Por do sol sobre a mesa. G. Brito, 2019 |
- Se fosse no governo de Dilma, ninguém falaria nada – diz um homem na casa dos trinta e poucos.
- Claro que faria! Passamos meses de greve na época – seu interlocutor
responde com autoridade de quem fazia graduação na época.
Entra um
terceiro participante e diz:
- eu não teria bolsa de estudos
devido aos cortes! Os programas na área de Educação de governos anteriores me
ajudaram a estudar, mas agora a situação política está sendo alterada.
Desta
breve conversa desenvolvida entre instrumentos musicais e bebida, ilustramos
uma relação entre três coisas: 1) política; 2) vontade/emoção; 3)
informação/conhecimento. Creio que o mais importante elemento dos três é o
segundo: a vontade/emoção.
Quando
falo em vontade e emoção estou pensando em A. Schopenhauer (1788-1860). O que significa que
estou pensando no ato de conhecer o mundo e como representá-lo. Por isso, não é
possível retirar, para Schopy, a vontade/emoção desse processo, pois somos
afetados por mudanças de humor que podem alterar as nossas capacidades de
conhecer.
O
terceiro elemento, por outro lado, traz a realidade para o centro do debate. Se
somos afetados por nossos estados emocionais e vontades, desejos, então as
informações ou conhecimentos disponíveis entram como nossos combustíveis. Aí é
que entra uma questão também de primeira ordem: quais fontes utilizamos?Como
escolher entre diferentes opiniões?
Na
conversa ilustrada acima, os testemunhos dos estudantes lhes permitia conhecer
o assunto, pois viveram a época. Mas o homem de trinta e poucos anos que lançou
o argumento mencionando a então presidenta Dilma, não se referia ao assunto em
si – se aconteceu ou não -, mas às pessoas que defendem Dilma e que atacam o
governo atual. Ou seja: a ligação entre informação e política, aqui, é menos
importante que a vontade/emoção de nosso interlocutor.
Migalhas. G. Brito, 2019. |
Recentemente
assisti um blogueiro e jornalista criticando o The Intercept e o Glenn Greenwald.
Ele dizia para “não perderem tempo pesquisando sobre o assunto, pois ele mesmo
já o fizera” e concluiu que era uma coisa que se reduzia aos interesses ‘petistas’
e ‘psolistas’ do Gleen. Absurdo: primeiro ele banaliza os meios de comunicação
e as informações que estão sendo divulgadas por jornalistas; segundo, ele faz o
que chamamos no campo da lógica de falácia ad hominem,
isto é: não considera o argumento, mas sim quem está falando. Em outras
palavras, ele diz pra você não pesquisar sobre o assunto e que o cara que está por
trás não tem credibilidade nenhuma. Resultado: você ignora o
conhecimento/informação devido a uma vontade/emoção coletiva de simpatizantes
e, assim, defendem seus posicionamentos políticos como fieis seguindo pastores
e padres numa igreja.
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