadas no departamento de ciências sociais da UFRPE (2011 à 2013)[1], apenas 3 abordavam os estudos de gênero e nenhuma era especificamente pós-colonial, apesar de autores reconhecidos pelos estudiosos da área, como Boaventura de Sousa Santos e Homi Bhabha aparecerem.Na UFPE, foram encontrados 13 trabalhos de pós-graduação no período de 2010 a 2012, sendo 3 de doutorado e 10 de mestrado (1 antropologia e 2 de sociologia; 2 sociologia e 8 de antropologia – respectivamente aos níveis de graduação citados) cuja temática era relações de gênero, não tendo, novamente, nenhum sobre pós-colonialidade[2]. Por isso, apenas a participação em eventos e a observação participante é que possibilitou o levantamento de dados sobre a relação entre as perspectivas pós-coloniais e de gênero na adesão de novas teorias. De todo modo, foi possível concluir que não existe adesão ou, associação, entre gênero e pós-colonialidade no campo observado. O processo parece estar ainda começando ou, talvez, nem mesmo se desenvolva.

5.      CONCLUSÕES
            Conseguimos alcançar os seguintes objetivos com nossa pesquisa:
1)A descrição geral de como a pós-colonialidade chegou, de onde veio e quais seus principais autores. Além de informar quem são os grupos que estão trabalhando com essa teoria nas universidades federais de Pernambuco (sedes), bem como observamos e, neste relatório descrevemos, o encontro realizado na UFRPE que reuniu docentes, discentes e pesquisadores/as das universidades federais de Pernambuco, não só as sedes, em dezembro de 2014. Demonstrando quais temas abordaram e, assim, como estão adicionando os estudos pós-coloniais a temáticas que antes não o incorporavam.
2) Não conseguimos seguir os atores dos cursos de antropologia e de sociologia que estão incorporando pós-colonialidade a seus referencias.
3) Conseguimos quantificar os dados sobre monografias da UFRPE de 2011 a 2014 que (não) estão trabalhando com pós-colonialidade.
4) Quantificamos a produção bibliográfica de teses e dissertações da pós-graduação da ciências sociais da UFPE.
5)  Não encontramos associações entre pós-colonialidade e gênero no campo observado.
6) Conseguimos realizar entrevistas com docentes e discentes e, assim, foi possível descrever como eles estão utilizando e passando a frente os estudos pós-coloniais.
7) Conseguimos identificar que Pernambuco está contribuindo para o debate internacional sobre pós-colonialidade por meio da revista Realis, criada 2011 com apoio da UFPE. Além de, no ano de 2014, ter realizado o Pré-Alas 2014, que reuniu pesquisadores brasileiros e estrangeiros (como argentinos) para debater sobre o desenvolvimento dos estudos pós-coloniais.
            Com isso, concluímos indicando que, caso seja do interesse dos envolvidos e envolvidas, promover o diálogo entre estudos de gênero e pós-colonialidade, os docentes devem se posicionar para promover encontros de tais áreas. Além de, como foi observado, devem se unir a instituições de fomento, como a própria FACEPE, por exemplo, que financiou a pesquisa que ora apresentamos. Acrescentamos que os pesquisadores de tais áreas poderiam continuar desenvolvendo seminários, criando grupos de estudo e, quem sabe, incorporando os estudos pós-coloniais nas grades curriculares dos cursos – em cadeiras obrigatórias, por exemplo, como em “Sociologia Contemporânea”.
            Nesse sentido, acreditamos que nosso trabalho “mapeou” o curso que está seguindo a rede de atores que estão envolvidos com pós-colonialidade. Fornecendo dados para futuras pesquisas que pretendam dar continuidade a pesquisas nessa área. Por conseguinte, futuras pesquisas dessas áreas podem investigar quaisáreas, não somente as ciências humanas, que estão dialogando com os estudos pós-coloniais e, também, se tais estudos podem dialogar e contribuir com projetos de extensão que vinculem a universidade a outraspopulações não-acadêmicas.

6.      DIFICULDADES ENCONTRADAS
            Um dos problemas encontrados no decorrer da pesquisa foi justamente o período de fim de ano. Com férias e recessos, as atividades em certos grupos foram bastante espaçadas e proteladas. Com o recesso e paralisação para o carnaval de 2014, por exemplo, entrevistas foram canceladas.O fim de período letivo, por sua vez, foi o momento em que as avaliações na UFRPE ocorreram. Daí que, a necessidade de estudar para tais avaliações, a entrega de artigos etc., fez com que a pesquisa também tivesse que passar por interrupções.
            Outro problema que, de fato, pesou muito para o desenvolvimento da pesquisa, foi a carga bibliográfica necessária para a compreensão das temáticas estudadas. Cremos que a leitura anterior e a participação em eventos, publicação de trabalhos etc., que já realizamos, facilitou assuntos referentes a gênero. Por outro lado, estudar pós-colonialidade tem sido extenuante em conjunto com as outras demandas da pesquisa. Além de, no final, mesmo que tenha se tornado positiva os estudos paralelos realizados pelo bolsista sobre a obra de Bruno Latour, isso ter embargado um pouco tanto o rendimento na graduação, quanto, possivelmente no restante da pesquisa.

