quarta-feira, 28 de março de 2018

Monografia - Conclusão e Agradecimentos

[Apesar de se tratar da conclusão da pesquisa, incluo aqui o Resumo e o Abstract. Incluo, também, os agradecimentos em homenagem às pessoas que passaram por meu caminho e deixaram boas lembranças e aprendizados].

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos e amigas proporcionados/as pela universidade: Wellington Estima, Roberto Santana, Risael Sibalde, Hacsa Oliveira, Lara Albuquerque, Klebson Scooby. Especialmente à Camila Adriano. Não poderia esquecer de Janaína Melo que permanece como “guia espiritual” para os/as alunos/as de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Também a Josias de Paula e Júlia Benzaquen, por fazerem toda a diferença enquanto docentes. Por último, aos muitos e muitas colegas que compartilham música, poesia, alegria e descontração no “Conterrâneo’s Epistemology Bar” – principalmente Acionildo e seu “apogeu da insignificância”.

RESUMO



Esse relato final de pesquisa é de um ano de pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo de pesquisa foi investigar como agronomia e ciências sociais lidavam com agrotóxicos. Os dados foram coletados por meio de observação-participante e foram registrados em diário de campo; entrevistas semiestruturadas foram feitas presencialmente e não presencialmente (por e-mail) e, também, realizou-se análise documental. As observações ocorreram em agronomia, nas aulas práticas e teóricas da disciplina “controle de plantas invasoras”; em ciências sociais, ocorreram na participação em um grupo de estudos chamado de Curupiras: colonialidades e outras epistemologias. A análise documental se deu nos chamados “planos político pedagógicos” dos cursos, nas ementas de disciplinas (cadeiras) de ambos os cursos, e em parte do arquivo da universidade disponibilizado pela internet ou por meio do acesso a documentos. A teoria escolhida para realização da pesquisa foi a teoria ator-rede. Mais especificamente, a partir da abordagem do sociólogo francês, Bruno Latour. Não trabalhamos com a ideia de hipótese, mas sim com pressupostos. Pode-se dizer que o nosso pressuposto inicial, segundo o qual agrotóxicos seriam combatidos em ciências sociais, foi confirmado, visto que devido a associação com a agroecologia, cientistas sociais cada vez mais se opõem ao uso de agrotóxicos. O nosso segundo pressuposto, segundo o qual agrônomos/as utilizariam e fariam pesquisas sobre agrotóxicos, por encontrarem utilidades e usos para eles, também pôde ser confirmado, pois foi possível observar que tanto na documentação analisada quanto nas aulas, agrotóxicos participam da formação de agronômos/as.

Palavras-chaves: Agrotóxicos. Universidade. Agronomia. Ciências sociais.

ABSTRACT
This final research report is the result of a year of research funded by CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - National Council for Scientific and Technological Development). The objective of the research was to analyze how different scientific areas of the same university, Universidade Federal Rural de Pernambuco, deal with the same theme - pesticides. The question of the research was as agronomy and social sciences deal with pesticides? Data were collected through participant observation and non-participant and were recorded in a field diary; Semi-structured interviews were done in person and online, and also was held documentary analysis. Observations occurred in agronomy, in practical and theoretical discipline about weed control; in social sciences, participation in a study group called Curupiras: colonialities and other epistemologies. The documentary analysis was of the educational plans of the courses and the university archive available online or through access to documents, such as teaching plans, provided by teachers or coordinators of the two areas. The theory chosen to carry out the research was the actor-network theory. More specifically, from the approach of French philosopher, anthropologist and sociologist Bruno Latour. It can be said that the initial assumption, according to which pesticides would be faced or combated in the social sciences, has been confirmed as due to association with agroecology, social scientists increasingly oppose the use of pesticides. The second assumption, according to which agronomists would use and would do research on pesticides, for finding utilities and uses for them, because in documentation analyzed and in classes, they are present, participating in formation of agronomies.
Keywords: Pesticides. University. Agronomy. Social Sciences.


