quinta-feira, 22 de março de 2018

No lago das ninfeias: por que determinados autores e autoras não estão entre os cânones da Sociologia?[1]



Gabriel Brito[2]

Resumo

O objetivo deste artigo foi identificar as contribuições que determinados autores, à margem dos chamados clássicos em sociologia, poderiam fornecer para tal área, segundo comentadores. Concatenado a este objetivo, neste artigo também buscou-se inferir quais motivos poderiam estar por trás do processo de aceitação/difusão do conhecimento científico. A unidade de análise selecionada foi a ementa da disciplina Teoria Sociológica I, do primeiro semestre letivo de 2017, do mestrado em Sociologia da UFPE. Para realizar tal análise, optou-se pelo uso da técnica de leituras sucessivas referente à análise documental e pesquisa bibliográfica. Os seguintes trabalhos foram selecionados: Mehmet Soyer & Paul Gilbert (2012); Syed Farid Alatas (2006); Ali Arazeem Abdullahi & Bashir Salaw (2012); Bjørn Thomassen (2012). Após seleção e classificação do material segundo os critérios pré-estabelecidos, elaborou-se um roteiro de análise simples e flexível contendo os seguintes itens: tema; objetivo; conceitos; conclusão; contribuições do título para o estudo; crítica e comentários. Como resultado, foi identificado que os comentadores se utilizam de argumentos teórico-metodológicos em alguns casos; noutros recorrem a questões geopolíticas; e, ainda, também cruzam interesses pessoais envolvidos no processo de disputas acadêmicas, no intuito de resgatar os pensamentos dos autores por eles escolhidos. Conclusão: existiriam três elementos fundamentais que não poderiam ser ignorados quanto à instituição de um campo de saber: 1) a língua e idioma; 2) o local; 3) as técnicas de comunicação.

Palavras-chave: clássicos-da-sociologia. Émile-Dukheim. Ibn-Khaldun. Gabriel-Tarde. Arnold-van-Gennep.
Introdução
            Atualmente, no Brasil, a área de ciências sociais conta com inúmeras graduações e pós-graduações, diferente de algumas décadas atrás[3]. Em tais graus de ensino, é obrigatório conhecer os chamados clássicos da área – jocosamente conhecidos como os “três porquinhos” -, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. August Comte, todavia, é normalmente reconhecido como o pai fundador da sociologia (mas não quem institucionalizou tal campo). Todavia, nas escolas, no ensino médio, tais autores também estão presentes nos livros didáticos. Na esteira do espírito crítico incentivado na área de ciências sociais, pergunto: por que estes autores e não outros e outras? Existem outros e outras? E por que, ainda, somente os três porquinhos continuam sendo o horizonte de nosso conto de fadas (nesses tempos de Shreck e Fionna)[4]?
            Tal como não é possível reconhecer a extensão das raízes, e a espécie das plantas pintadas na famosa pintura de Monet – o lago das ninfeias -, o mesmo acontece quando somos apresentados, enquanto graduandos e graduandas, à sociologia – não sabemos até onde se estende a toca do coelho, nem que criaturas vivem às sombras dos personagens principais de nossa área. Neste artigo, mergulho no lago das ninfeias sociológicas, buscando “identificar as contribuições que determinados autores, à margem dos chamados clássicos em sociologia, poderiam fornecer para tal área, segundo comentadores”. Como unidade de análise, selecionei a ementa da disciplina Teoria Sociológica I, do primeiro semestre letivo de 2017, do mestrado em Sociologia da UFPE.

