quarta-feira, 28 de abril de 2021

Teoria ator-rede: medi-ação

 


O que é um mediador na teoria do ator-rede?

            Mediadores são objetos, coisas ou pessoas que, num curso de ação, transformaram alguma coisa em outra. Então um computador pode apenas ser um intermediário, um objeto funcionando normalmente. Mas quando ele quebra, ele precisa ser consertado. Então temos uma situação diferente, na qual o computador deixa de trabalhar e, assim por exemplo, não posso vender meu curso!

            Então... com meu conhecimento funcional de informática, consigo restaurar o disco (HD), vejo que ele tá lento ainda e, por isso, elimino uns programas fora de uso, transfiro dados para um HD externo etc. O computador voltou a funcionar satisfatoriamente. Então, onde está a mediação?

            São duas ações. Na primeira, o computador participa da minha venda de cursos, é um ator, portanto, mediador desta ação. Na segunda ação, de conserto, a mediação está nas ações de reparo e manutenção, mas ainda assim o computador está interagindo. Portanto, se ele inter-age com você, por que só você estaria agindo?

            Mas vamos para o exemplo do meu post anterior, com um objeto mais “duro”, menos “animado”: um livro de História da bruxaria. Uma editora, um grupo de pessoas, financiamento e ideias, assim como intenções, e “energias”, foram empregados em sua feitura. A ação, aqui, envolveu tinta para impressão, máquinas de impressão, gráficas, computadores, autores/as etc. O segundo passo está na circulação do livro, sua mercantilização. Algo impossível antes da invenção da prensa tipográfica moderna.

            O livro é comprado, nesse mercado. Seja ele capitalista ou não, o livro foi comprado. Quem sabe para presentear uma neopagã, mas de outro país? A ação, aqui, é do livro chegando às mãos de alguém. Já são duas ações. Vamos a mais uma.

            Um pesquisador, eu, pesquisa outro “mediador” ou ator: um vírus e a Covid-19. Numa conversa, consegue emprestado o livro. É outra ação que levou a essa “conexão”. Mas, de um modo macro: a ação se conectou à ação/agência de pessoas e coisas que fizeram o livro em solo norte-americano. Nós, sul-americanos, recebemos o livro. Qual sua ação?

            Ele transporta a ação dos Estados Unidos para o Brasil. Sua mediação consiste na transformação das palavras, ideias e interesses de lá, para cá, em formato de livro. Sua ação/agência/mediação é esse longo percurso que se faz até minha mesa de trabalho. Quando, finalmente, conserto meu computador, inicio uma busca noutra “rede”, mas essa não é como “ator-rede”, ela funciona em conexão constante com o mundo inteiro. Digito algumas palavras na aba do browse e sou “linkado” com o sitio digital criado pelas mesmas pessoas que aparecem no livro que tenho ao lado do meu teclado. Agora é o meu computador interagindo com as informações que digitei nele e que vieram do livro. Todavia, quando sou direcionado para o site, algoritmos do Google estão transferindo informações para grandes bancos de dados, e por aí, outras ações vão se desenvolvendo.

            É esse processo todo de interação envolvendo livros, Google, internet, computadores, bruxas, “energias”, e interesses diversos que chamamos de mediação, não “intermediação”. São esses “não-humanos” (exceção às bruxas), que interagem conosco. A teoria do ator-rede é, portanto, uma teoria que leva em consideração essa ação não-humana como parte da descrição necessária de pesquisa. Não basta se interessar, por exemplo, com as bruxas, melhor dizendo: a parte humana da ação, as neopagãs, os editores do livro, Sundar Pichai, CEO do Google, ou comigo fazendo pesquisa e digitando essas palavras!

            A mediação, por fim, é essa cadeia de ação em que os actantes (atores humanos ou não humanos) são todos levados em consideração, como inter-atores, transformando a realidade de palavras, energia e interesses, em texto impresso (livro), ou bytes (Internet) alimentados por energia elétrica, armazenados nos bancos de dados do Google, do Instagram, do Facebook.

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