quinta-feira, 22 de março de 2018

A Pallas Athena fragmentada: ensaio sobre paradigmas em ciências sociais



Gabriel Ferreira de Brito

Resumo

O objetivo deste ensaio é refletir sobre a prática científica e sua relação com axiomas, paradigmas e pressupostos extra-empíricos que compreendem o fazer ciência. Para tanto, parto da contribuição de pesquisadores e pesquisadoras de metodologia qualitativa, como Norman K. Denzin e Yvonna S. Lincoln (entre outras/os); de renomados antropólogos, como Tim Ingold e Stanley Barret; e de sociólogos como Bruno Latour e Jeffrey Alexander. Parte das referências são obrigatoriamente extraídas da ementa da disciplina de Métodos Qualitativos de Pesquisa Social, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (2017.2), visto se tratar de requisito para aprovação na referida disciplina. Na primeira parte, um panorama das ciências sociais na segunda metade do século XX é apresentado; no segundo momento, um exemplo prático (etnográfico) da relação entre pressupostos e teoria (ator-rede) é fornecido no intuito de ilustrar a relação entre empiria e teoria; na terceira parte, o intercâmbio entre características de diferentes epistemologias (e paradigmas) é discutido. Como resultado: argumenta-se que a etnografia fornece um importante subsídio para uma flexibilidade e não engessamento em axiomas e paradigmas específicos. Do mesmo modo com que se conclui que não é possível intercambiar axiomas e pressupostos entre paradigmas de maneira aleatória ou acidental, pois existem conflitos ente axiomas de diferentes paradigmas – como é o caso, sugere-se, de teoria ator-rede e de teorias pós-coloniais.

Palavras-chave: Axiomas. Paradigmas. Ciências Sociais. Etnografia. Pressupostos.