 Metodologia
            Seguindo orientação de trabalhos da área de análise documental (Sá-SILVA, ALMEIDA, GUIDANI, 2007) e de análise bibliográfica (LIMA & MINHOTO, 2007), analisei o material a partir de leituras sucessivas. Na primeira análise, obtive os seguintes dados: a ementa dispõe de 32 títulos (dentre livros, capítulos de livros e artigos). O material deveria ser utilizado em 15 aulas; contudo, devido a imprevistos, nem todos os trabalhos foram utilizados nas aulas, restando 31 títulos[5]. Deste total encontram-se: 10 títulos dos próprios autores abordados como clássicos[6]; e 21 trabalhos de comentadores. Destes, 18, a priori, parecem pertinentes para a análise, cujo critério era; “abordar autores não clássicos”. O segundo passo para a análise foi uma leitura mais criteriosa, para “enxugar” o material para a análise sistemática do conteúdo. O critério de seleção nesta fase foi não apenas abordar os não clássicos, mas, também, que buscassem “identificar as contribuições de tais autores, em comparação com os clássicos, para a sociologia”. Dos títulos que atendiam a tais critérios, restaram 4: Mehmet Soyer & Paul Gilbert (2012); Syed Farid Alatas (2006); Ali Arazeem Abdullahi & Bashir Salaw (2012); Bjørn Thomassen (2012). É sobre eles que o presente artigo se debruça. Mas, antes de prosseguir, é importante dizer que após a seleção destes textos, foi feita uma análise reflexiva e crítica do material, na qual foi adotada a criação de um instrumento – como sugerem Lima & Mioto (2007) - para realizar uma análise que classificasse o conteúdo conforme o objetivo proposto para o trabalho. Tal roteiro possuía os seguintes itens: tema; objetivo; conceitos; conclusão; contribuições do título para o estudo; crítica e comentários.



            Mehmet Soyer e Paul Gilbert, em “Debating the origins of sociology Ibn Khaldun as founding father of sociology” (2012), examinam se é legítimo afirmar que Khaldun poderia ser considerado, realmente, um “pai fundador” da sociologia. Para eles, Khaldun teria dominado os fundamentos da sociologia, nada mais nada menos, que cinco séculos antes que August Comte cunhasse tal termo. Além desse aparente interesse em comum pela “sociologia”, há muito mais que isso. Em “Ibn Khaldun and contemporary sociology” (2006), Syed Farid Alatas compara, à guisa de Baali (1986, p.39-32 apud ALATAS, 2006, p. 786) os dois possíveis pais de uma filha sem mãe:
·         Ambos enfatizam um método histórico e não propõem um método estatístico;
·         Ambos distinguem sua ciência de quem os precedeu;
·         Ambos acreditam que a natureza humana é a mesma em qualquer lugar;
·         Ambos reconhecem a importância da mudança social[7];
            As aproximações acima não são suficientes para encerrar o assunto. Soyer & Gilbert (2012) destacam outros aspectos semelhantes entre o pensamento de Khaldun e o de Comte: Khaldun afirma que a sociedade surge e decai em um ciclo de três etapas, nas quais se tem um processo de acúmulo de recursos primários, depois uma fase de assentamento (settelment) e, por último, vem a decadência e/ou senilidade (senility); Comte também concebe três etapas de desenvolvimento na sociedade, são elas: um estágio inicial, teológico, um metafísico e, por último, o científico (positivista).
            Outro aspecto destacado é em relação à explicação dada por Khaldun e Comte para seus métodos, histórico-empíricos. Segundo nossos comentadores (SOYER & GILBERT, 2012), por meio da observação e experimentação – de acordo com Comte -, seria possível inferir relações de causa e efeito nos fenômenos estudados; Khaldun, por sua vez, também teria um método de análise histórico-empírico para verificação da duração de uma sociedade durante algum tempo.
            Tais aproximações são bastante interessantes, mas ficam ainda mais estimulantes quando Khaldun é aproximado de nossos “três porquinhos”. Além de poder ter antecipado alguns insights que apareceriam quatrocentos anos mais tarde no pensamento de Adam Smith – em relação à dependência que os seres humanos teriam de se associarem uns com os outros para trabalhar (ABDULLAHI & SALAW, 2012) -, Khaldun também é aproximado a Karl Marx, no que tange a sua concepção de estágios da história humana e a dialética entre grupos e classes; e, também, à tipologia weberiana de liderança e à teoria das elites de Pareto (AKBAR, 2002, apud ABDULLAHI & SALAW, 2012).
            Mas, sem sombra de dúvida, são com as semelhanças entre Khaldun e Émile Durkheim que devemos mais nos impressionar. Isto é: as semelhanças entre tais autores são, de fato, tão curiosas que beiram à superstição. Nossos comentadores (ABDULLAHI & SALAW, 2012) afirmam que na mais importante obra de Khaldun, Muqaddimah, ele cunhou um conceito chamado asabiyyah. Tal conceito poderia ser traduzido do árabe para o inglês como “group feeling, group cohesion, group solidarity or social solidarity...” (ALATAS, 2006, p. 31), e sua função é praticamente a mesma utilizada pelo conceito de solidariedade social, tese de Durkheim para explicar como a sociedade é possível.
            Não é o propósito deste artigo se alongar na biografia de Khaldun ou nas semelhanças de seus pensamentos com nossos “pais fundadores”. O passeio pelos textos de comentadores nos mostra como existiram semelhanças entre tais pensadores em relação ao advento de uma ciência que estudasse a sociedade de modo diferente do que fazia, à época, por exemplo, a filosofia ou a teologia; mais tarde, com Durkheim, a diferença seria entre a sociologia, a psicologia e a filosofia e, em certa dose, ainda em relação à biologia. Mas, o que buscavam os seguidores de Khaldun que nos serviram de intérprete?
            Abdullahi & Salawu (2012) tentam demonstrar quais fatores pesaram para que o pensamento de Khaldun fosse invisibilizado e, consequentemente, não tenha aparecido entre os cânones e, ainda, que tenha pouca visibilidade ainda nos dias atuais. Para eles, é óbvio que o pensamento não europeu não era aceito na composição e desenvolvimento das ciências. Principalmente por questões políticas decorrentes ao período imperialista. A despeito dessas questões, os comentadores sugerem que o pensamento de Khaldun seja incorporado ao pensamento e a teoria social contemporânea.
            De maneira mais ousada, digamos assim, Soyer & Gilbert (2012) buscaram identificar se havia legitimidade em se dizer que Khaldun poderia ser reconhecido como um fundador da sociologia. Para fazer isso, como vimos anteriormente, o caminho seguido foi comparar Khaldun a Comte e a Durkheim – aquele que cunhou a expressão sociologia e aquele que instituiu o campo sociológico. Com isso, tais comentadores veem legitimidade suficiente não só para fazer uma menção honrosa a Khaldun, mas também para sugerir que, enquanto pai fundador ele também deveria estar nos currículos de sociologia contemporâneos.
            Alatas (2006) segue na tônica de que autores não ocidentais não foram “bem vindos” no surgimento da sociologia. Sua intenção, aparentemente em consonância com os estudos pós-coloniais que vem se desenvolvendo na segunda metade do século XX em diante, é demonstrar – a partir da rica análise que faz do pensamento de Khaldun – que abordagens em sociologia não deveriam se restringir a apenas uma “cultura”, mas sim que abordagens “multiculturais” deveriam ser incentivadas.

