terça-feira, 25 de junho de 2019

Crônica sobre migalhas e desinformação

G. Brito
Por do sol sobre a mesa. G. Brito, 2019

 - Se fosse no governo de Dilma, ninguém falaria nada – diz um homem na casa dos trinta e poucos.

- Claro que faria! Passamos meses de greve na época – seu interlocutor responde com autoridade de quem fazia graduação na época.

      Entra um terceiro participante e diz:

- eu não teria bolsa de estudos devido aos cortes! Os programas na área de Educação de governos anteriores me ajudaram a estudar, mas agora a situação política está sendo alterada.

            Desta breve conversa desenvolvida entre instrumentos musicais e bebida, ilustramos uma relação entre três coisas: 1) política; 2) vontade/emoção; 3) informação/conhecimento. Creio que o mais importante elemento dos três é o segundo: a vontade/emoção.
            Quando falo em vontade e emoção estou pensando em A. Schopenhauer (1788-1860). O que significa que estou pensando no ato de conhecer o mundo e como representá-lo. Por isso, não é possível retirar, para Schopy, a vontade/emoção desse processo, pois somos afetados por mudanças de humor que podem alterar as nossas capacidades de conhecer.
            O terceiro elemento, por outro lado, traz a realidade para o centro do debate. Se somos afetados por nossos estados emocionais e vontades, desejos, então as informações ou conhecimentos disponíveis entram como nossos combustíveis. Aí é que entra uma questão também de primeira ordem: quais fontes utilizamos?Como escolher entre diferentes opiniões?
            Na conversa ilustrada acima, os testemunhos dos estudantes lhes permitia conhecer o assunto, pois viveram a época. Mas o homem de trinta e poucos anos que lançou o argumento mencionando a então presidenta Dilma, não se referia ao assunto em si – se aconteceu ou não -, mas às pessoas que defendem Dilma e que atacam o governo atual. Ou seja: a ligação entre informação e política, aqui, é menos importante que a vontade/emoção de nosso interlocutor.
G. Brito
Migalhas. G. Brito, 2019.

     A política, primeiro elemento mencionado, por fim, é resultado da relação entre vontade/emoção e conhecer/informação. No fundo, não levamos a sério o outro ou, em nosso egocentrismo e no narcisismo social de nossa época, estamos banalizando as tecnologias de comunicação, assim como descredibilizando conhecimento científico, confundindo-o desonestamente com “questão de opinião”. Somos pombos atrás de migalhas, mesmo quando poderíamos voar alto e sair da miséria.


      Recentemente assisti um blogueiro e jornalista criticando o The Intercept e o Glenn Greenwald. Ele dizia para “não perderem tempo pesquisando sobre o assunto, pois ele mesmo já o fizera” e concluiu que era uma coisa que se reduzia aos interesses ‘petistas’ e ‘psolistas’ do Gleen. Absurdo: primeiro ele banaliza os meios de comunicação e as informações que estão sendo divulgadas por jornalistas; segundo, ele faz o que chamamos no campo da lógica de falácia ad hominem, isto é: não considera o argumento, mas sim quem está falando. Em outras palavras, ele diz pra você não pesquisar sobre o assunto e que o cara que está por trás não tem credibilidade nenhuma. Resultado: você ignora o conhecimento/informação devido a uma vontade/emoção coletiva de simpatizantes e, assim, defendem seus posicionamentos políticos como fieis seguindo pastores e padres numa igreja.
           


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