Preâmbulo
            Numa obra considerada polêmica para sua época, o pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918) retratou a deusa grega Pallas Athenas (1898) de uma maneira considerada um tanto “moderna”. Pode-se dizer que sua visão artística ressignificou em numa nova moldura a justiça, civilidade, sabedoria e cultura que a deusa representava; substituindo esse significado por um simbolismo erótico que chocou a moralista Viena de seu tempo. Coincidentemente, as ciências sociais vêm, desde o século XIX, institucionalizando-se em um meio, aparentemente, tão pudico quanto[1]. Pouco mais de meio século depois da Pallas Athenas de Klimt, David Bloor, da escola de Edimburgo, intitulou a conclusão de seu principal trabalho (2009 [1976]) de “Ciência e Heresia” (Science and Heresy), afirmando que determinadas críticas dirigidas ao seu “Programa Forte” (Strong Programme) em sociologia do conhecimento foram as mesmas críticas dirigidas à historiografia da Igreja da Escola de Tübinger, por parte de dogmáticos religiosos no século XIX que criticavam a “profanação” do pensamento sacro. A contemporaneidade é mais progressista que o conservadorismo desses tempos passados?
            Este ensaio orna-se com o luxo dourado da obra de Klimt, “reenquadrando” a relação entre axiomas e paradigmas em ciências sociais, e dando-lhes uma nova moldura, sem com isso passar do simbolismo da Athenas de Klimt do século XIX para um dadaísmo fragmentário pós-moderno.
            Na primeira parte deste ensaio, é apresentado um panorama do desenvolvimento dos interesses pela metodologia qualitativa na segunda metade do século XX, com destaque para a variedade de escolas (em sociologia e antropologia) que se aglutinam no que chamar-se-á de axiomas e paradigmas à guisa de trabalhos que serão citados em tempo. No segundo momento, um exemplo da relação entre etnografia e teoria ator-rede (sociologia) será dado no intuito de esboçar a relação entre as escolhas de: paradigma, axiomas e a prática de pesquisa científica. A terceira parte deste trabalho é comparativa. Nela, características de diferentes epistemologias (e paradigmas) é discutida, no intuito de ilustrar alguns limites em tal operação. Por último, a conclusão traz algumas reflexões sobre a importância da etnografia como “fermento” para novos modos de ver – e de se fazer ciência social.
Parte I Axiomas e paradigmas
            Durante meados da década de 1970, um então professor da Universidade de São Paulo, José Jeremias de Oliveira Filho desenvolvia pesquisas sobre interesses vigentes, à época, pela chamada “metateoria” e, por conseguinte, metodologia teórica das ciências sociais cujo andamento, segundo o professor, ainda estava em seu início (1976). Mais recentemente, uma socióloga da Universidade Federal de Pernambuco publicou um trabalho sobre tema semelhante – metametodologia das ciências sociais (HAMLIN, 2011). Ele e ela têm em comum, portanto, um interesse na discussão extra-empírica. Algo que permeia os debates sobre o caráter científico das ciências sociais – e cujo debate remonta aos primórdios positivistas da instituição de tal área.
             Também na segunda metade do século XX, ninguém menos que Jeffrey Alexander (1987) prosseguia com debates – em um contexto internacional – sobre questões que vão além da prática científica de campo (empiria). Isto é, ele falava de pressupostos (pressupositions) que não se resumem à experiência empírica de pesquisa. Grosso modo, Alexander (1987), Hamlin (2011) e Filho (1976) estão nos dizendo coisas semelhantes, mas de modos distintos. A saber: a ciência (e sua objetividade) é feita a partir de escolhas, motivos e razões que extrapolam a pesquisa empírica e observacional de fenômenos dados. Dito de outra maneira: ao fim e ao cabo, a ciência é construída por tomadas de decisões que levam em conta n’ variáveis extra-científicas (desde quais perguntas se deve colocar em um survey, qual corrente teórica escolher, qual método é mais adequado para isso ou para aquilo, qual ideologia corresponde à determinada abordagem, qual o posicionamento político subentendido, quem tem interesse em financiar tais pesquisas... etc.).
            O contexto internacional da produção científica, neste caso (terceiro quarto do século xx), marca uma guinada do positivismo e dos métodos quantitativos de pesquisa para os métodos qualitativos de pesquisa (SCHWANDT, 2006). Num trabalho sobre epistemologia e investigação qualitativa, Thomas A. Schwandt, professor de educação e reitor adjunto da Indiana University, contextualiza o período em que se desenvolveu o “movimento reformista” que oxigenou o campo de pesquisas qualitativas. Algo que fez com que o interpretativismo, a hermenêutica e construcionismo social ganhassem cada vez mais espaço em teoria social (SCHWANDT, 2006, p. 193-218).