            Se o zeitgeist europeu invisibilizou o pensamento de outros tempos e lugares, deixando o resto dos continentes comendo a poeira da história, como explicar a invisibilização ou marginalização dentro de casa? Nesta penúltima parte, seguraremos a mão de um comentador que é colaborador da universidade dinamarquesa de Roskilde, Bjørn Thomassen. Ele nos contará sobre outros pensadores que foram esquecidos à sombra de Émile Durkheim. A princípio, um dado biográfico fornecido pelo texto (THOMASSEN, 2012) é bastante pertinente para os propósitos deste artigo: enquanto Gabriel Tarde era reconhecido entre estudiosos franceses, e mais velho 15 anos que Durkheim, Alrnold van Gennep não era. Este era 15 anos mais jovem que Durkheim.
             Segundo Thomassen (2012), durante a virada do século XIX para o XX, Gabriel Tarde e Émile Durkheim foram adversários enérgicos preocupados, cada um a seu modo, com a instituição da ciência do “social” – a sociologia. Após a morte de Tarde, em 1904, Arnold van Gennep tornou-se outro importante adversário e crítico de Durkheim. Contudo, van Gennep estava interessado com a instituição de outro campo científico: a antropologia. De todo modo, Durkheim venceu tanto van Gennep quanto Tarde.
            Nesse sentido, Thomassen (2012) buscou, ao reler a obra de Tarde e de van Gennep, compreender tais pensadores e suas críticas à Durkheim, chegando à conclusão – e tentando expor no artigo que nos serve de guia “Émile Durkheim between Gabriel Tarde and Arnold van Gennep: founding moments of sociology and antropology” (2012) – que as críticas dos vencidos tocavam nos mesmos aspectos, mesmo que em períodos e áreas diferentes. Mas, além de aspectos relativos às implicações teóricas e metodológicas criticadas em Durkheim, Thomassen faz levantamentos bibliográficos bastante pertinentes (e curiosos) sobre o debate entre tais pensadores. O comentador fala da briga por posições dentro das universidades – passando pela questão de salários! - destacando aspectos contextuais que fizeram parte (ou fazem) da legitimação do conhecimento. Não falemos em nome de nosso guia, deixemo-lo narrar sua história:
[...] Na França do fim do século XIX, a situação não era diferente. A sociologia não tinha realmente se estabelecido ainda como uma disciplina e ainda não havia uma cadeira em qualquer universidade com seu nome. O mesmo caso com a antropologia. Assim sendo, as batalhas entre Durkheim, Tarde e van Gennep foram, certamente, muito direta e concretamente na tentativa de assegurar um emprego e uma posição dentro do sistema universitário francês, e uma tal posição possibilitaria moldar e direcionar as embrionárias disciplinas das ciências sociais (THOMASSEN, 2012, p. 234)[8].