6.      CONCLUSÃO: OS DIFERENTES SOCIAIS PODEM SER AGREGADOS?

            Chegado ao final de um ano de pesquisa, concluímos dizendo que dos objetivos almejados, não pudemos responder ao seguinte: como a universidade lida com o tema, visto que a própria teoria, ao nos orientar para traçar diferentes conexões, não pode fornecer uma visão homogênea sobre o assunto. Por outro lado, o restante dos objetivos foram alcançados: sendo a nossa pergunta de partida a seguinte: como agronomia e ciências sociais lidam com agrotóxicos?”, temos – agronomia utiliza agrotóxicos pois encontra utilidade em seus uso, no contexto de conexões observadas; herbicidas eram úteis no controle de plantas invasoras ou como parte do “manejo integrado de pragas”; no caso de ciências sociais, identificamos que agrotóxicos estão ligados a “intoxicação alimentarou então são considerados prejudiciais à saúde humanae, mais ainda, devido a circulação de uma nova entidade, a agroecologia, seu convívio no local parece não ser tolerado. Identificamos também que agrotóxicos circulam na forma de textos e estatísticas em ambos os departamentos. Por último, não verificamos interdisciplinaridade entre os departamentos.
Nossos pressupostos eram a) agrotóxicos eram utilizados em agronomia pois tinham alguma utilidade; e b) eram combatidos em ciências sociais pois eram considerados nocivos à saúde humana e o meio ambiente. Ambos foram confirmados. O grande dilema a que chegamos ao fim de nossa pesquisa parece se condensar em uma questão muito mais ampla e que está no cerne, quem sabe, da própria relação de alteridade. A princípio nós só encontramos uma questão muito simples: uma discordância sobre um nome, uma palavra, um modo de nomear. Conforme caminhávamos, vimos que o modo de nomear transportava significados e interesses diversos e, ao fim, antagônicos. A separação entre “defensivo” e “tóxico” não é, necessariamente, excludente: uma substância não criada por mãos humanas pode ser tóxica e utilizada como defesa, como proteção de uma espécie contra seus predadores. Não importa então, a priori, o nome, pois aqui, eles podem muito bem ser complementares: defensivos tóxicos e não tóxicos poderia ser uma classificação.
            O modo de nomeação não é o verdadeiro problema. Apesar de ser sua figuração. O problema ou um dos – é a forma com que se quer formatar as relações e como a influência política entra em ação. A grande diferença entre as ciências sociais e a agronomia, de acordo com nossa visão, é que em agronomia a formação parece ter um caráter estritamente técnico; enquanto que nas ciências sociais, as relações se pautam por práticas de caráter mais sociais. Ora, mas não é justamente esta separação entre técnica de um lado, e social do outro que nosso aporte teórico vem, nas últimas décadas, tentando superar (cf. Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica” (LATOUR, 1994))?
            A técnica não está separada do social, um é extensão do outro. Sem técnica, estaríamos presos apenas nas interações face a face – algo que não necessariamente representa atraso ou negatividade, apenas reforça que uma sociedade, ou a construção de um mundo em comum”, macro, não seria possível; enquanto que apenas com a existência de equipamentos e técnicas, obviamente nada aconteceria, à exceção de alguma ficção hollywoodiana à la Stanley Kubrick. Outro erro é achar que sem a técnica, ou sem o desenvolvimento, ou sem o Estado, cairíamos na guerra de todos contra todos hobbesiana, já que o chamado estado de natureza não se encontra nem mesmo na natureza, entre macacos (CALLON & LATOUR, 1981) ou babuínos (LATOUR & STRUMM, 1984).
            O que está em questão na situação é como desejamos formatar as relações sociotécnicas (LATOUR, 1994; 2000). É possível, em agronomia, ceder ao apelo de cientistas sociais e agroecólogos, e continuar suas práticas de “controle de plantas” e “manejo de pragas”, sem o uso de agrotóxicos? É possível para cientistas sociais e agroecólogos cooperarem com agrônomas e agrônomos sem que estes e estas precisem aderir aos modos de existência da agroecologia e campesinato”? Aliás, como lidam agrônomos e cientistas sociais com a agroecologia em sala de aula? Isto já é assunto para outro projeto...
            Como sugestões de pesquisa, podemos dizer que na medida em que os meses foram passando, ao mesmo tempo em que os dados se acumulavam, percebemos que o número de conexões e ramificações realmente eram impressionantes. Assim como o corpo humano se abre para um anatomista em artérias e veias, fluídos etc., o mesmo ocorre agora com esse “social” visto como associações e conexões, e não como um artefato que explica a realidade (LATOUR, 2012). Nesse sentido, nossa pesquisa ignorou deliberadamente inúmeros documentos e associações. O que quer dizer que cada livro vinculado aos planos políticos pedagógicos de cada curso, por si só, já se desdobram em inúmeras outras conexões não analisadas em nossa pesquisa.
            Além disso, e os estudos não trabalhados por nós? Relações de gênero, pós-colonialidade? E toda a bibliografia que circula nos próprios livros, como os autores estão sendo incorporados? Um Boaventura de Sousa Santos, inclusive, quais conexões são possíveis de se traçar entre os grupos que o utilizam? Mas mais importante que isso é identificar os aspectos de operacionalização metodológicos desta pesquisa. A pergunta de partida pode ser levemente modificada e, assim, pode produzir outras pesquisas ou então, aprofundar esta que agora vos comunico. Por exemplo: como é que outros setores, como a pós-graduação em entomologia agrícola, lidam com agrotóxicos? Como é que o departamento de Educação da UFRPE lida com o mesmo assunto?
            Por último, é preciso dizer que as conexões traçadas são fluídas, mas duram o suficiente para que possamos registrá-las aqui nesta monografia: mas e o que fica entre as conexões? Por exemplo: no Curupiras, ignoramos outras conexões, outros projetos de extensão; ignoramos os recentes interesses do grupo de estudar pós-colonialidade e arte; ignoramos conexões entre docentes de agronomia e empresas para fins de pesquisa; ignoramos diversos outras formas de social que também circulavam pelo nosso campo. De que é feito o social, afinal? O que há entre as conexões se não, pura e simplesmente, outras conexões e outras formas de se lidar consigo mesmo, com os outros e com o nosso mundo em comum? A verdade é que pouco conhecemos sobre o social e os potenciais guardados nessas relações. Eis o que Latour chamou de plasma: as massas perdidaso espaço existente entre as conexões e a infinidade de possibilidades existente para gerar novas malhas nas redes.[1]