            No campo da antropologia não foi diferente. Segundo o professor Stanley Barrett (2015), professor de ciências sociais na University of Guelph, Ontario, Canadá, o primeiro momento da disciplina data do século XIX, na qual seu estatuto científico estava em construção[2]; no segundo momento, a antropologia saía do “período colonial”, por assim dizer, com novas teorias se desenvolvendo; e, por último, vieram o pós-modernismo e a antropologia feminista. Antes disso, tal como mencionado por Schwandt (2006) sobre a emergência dos métodos qualitativos de pesquisa, a teoria da ação social, de Weber, também influenciou o desenvolvimento da antropologia no segundo quartel do século XX (BARRET, 2015, p. 120).
            Diversas “novas sociologias” (sociologia existencial, teoria ator-rede, teoria da ação criativa, sociologia fenomenológica etc.) se desenvolveram no último quarto do século XX (ALVES, 2010). Entre 1980 e 1990, no exterior, os estudos pós-coloniais também começaram a fazer parte dos debates sobre teoria social e teoria crítica (BARBOSA, 2010; COSTA, 2006; DIRLIK, 1997); no Brasil, tais estudos parecem ter ganho mais fôlego a partir da década de 2000, tendo iniciado aproximações com estudos de gênero, ao menos em Recife e alguns estados, a partir dos anos de 2010 (BRITO, 2015). Já os estudos de gênero, no Brasil, seguindo a esteira internacional já aludida neste texto (BARRET, 2015 etc.), vieram antes, durante os anos 1980, conforme assinalou a socióloga marxista e feminista Heleith Saffioti (2005), poucos anos antes de seu falecimento.
             Diante de um amplo contexto, e aqui só se abordou sociologia e antropologia da segunda metade do século XX, vê-se que em diferentes lugares, aspirações, debates e temas têm roubado a cena. Alguns de maneira mais duradoura, outros nem tanto. Contudo, diferente de teorias e metodologias, existem termos mais amplos como paradigmas, que delimitam um horizonte maior de alcance do que debates apenas sobre assuntos pontuais.
            No que tange a prática científica, Yvonna S. Lincoln e Agon G. Guba (2006) falam de axiomas que permeiam os paradigmas científicos. Os axiomas que norteariam tais paradigmas definem suas ontologias, metodologias e epistemologias. Como exemplos, a ontologia positivista teria um “realismo ingênuo”, enquanto a teoria crítica e outras se basearia no “realismo histórico”; construtivistas no “relativismo” etc. Tal como já observado em relação à metametodologia (HAMLIN, 2011), metateoria (FILHO, 1976) ou aos pressupostos científicos (ALEXANDER, 1987), para Lincoln e Guba (2006), “axiomas” definem como fazer a ciência.
            A questão suscitada nesta primeira parte seria: em que medida os axiomas circunscrevem ou limitam a prática científica e vice-versa? Preliminarmente, a suposição, quiçá hipótese, seria de que paradigmas circunscrevem o modo como problemas de pesquisa podem ser investigados, mas não impedem o intercâmbio de teorias e métodos, contanto que se façam as devidas adaptações (e isso só se resolve na prática, em campo). Por outro lado, além dos axiomas, a axiologia joga um papel fundamental na escolha dos paradigmas. Entretanto, talvez seja melhor falar em pressupostos, deixando axiologia para seu respectivo campo filosófico (LINCOLN e GUBA, 2006)). Por isso, é preciso admitir que, em alguma medida, aceitamos e escolhemos sermos influenciados e influenciadas por outros/as que vieram antes e que, ao abrirmo-nos para a “subjetivação”, para o download de “ideologias”, e de ciências “críticas” (ou não), também aceitamos portar suas gramáticas como molduras para nossas indignações. Todavia, as molduras que utilizamos nos limitam para outros paradigmas tanto quanto os paradigmas nos limitam para nossas molduras.
Parte II breve discussão sobre etnografia e método: notas de campo
            Até aqui foi apresentado um esboço de diferentes escolas que vêm se desenvolvendo em ciências sociais desde a segunda metade do século XX. Além disso, observou-se que tais campos estão inextricavelmente circunscritos em paradigmas científicos e, por conseguinte, isto significa ter vantagens e desvantagens quanto à pesquisa científica. Agora, será apresentada uma discussão sobre o papel da etnografia em relação aos paradigmas científicos. Nem de longe se busca exaustividade sobre o assunto; o objetivo é apenas trazer teóricos atuais da área de antropologia que vêm problematizando o papel da etnografia. Espera-se com isso que a relação entre axiomas, pressupostos e paradigmas seja percebida como um exercício continuo e indefinido. O que tem como consequência definir que somos treinados de acordo com o paradigma que nos inserimos, mas assumir sua moldura não significa estagnação e estase, mas sim “ir adiante” e, se necessário, sugere-se: deveríamos superar as limitações tanto dos paradigmas, quanto nossas próprias convicções.