            Além de aspectos contextuais, Thomassen afirma que Tarde e van Gennep identificaram sérios problemas teórico-metodológicos na obra de Durkheim. Os dados utilizados por ele na obra que ficou conhecida como o primeiro trabalho científico em sociologia, O suicídio, foram adquiridos, ironicamente, pelas “mãos” de Tarde, pois este era Chefe do Bureau de Estatísticas Legais do Ministério da Justiça Francês, à época. E foi o tratamento dado por Durkheim aos dados estatísticos que incomodou Tarde[9]. Grosso modo, Tarde desaprovava a relação que Durkheim fazia com os dados estatísticos e sua teoria. De certo modo, é possível dizer que Durkheim “forçava” os dados a se encaixarem em seu modelo.
            Já Gennep criticava, principalmente, mas no mesmo sentido de Tarde, o uso dos dados etnográficos. Gennep, sempre segundo Thomassen (2012), foi um grande linguista e etnógrafo. Muito tempo depois dos debates com Durkheim, ele ficou conhecido como o pai do folclore. O que legitima sua voz de autoridade no quesito crítica etnográfica, pois foi baseado em dados etnográficos que Durkheim construiu As formas elementares da vida religiosa. Para Gennep, Durkheim teve uma visão inteiramente errônea de pessoas de sociedade “primitivas”, além de não ter uma visão crítica dos dados que coletara através das fontes que lia – traduzidas para o francês por Gannep, diga-se de passagem (ver THOMASSEN, 2012, p. 240). Desse modo: “Durkheim simplesmente falhou ao capturar exatamente o que ele mesmo argumentava que a sociologia e a antropologia deveriam ser, nomeadamente o nível “coletivo” e as “representações coletivas” (THOMASSEN, 20120, p. 246)[10].
            Ao analisar os fatos contextuais, biográficos e teórico-metodológicos, que escreveram a história dos três autores mencionados na contenda sobre a fundação da antropologia e da sociologia, Thomassen não apenas tentou aproximar as críticas de Tarde e de van Gennep, como também tentou fazer com que se tornasse possível repensar nas fundações da própria antropologia social. Mas o que é mais pertinente para nosso objetivo é destacar que sua argumentação tenta resgatar as contribuições de autores esquecidos para a sociologia (e antropologia), demonstrando de um ponto de vista tanto referente ao conteúdo dos trabalhos quanto dos fatores externos (interesses etc.) que atuam sobre a produção acadêmica e científica.