[1] Um possível projeto para levar adiante as conclusões desta pesquisa e identificar elementos e práticas em comum por diferentes grupos, a despeito da “passagem do tempo”, historicamente falando, é estudar a repetição de práticas sob diferentes figurações. Mais especificamente tenho por vontade a criação de um conceito vago, tal como a noção de arquivo, em Derrida (2001), e tão genérico quando a ideia de conexão de Latour (2012), que possa servir como forma de aferir ou medir repetições de práticas, como no exemplo da acusação, denúncia e repetição das mesmas práticas denunciadas, mas em aparência, diferentes. Em outras palavras, não se trata de dar solução ou uma explicação teórica para questões reais e, literalmente, viscerais, como a violência, mas sim tentar criar uma forma de aferir quando determinada prática se repete. Foi possível observar os dois grupos se acusando, durante esta pesquisa. Afinal, vivemos constantemente acusando uns aos outros e julgando-nos idôneos, e não cor-ruptos (do latim, coração partido, rompido, não uno) enquanto repetimos violências que não aceitamos assim as chamar. Por mais evidente que sejam. A ditadura do proletariado; a “resistência” do oprimido diante da violência do opressor são só formas em que a violência é figurada com um ar de nobreza. É o que um amigo, Alexandro de Jesus, há pouco tempo alertou: temos que identificar como o próprio processo de ascese, como a confissão, pode ser um recurso mesmo para a prática do crime ou, em outras palavras, já não poderíamos sustentar a pura exterioridade do Diabo em relação a Deus.

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