            Por que escolher etnografia para levar adiante a discussão aqui em pauta (axiomas, pressupostos e paradigmas)? A etnografia é um campo de pesquisa que compartilha com o campo da história alguns aspectos em comum. Segundo Ingold (2015), ambos são campos idiográficos. O que significa que são modos de descrição escrita exaustiva sobre algum tempo-espaço dado, independente de posições nomotéticas que, por sua vez, buscam inferir generalizações e teorias sobre um conjunto de dados observados ou a partir deles. Mesmo assim, a etnografia pode ser combinada com abordagens nomotéticas, e normalmente o é. Isto ocorre em sua relação com a antropologia ou a sociologia, por exemplo. Além disso, etnografar um campo significa imergir nele e descrevê-lo exaustivamente, entre outras coisas (INGOLD, 2015), o que, defende-se, difere da observação-participante[3]; com a etnografia é possível fazer uma sociologia preocupada com agencia/estrutura a partir de diferentes paradigmas. Escolhido o paradigma, os dados são então circunscritos num horizonte hermenêutico (teoria) – o olhar é treinado para observar elementos específicos. Vejamos a seguinte passagem de diário de campo:
Sobre a mesa em frente a uma mulher de cabelos escuros, batom vermelhos e óculos de grau; camisa laranjada e calça de tecido leve, tonalidade escura, jazia uma máquina: um computador formato notebook, diferente de computadores de mesa conhecidos como desktops. Em poucos instantes, outra máquina, agora um retroprojetor lançava imagens sobre um tecido que mais parecia uma cortina, localizado atrás da mesa na qual a mulher de óculos de grau digitava, agilmente, comandos em seu notebook. As imagens eram de crianças, bebês de colo sendo banhados por mãos cuidadosas, em banheiras.
[...] “Boa tarde a todos e a todas. Mais uma edição do Diálogos em parceria com o Laboratório de História da Infância e o NINA (?)”, fala uma mulher de meia-idade, cabelos curtos, louros, tez branca, e prossegue, “O zika vírus... Pernambuco”, “saberes da primeira infância na Rural”. Ela menciona convidadas, “Deyse do FAGES, Ana Paula, Fiocruz”, “Deyse Amâncio vai coordenar a mesa”. O nome da porta-voz é Raquel. Citam outra pessoa da Fiocruz, agora Ana Melo.
[...] Ana Melo inicia a palestra, porém, outra máquina, agora um microfone defeituoso, atrapalha a fala. Por trás da palestrante, imagens contínuas, em sequência, são projetadas pela máquina chamada de retroprojetor. Na tela (cortinas), é possível ler “Saúde e Direitos Humanos”. Um slide – isto é: uma imagem ou quadro em que se projeta algum conteúdo visual – traz frases contendo datas sobre dados referentes à microcefalia. Fala-se de relações de grupo, Saúde Coletiva, impactos sociais e econômicos decorrentes da infecção pelo zika vírus em Pernambuco.
[...] A palestrante fala, além do WhatsApp, da associação de mães de crianças com microcefalia: “O filho é sacralizado; veio para mudar alguma coisa”, resgata a palestrante, falando do acompanhamento realizado com as referidas mães, e continua, “microcefalia não é o fim”. Assim, explica que a associação funciona como uma rede de apoio. O WhatsApp torna-se uma ferramenta para auxiliar na comunicação dessa rede.
[...] Algumas siglas aparecem nos slides. MERG, FIOCRUZ, UPE, LONDON SCHOOL…, UFPE. A palestrante diz que dessa parceria entre tais instituições, cinco estudos estão sendo feitos no momento. Ela, então, diz que essa é a maior pesquisa do FAGES. Mais nomes são citados, enquanto eu tento anotá-los o mais de pressa possível: Silva Matos, Scott, Marion, Ana Cláudia, Fernanda. Programa de bolsas de iniciação científica (PIBICs) são mencionados. Fala-se de Sussex, parceria com universidade de lá (salvo engano). Três anos de pesquisa e ainda estão nos primeiros meses. Existem dois eixos de pesquisa: Políticas Públicas e Experiência de maternidade e cuidado. Aqui já estamos em outro momento, quem fala é Luciana...
Gabriel Brito
24 de agosto de 2017
            As passagens do diário de campo transcritas acima fornecem uma ilustração: ao coletar os dados, o olhar etnográfico, por assim dizer, estava voltado para observação da atuação de não-humanos na cena. Não humanos podem ser objetos e outras coisas. A intenção em observá-los é simples: identificar como tais “seres” participam ativamente da construção da “ordem social”. Em outras palavras: como objetos e outras entidades fazem parte das ações humanas? Ao conseguir identificar essa associação (LATOUR, 2012) entre humanos e não-humanos, visa-se desenhar uma rede no relato textual que será escrito pelo pesquisador. Isto possibilitará descrever como uma ação transformou (se é o que o fez) as relações sociais de algum lugar observado. Essa é uma abordagem baseada na teoria ator-rede (actor network-theory). Neste caso, o referencial é Bruno Latour (2012). As palavras-chave utilizadas na análise são: Localizadores, Mediadores, Rede e Ação. Vide a tabela abaixo:
Localizadores (“estrutura”)