7.      ATIVIDADADES PARALELAS DESENVOLVIDAS PELO BOLSITAS

·         Participação na mesa-redonda sobre Voto Crítico e Democracia Radical, realizada pelo grupo de estudo Curupiras: Colonialidade e Outras Epistemologias, realizado no mês de novembro de 2014, na UFPE.
·         Apresentação de comunicação oral, no GT 5 da V Semana de Ciências Sociais da UFRPE, com o resumo expandido: Estado colonialista: sobre voto-nulo, urnas eletrônicas, híbridos, arquivo e a descolonização do saber[3].
·         Participação no 18º REDOR, em co-autoria com uma integrante do Instituo PAPAI, com a comunicação oral na forma de resumo expandido: Masculinidade e descumprimento da “lei do acompanhante”.
·         Artigo publicado nos anais do 18º REDOR e no V Coloquio de Varones e Masculinidades realizado na Faculdade de Ciências Sociais – FACSO do Chile,também em co-autoria com uma integrante do Instituto PAPAI, com o titulo de Masculinidade e o descumprimento da “lei do acompanhante” no Brasil.
·         Participação no 19ª Jornada de Iniciação Científica: Cidades Inteligentes da FACEPE, o início de uma nova era. Com a apresentação oral do Resultado Final de nossa pesquisa.

8.      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COSTA, Sérgio. Desprovincializando a sociologia: a contribuição pós-colonial. Rev. Brasileira de Ciências Socias, v. 21, n 6, fev/2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext. Acesso em: 28 mai. 2015.
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BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 2ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008. AGUIAR, 2000
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[1] Devido a problemas de organização documental na UFRPE, não foi possível acessar todo o material pretendido da graduação em Ciências Sociais que corresponderia ao período de 2010 a 2015. Além disso, a UFRPE não conta com pós-graduação em Antropologia e nem em Sociologia, áreas que recortamos para a análise, já que o campo ficaria muito grande caso desejássemos coletar dados referentes a toda a pós-graduação. Por isso, analisamos a pós-graduação nestas áreas apenas na UFPE e por meio do banco de dados eletrônicos da CAPES. No entanto, novamente por questões de organização documental, não foi possível analisar todo o período desejado, posto que só se encontra disponível para consulta eletrônica, dados de 2010 a 2012. Entretanto, outros campos, como pós graduação em Comunicação, contava com trabalhos sobre pós-colonialidade.
[2] Na metodologia, informo que encontramos 1 trabalho sobre pós-colonialidade e 1 sobre pós-colonialismo. No entanto, no caso acima, nosso filtro era especificamente sobre nosso recorte, a saber, nas pós-graduações de Antropologia e de Sociologia, apenas.
[3] Tanto na V Semana de Ciências Sociais da UFRPE quanto na Mesa-Redonda sobre democracia realizado pelo grupo de estudos “Curupiras: colonialidades e outras epistemologias”, experimentou-se,enquanto referencial teórico, o uso de Jacques Derrida (2002), objeto de estudo de um dos grupos de estudo no qual se realizou a observação participante.
 




[1] Ver o site da Revista Realis: revista de estudos anti-utilitarista e de estudos pós-coloniais. Criada no ano de 2011. Site: http://www.revista-realis.org/
[2] Esse raciocínio vai de encontro com a idéia sugerida por Bruno Latour (2000), segundo a qual fatos, máquinas e artefatos vão se construindo dentro de associação de atores em rede por meio do “tradução/deslocamento” de interesses. Ou seja, um fato deve ser investigado conforme a rede que o sustenta. Se não há extensão da rede por meio da agregação de outros atores, o fato não existe por fora da rede. Por exemplo, a rede telefônica não pode ligar um pernambucano a um xamã fulni-ô em Águas Belas se lá não há rede telefônica. Tampouco posso consultar o horário “mundial” sem ter um relógio com bateria no pulso; não poderia ajustá-lo sem ouvir o horário na rádio local, para medir a exatidão do horário e assim sucessivamente. O mesmo deve ser feito quando observamos a rede que utiliza o termo gênero – e seu enunciado “relações sociais”, “papeis sociais”, “construção cultural” etc. em oposição a “naturalização”, segundo a qual ser homem ou mulher seria um dado natural-sexual – se tal termo não encontra adesão na mão dos atores finais, então a rede não se estende. Ou seja, “relações de gênero” (entre aspas) só é fato dentro de uma rede de interesses associados; na medida em que relações de gênero saem das universidades e laboratórios científicos, assim como um relógio fabricado dentro de uma fábrica só pode ser utilizado se as pessoas começarem a utilizá-lo. Veja-se, por exemplo, o caso de levar os estudos de gênero para a Educação Básica.
[3] Sobre o conceito de “colonialidade”, ver seu inventor, Anibal Quijano (2005).
[4] Tanto este exemplo quanto o caso da invenção do motor a diesel são exemplos utilizados pelo próprio Latour (2001).

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