Der Zeitgeist
            O espírito do tempo ou de uma época (der zeitgeist) pode ser tão abrangente quanto seu nome indica? Pode abranger uma época, um tempo, como uma flecha do tempo que inexoravelmente produz uma espiral temporal que exerce uma força centrípeta que a tudo atrai? Noutras palavras: existe mesmo Um espírito do tempo? Os comentadores de Khaldun nos fizeram caminhar para a crítica ao “eurocentrismo”, demonstrando como os europeus, historicamente, insivibilizaram o mulçumano Ibn Khaldun. Enquanto Thomassen demonstrou que existia uma exclusão interna, local, entre os próprios europeus – no caso, entre franceses que seguiam Durkheim e que excluíam aqueles que não o seguiam.
            Por outro lado, os textos parecem autorizar algumas hipóteses: assumindo que a sociologia se instituiu na França, continente Europeu, durante a virada do século XIX para o XX, então existiriam três elementos fundamentais que não poderiam ser ignorados quanto à instituição de um campo de saber: 1) o idioma; 2) o local; 3) as técnicas de comunicação. Primeiro: foi mencionado que van Gennep traduziu trabalhos de outros idiomas para o francês e eles foram utilizados por Durkheim (p. 9)[11].
            Segundo: atualmente Khaldun tem sido bastante lido em universidade do circuito Afro-Árabe e, mais precisamente, em universidades egípcias (ALATAS, 2006). Aqui, novamente, a relação entre idioma e local de origem joga um papel fundamental na possibilidade na disseminação de um conhecimento. Se tal fator não é o que garante a legitimidade de um autor, ele é condicionante. Inversamente, o mesmo pode ser dito em relação à instituição da sociologia e da possível invisibilidade de Khaldun, ao menos no passado. É importante não se ter uma visão romântica sobre o assunto, pois uma ciência séria não pode ser construída sobre um maniqueísmo simplista baseado em algum tipo de “bom selvagem” de séculos passados. Dito de outro modo: o conhecimento pode ser sempre geolocalizado, mas este não deve ser um critério natural para determinar sua legitimidade[12]. 
            Terceiro: uma hipótese sobre técnicas de comunicação merece uma atenção maior do que é possível com o presente estudo. Mas, grosso modo, é preciso lembrar que o conhecimento não se mantém e se expande apenas de maneira oral. O registro, a escrita é, antes de tudo, um processo técnico no qual se registra ou se arquiva algo em algum lugar (topos). Nesse sentido, o suporte à memória – Derrida de “Mal de arquivo” (2001) diria o memento, ou o suporte hupomnésico; de maneira semelhante, mas guardando-se as diferenças, Latour de “Vida de laboratório” (1997) diria “inscrição literária” – é, também, condicionante no quesito difusão do conhecimento. Se este conhecimento, livre de amarras que o atam ao “local”, ao “regional”, será legitimado ou não, não interessa (ao menos não aqui). A hipótese – rude, confesso – é que a tecnologia é outro elemento que deve ser computado ao se pensar na disseminação ou não de determinado campo de saber, mas ela não é suficiente, obviamente, para garantir sua legitimidade. Em suma, nenhum dos fatores elencados, isoladamente, são suficientes para nos dar garantias. Mas, ao menos nos dão algumas pistas sobre o porquê de determinados pensadores e pensadoras não estarem entre os cânones da sociologia.
Conclusão

Referências
ABDULLAHI, Ali Arazeem. Ibn Khaldun: a forgotten sociologist. South African Review of Sociology, v. 43, n. 3. 2012. p. 24-40

ALATAS, Syed Farid. Ibn Khaldun and contemporary sociology. International Sociology Review of Books. v. 21, n. 6, nov. 2006. p. 782-795

DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Tradução de Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro, Relume Damará, 2001

LATOUR, Bruno; WOOGAR, steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de janeiro, Relume Damará, 1997,

LIMA, Telma Cristiane S.; MIOTO, Regina Célia T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Rev. Katál. Florianópolis. v. 10, n. esp. 2007, p. 37-45.

SÁ-SILVA, Jackson Ronie; ALMEIDA, Cristóvão Domingos; GUIDANI, Joel Felipe. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Rev. Brasileira de História & Ciências Sociais. Ano 1, n. 1, jul. 2007. pp. 1-15.