Mesa, tecido (tela de retroprojeção)
Mediadores (“transformam informações/participam ativamente”)

Notebook, retroprojetor, microfone, WhatsApp.
Rede (“instituições atuando coletivamente/humanos e entidades coletivas”)

Diálogos, Laboratório de História da Infância (NINA), saberes da primeira infância na Rural (UFRPE), FAGES, Fiocruz. Saúde Coletiva. Mães. Zika. MERG, UPE, London School of Economy. Bolsas de Iniciação Científica. University of Sussex.
A ação (“o que aconteceu/como vem acontecendo”)

Comunicação acadêmica: Seminário sobre Saberes da Primeira Infância, zika vírus e Microcefalia.

            A tabulação aqui é meramente ilustrativa. Contudo, isso não impede com que sejam extraídos os elementos necessários para encenar ou esboçar um exemplo para o tema em pauta (axiomas e paradigmas em ciências sociais). Dividindo em três níveis classificatórios, é possível distinguir os elementos que se interpenetram na pesquisa: 1) observação/empiria; 2) marco teórico; 3) paradigma-axiomas (e pressupostos).
            A observação in situ possibilita uma maneira específica de coleta de dados; o marco teórico circunscreve o “como olhar, o que olhar” na observação; por último, os paradigmas-axiomas delimitam os horizontes teóricos em uma “família” mais abrangente que comportam diferentes teorias. Retomando o exemplo de Lincoln e Guba (2006), axiomas delimitam a epistemologia, a ontologia e a metodologia concernentes a um dado paradigma e, assim, incidem sobre o que será empregado na pesquisa. Mais acima foi dito que o que se busca com a teoria ator-rede é identificar a participação (e associação) de não-humanos na ação. Se, por outro lado, a ideia fosse partir de uma sociologia compreensiva, seriam os significados atribuídos às ações sociais que estariam em primeiro plano, permitindo ao analista identificar as diferentes intenções intersubjetivas em torno da microcefalia; caso a observação partisse de uma terceira abordagem, a funcional estruturalista, se buscaria, quem sabe, identificar como as instituições sociais encontradas na observação estariam reconfigurando a solidariedade social em torno da microcefalia...
            Em suma: a coleta e a análise teórica estão condicionadas por uma visão de mundo (ontologia), uma forma de coletar e analisar os dados (metodologia), e por uma concepção sobre o que é conhecimento válido/legítimo em dada área científica (epistemologia). Tais elementos estão inter-relacionados e compõem um determinado paradigma científico. O exemplo acima é apenas isso, um exemplo específico a partir do que vem se chamando de sociologia pós-social (KNORR CETINA, 1997). Sociologia esta que inclui a interobjetividade no campo da agencia (VANDEMBERGHE, 2006).
Parte III limites teórico-metodológicos entre cruzamentos
            Neste terceiro momento, o objetivo é comparativo. Axiomas pertencentes a determinados paradigmas não podem ser intercambiados com tanta simplicidade como pode parecer à primeira vista. É relativamente comum ver trabalhos que misturam uma gama de autores e autoras sem preocupação com os limites hermenêuticos subjacentes a tais combinações[4]. Por isso, a intenção aqui é ilustrar esses limites a partir de alguns exemplos.
            Retomando um texto base para a pauta aqui presente, lê-se:
Tentamos, contudo, incorporar perspectivas de outros grandes paradigmas não-positivistas [...] O que esperamos fazer neste capítulo é familiarizar o leitor com as correntes, os argumentos, os diálogos e os textos provocativos e a teorização mais abrangentes, para que talvez possam ver, da melhor maneira possível, o que nós mesmos ainda não enxergamos: onde e como a confluência é possível, onde a reconciliação construtiva pode ser negociada, onde as vozes estão começando a alcançar alguma harmonia? (LINCOLN e GUBA, 2006, p. 177).
            Como intercambiar axiomas? Isto é possível? Em outras palavras: podemos retirar conceitos, abordagens, técnicas e métodos de um paradigma e utilizar em outro sem, com isso, criar um Frankenstein antitético? Dois exemplos podem ilustrar essa questão. No prefácio à tradução para o português do livro Pode o subalterno falar? (Can the subaltern speak?), de Gayatri Chakravorty Spivak, a professora Sandra Regina Goulart Almeida diz o seguinte:
[...] Na análise de Spivak, há uma relação intrínseca entre o “falar por” e o “re-presentar”, pois, em ambos os casos, a representação é um ato de fala em que há a pressuposição de um falante e de um ouvinte. A autora argumenta que o processo de fala se caracteriza por uma posição discursiva, uma transação entre falante e ouvinte e, nesse sentido, conclui afirmando que esse espaço dialógico de interação não se concretiza jamais para o sujeito subalterno que, desinvestido de qualquer forma de agenciamento, de fato, não pode falar. (SPIVAK, 2010, p. 13).
            É importante destacar o teor da citação, pois a palavra “jamais” dá o tom da mensagem, corroborando-se com a conclusão de que o subalterno “não pode falar”. Mas Spivak não se resume à crítica ao pressuposto de que na “posição discursiva” o subalterno “jamais pode falar”, ela avança e critica a postura do intelectual, conforme pode-se observar na citação seguinte:
[...] Essa exclusão da necessidade da difícil tarefa de realizar uma produção ideológica contra-hegemônica não tem sido salutar.  Acabou por auxiliar o empirismo positivista – o princípio justificável de um neocolonialismo capitalista avançado – a definir sua própria arena como a da “experiência concreta”, “o que realmente acontece”. De fato, a experiência concreta que garante o apelo político de prisioneiros, soldados e estudantes é revelada por meio da experiência concreta do intelectual, aquele que diagnostica a episteme. Nem Deleuze, nem Foucault parecem estar cientes de que o intelectual, inserido no contexto do capital socializado e alardeando a experiência concreta, pode ajudar a consolidar a divisão internacional do trabalho (SPIVAK, 2010, p. 30. Grifos nossos).
            A autora interliga habilmente pressupostos políticos ou extra-empíricos (neocolonialismo) à epistemologia (empirismo positivista/experiência concreta) ao denunciar o intelectual (Deleuze/Foucault) que, ao não produzir uma ideologia contra-hegemônica, acaba ajudando a “consolidar a divisão internacional do trabalho”. No quesito axioma, a leitura sugere que a epistemologia empregada por Deleuze e Foucault, segundo Spivak (2010), ignora um pressuposto – uma questão extra-empírica de cunho político (neocolonialismo e divisão do trabalho). O que resumidamente significa que os intelectuais mencionados ignoram um elemento axiológico (ético ou valorativo) que, para Spivak, deveria fazer parte da análise (ou preocupações) de Deleuze e Foucault.
            O exemplo deste caso não poderia ser mais ilustrativo. Numa classificação a partir da Lincoln e Guba (2006), Spivak estaria dentro de um paradigma de “teoria crítica” (ver LINCOLN e GUBA, 2006, tabele 6.5, p. 175), o qual busca, grosso modo, “emancipação social”; enquanto Deleuze e Foucault poderiam, quem sabe, estar dentro do paradigma pós-estruturalista (construcionista), não tendo, por isso, nenhuma pressuposição a priori sobre questões axiológicas (ao menos não na definição de Lincoln e Guba (2006)).
            O segundo exemplo desta seção pode ser o da segunda parte deste ensaio. A teoria ator-rede vem de uma tradição que passa pelos estudos de ciência e tecnologia (sciency and tecnology studies) (LATOUR, 2000), estudos de laboratórios (laboratories studies) e da sociologia do conhecimento científico de Edimburgo (cf. BLOOR, 2009 [1976]; LATOUR, 1997 [1978]) – além disso, seus defensores buscam resgatar o pensamento de Gabriel Tarde sobre uma sociologia associativa, ao invés da escola sociológica durkheimiana (cf. LATOUR, 2012; VARGAS, et. al. 2014; LEMOS JR, 2017). Disto isto, no exemplo da observação-participante realizada na ocasião do seminário sobre zika vírus e microcefalia, o objetivo subjacente à observação era identificar a rede de associações que estava em torno do zika vírus. Ao fazê-lo, os fios da rede entre Fiocruz, UFPE, UFRPE, e outras instituições, começam a ser (d) escritos no texto (relato científico) do analista. Entretanto, no modelo de redes latouriano (1994), não cabe ao analista inferir relações causais (positivismo) entre os fatos observados; tampouco deveria ser buscada a compreensão intersubjetiva dos atores humanos sobre os sentidos e significados da ação (interpretativismo). De um só golpe, duas epistemologias são deixadas de lado, abrindo-se espaço para um paradigma cujos axiomas (epistemologia, metodologia e ontologia) dialogam mais com um construtivismo pós-estruturalista (VANDEMBERGHE, 2006).
            O que é possível extrair dos dois exemplos? Existem ao menos duas limitações nos paradigmas (e seus respectivos axiomas): 1) não existe um paradigma que possa abordar todo e qualquer problema de pesquisa[5]; 2) algumas teorias (e seus conceitos) não podem se encaixar em outro paradigma, pois axiomas de outros paradigmas anulam-se mutuamente.