SOYER, Mehmet; GILBERT, Paul. Debating the origins of sociology: Ibn Khaldun as a founding father of sociology. International Journal of Sociological Research, v. 5, n. 1-2, jan-dec. 2012. p. 13-30.

THOMASSEN, Bjørn. Émile Durkheim between Gabriel Tarde and Arnold van Gennep: founding moments of sociology and anthropology. Social Anthropology/Anthropology Sociale. n. 20, v. 3, 2012. p. 231-249





[1] Agradeço especialmente a Rafael Soares e a Maria Eduarda Mello pelos conselhos dados durante a elaboração deste trabalho. Sem ele e ela, eu com certeza não teria chegado à presente versão. Contudo, nem de longe posso culpá-lo ou culpá-la em relação às possíveis falhas do texto.
[2] Mestrando em sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco. Bacharel em Ciências Sociais pelo Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
[3] Foi somente na década de 1970 que fora criada a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Fonte:
http://portal.anpocs.org/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=645&Itemid=59
Acesso em 19 nov. 2015.
[4] Antecipando uma primeira resposta à nossa pergunta: o idioma é um primeiro entrave para a ampliação, e inclusão, de outros autores e autoras em qualquer área de conhecimento, não apenas na sociologia “clássica”.
[5] Enquanto discente da disciplina, tive o “privilégio epistêmico” de ser um insider. Por isso, pude presenciar as chuvas de junho e julho de 2017, no Recife, que impediram a “estrutura” de funcionar.
[6] São eles: 3 clássicos e 7 “marginais”. Os primeiros são: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber; os seguintes são: Ibn Khaldun, Adam Ferguson, Alexis Tocqueville, Gabriel Tarde, Arnold van Gennep, Jane Addams e Williams E. B. DuBois. George Simmel foi o autor cortado pelos problemas “estruturais”.
[7] Tradução livre do original: “1. Both emphasized a historical method and did not propose statistical methods. 2. Both distinguished their sciences from what preceded them. 3. Both believed human nature is the same everywhere. 4. Both recognized the importance of social change” (ALATAS, 2006, p. 786).
[8] Tradução livre para: “In France toward the end of the 19th century the situation was different. Sociology had not really established as a discipline yet and there was still no chair at any university carrying that name. The same was the case for anthropology. Therefore, the battles between Durkheim, Tarde and van Gennep were certainly also very direct and concrete attempts to secure a job and a position within the French university system, and from such a position being able to shape and direct the embryonic social science disciplines” (loc. cit.)
[9] Thomassen diz que Tarde escreveu uma nota criticando o uso dos dados da maneira que foi feita, logo após a publicação de O Suicídio, mas por algum motivo, ele não a publicou (2012, p. 237). Aqui a toca do coelho se torna tão profunda que parece necessário deixar a mão de nosso guia e partir para outro gênero literário.
[10] Tradução livre para “[...] Durkheim simply failed to capture exactly what he himself argues that sociology and anthropology should be about, namely the collective level and ‘collective representations’... (loc. cit.).
[11] Apesar de não ter mencionado antes, existem suspeitas de que tanto Comte pode ter lido Khaldun através de traduções do árabe para o francês feitas por Montesquieu – já que Comte era leitor deste -; e, também, que Marx e Engels poderiam ter tido contato com traduções de textos de Khaldun, já que algumas análises de Engels são bastante semelhantes às análises de Khaldun (ver. ALATAS, 2006, p. 786).
[12] Em lógica isso tem um nome: argumento ad hominen. Basta que se localize “quem fala” que se escorrega rapidamente para a legitimação ou deslegitimação de seu argumento. No entanto, não é sadio para, principalmente, cientistas sociais, restringir suas análises apenas ao campo da lógica. Nem sempre um ad hominen é, a priori, “falso”. No caso de Khaldun, de fato, há o argumento sobre o período imperialista (p. 6) e todas as mazelas que daí decorreram. O que inclui a negação do pensamento proveniente das colônias – neste caso, de mulçumanos, africanos etc.

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