            Semelhante à etnometodologia no quesito origens fenomenológicas, ao menos no que tange o efeito de “por a realidade entre parênteses” (cf. PETERS, 2011; ARAÚJO, 2012), a teoria ator-rede não possui uma ontologia a priori (por mais que se atribua ao Latour de “Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica” (1994), uma ontologia à guisa dos rizomas de Deleuze e Guatarri, como no plano da dança nietzschiano (VANDEMBERGHE, 2006)[6]. De todo modo: a descritividade é um preceito da teoria ator-rede, não a nomotética e a inferência (LATOUR, 2012). O que resulta em negar definições do tipo: a) o social (e a sociedade) é um fato coercitivo externo aos indivíduos que mantém a ordem social...; b) a ação humana é dotada de significado, diferente do objeto das ciências da natureza, por isso seria a compreensão (vestehen) o objetivo das ciências sociais (cf. HAMLIN, 2011; PETERS, 2011) ou; c) os atores possuem um “juízo dopado” (“judmental daps”)[7] e caberia ao analista falar em seus nomes e explicar “racionalmente” o que eles não podem fazer (LATOUR, 2012).
            Resultado: a mudança de axiomas desencadeia um conjunto de elementos (pressupostos - axiologia, ética, política -, e axiomas - metodologia, epistemologia, ontologia -) que são concatenados ao fazer ciência e aos paradigmas vigentes em algum período. Intercambiar axiomas e pressupostos têm seus limites. Mas não é impossível realizar certas “confluências” - para usar os termos de Lincoln e Guba (2006). Mais preocupante é operar pares opostos de axiomas. Por exemplo: utilizar o conceito de solidariedade social (Durkheim), de habitus (Bourdieu), ou de pós-colonial em conjunto com a teoria ator-rede é ignorar diferenças epistemológicas gritantes entre tais escolas[8].
Notas finais: epistemologia ou ontologia?
            O objetivo deste trabalho foi refletir sobre axiomas e paradigmas em ciências sociais. Concatenado a este objetivo geral, se buscou pensar como o que Alexander chamou de pressupostos científicos estariam em consonância com determinadas práticas científicas, em detrimento de outras (comparação entre teoria crítica e teoria ator-rede - Parte III). De maneira geral, o trabalho de pesquisa qualitativa de Lincoln e Guba foi de extrema utilidade para este ensaio ao classificar axiomas como: metodologia, ontologia e epistemologia; ao mesmo tempo em que classificava os existentes paradigmas científicos atuais em ao menos cinco modelos gerais. Desta relação, foi exemplificado um uso de uma teoria circunscrita em um paradigma e sua relação com a prática etnográfica (Parte II). Feito isso, restou encontrar os limites das combinações entre paradigmas, axiomas e pressupostos, sob pena de acabar dando vida ao Frankenstein de Mary Shelley.
            Algo que propositalmente não foi enfatizado devido a estratégia argumentativa aqui utilizada, mas que, agora pode ser melhor esclarecido, foi o uso da etnografia como exemplo da relação com determinado (s) paradigma (s). No epílogo da obra “Estar Vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição” (2015), Tim Ingold nos diz que a divisão entre idiografia e nomotética veio de um fundador da escola neokantista alemã, Wilhelm Windelband, com o objetivo de distinguir o ofício do historiador, do ofício das ciências da natureza, no século XIX (INGOLD, 2015, p. 328). Já Ingold deseja distinguir a etnografia da antropologia, sem com isso considerar uma disciplina como “menor” que a outra[9]. O que Ingold nos fornece como subsídio para pensar em paradigmas, axiomas e pressupostos, é nos lembrar que a etnografia, enquanto idiografia, nos permite coletar documentos e dados descritivos sobre povos – em nosso exemplo da parte II – sem, com isso, circunscrever a priori uma teoria e um método específico de pesquisa. Dito de outra maneira: a etnografia pode ser fluída, flexível e, por isso, pode servir como fermento para uma busca contínua por novos modos de ver (teorias), sem que a mantenhamos acorrentada como uma estátua grega nas ruínas da península do Peloponeso...
            Axiomas/paradigmas de um lado, teoria/metodologia do outro são, à luz da etnografia, percebidos não como um recorte epistemológico que demarca a diferença entre ciência e senso-comum, mas sim como diferentes modos de ser, diferentes modos de existir, de enxergar; a cultura e o social são modos ontológicos de o humano existir, não recortes epistemológicos. Dito de outro modo: são fabricações, artefatos; significantes com os quais “nossa cultura” produz sua existência. Tal como ocorre com o Povo Ojibawa do centro-norte canadense, para os quais “o mundo do sonho de uma pessoa [...] é precisamente o mesmo que o da vida...” e “quando você acorda [...] você está mais sábio do que estava antes”... para Ingold, “fazer antropologia [acrescentaria etnografia], atrevo-me a dizer, é sonhar como um Ojibawa. Como em um sonho, trata-se de continuamente abrir o mundo, em vez de buscar uma conclusão” (INGOLD, 2015. P. 341. Grifos do autor).


REFERÊNCIAS
ALEXANDER, Jeffrey. O novo movimento teórico. RBCS, vol. 4, 1987. Disponível em: http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_04/rbcs04_01.htm. Acesso: 27 dez. 2017.

ALVES, Paulo César. A teoria sociológica contemporânea. Da superdeterminação pela teoria à historicidade. Brasília, Soc. E Estado v 25, n. 1, p. 15-31, 2010. Disponível em:  http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922010000100002. Acesso em: 6 jul. 2016.

ARAÚJO, Paulo Magalhães. Etnometodologia: consciência, linguagem e o fenômeno da vida cotidiana. Sinais: Revista eletrônica. Ciências Sociais. Vitória, UFES, Ed. n. 11, v. 1, jun. 2012. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/sinais/article/view/4578/3562. Acesso: 27 dez. 2017.

BLOOR, David. Conhecimento e imaginário social. Tradução de Marcelo do Amaral Penna-Forte. São Paulo. Editora UNESP, 2009.

BARRET, Stanley. Antropologia: guia do estudante à teoria e ao método antropológico. Tradução de Fábio Creder. Petrópolis, RJ. Vozes, 2015.

BARBOSA, Muryatan S. A crítica pós-colonial no pensamento contemporâneo. In: Afro-Ásia, n. 39, p. 57-77, 2010. Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_39_MSBarbosa.pdf. Acesso em: 24 mai. 2015.

BRITO, Gabriel Ferreira de. A adesão das teorias pós-coloniais na perspectiva de gênero dos cursos de ciências sociais em universidades federais recifenses. In: VI semana de ciências sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco: As ciências sociais e a crise brasileira: economia, política e violência., 2015, Recife. Anais... Recife, EDUFRPE, 2015. p. 87-88.

BRITO, Gabriel Ferreira de. Agrotóxicos ou defensivos agrícolas? Um estudo sobre a posição de agrônomos/as e de cientistas sociais sobre o uso de agrotóxicos. 2016. 60 p. Monografia (Graduação em Ciências Sociais – Bacharelado) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

CETINA, Karin Knorr. Sociality with Objects: social relations in postsocial knowledge societies. Theory, Culture and Society, 14, 4, pp. 1-41. 1997. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/026327697014004001. Acesso: 27 dez. 2017.
COSTA, Sérgio. Desprovincializando a sociologia: a contribuição pós-colonial. Rev. Brasileira de Ciências Socias, v. 21, n 6, fev/2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000100007&script=sci_arttext. Acesso em: 28 mai. 2015.

DIRLIK, Arif. A aura pós-colonial: a crítica terceiro-mundista na era do capitalismo global. Novos Estudos CEBRAP, nº 49, Nov 1997, pp. 7-32. Disponível em: http://novosestudos.uol.com.br/produto/edicao-49/. Acesso: 27 dez. 2017.

FILHO, José Jeremias de O. Reconstruções metodológicas de processos de investigação social. Revista de História. n. 107, v. 54. 1976. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/78574. Acesso: 27 dez. 2017.

HAMLIN, Cynthia Lins. Breve metametodologia das ciências sociais. Revista Latinoamericana de Metodologia de la investigación Social. Argentina, n 1, ano 1, p. 8-20, 2011. Disponível em: http://relmis.com.ar/ojs/index.php/relmis/article/view/7. Acesso em: 6 jul. 2016.

HAMME, Martyn. Que és lá etnografía? (Cap.I). En: Etnografía: métodos de investigación. Ed. Paidós, Barcelona, 1994.

HARAYWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilegio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5, 1995. Pp. 07-41. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773. Acesso: 27 dez. 2017.

HERITAGE, John C. Etnometodologia. In: GIDDENS, Anthony.; TURNER, Jonathan. Teoria social hoje. Tradução de Gilson Cesar Cardoso de Souza. São Paulo. Editora UNESP, 1999. pp. 321-392

INGOLD, 2012. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n 37, p. 25-44, jan./jun. 2012.disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832012000100002. Acesso: 27 dez. 2017.

______. Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Tradução de Fábio Creder. Petrópolis, RJ. Vozes, 2015.

KARAKAYALI, Nedim. Two ontological orientations in sociology: building social ontologies and blurring the boundaries of the ‘social’. Sociology, v. 49, n. 4. 2015

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica. Rio de Janeiro. Ed., 34, 1994.

______.   Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo. Editora UNESP, 2000.

______. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Salvador, EDUFBA, 2012; BAURU, São Paulo, 2012.

LATOUR, Bruno; WOOGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de janeiro, Relume Damará, 1997.

LEMOS JR, José Roberto de. Os fluxos de opinião. 2017. 90 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

LINCOLN, Yvonna S. e GUBA, Egon G. Controvérsias paradigmáticas, contradições confluências emergentes. In: DENZIN, Norman k.; LINCOLN, Yvonna S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Tradução de Sandra Regina Netz. Porto Alegre, Artmed, 2006.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guine Melanésia: prefácio de Sir James George Frazer. Tradução de Anton P. Carr e Lígia Aparecida Cardieri Mendonça. 2 ed. Abril Cultural, 1978.

MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, HUCITEC, 2008.

PEIRANO, Mariza. Etnografia não é método. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, 20, n 42, p. 377-391, jul.dez. Disponível em: 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832014000200015. Acesso: 27 dez. 2017.

PETERS, Gabriel. Admirável senso comum? Agência e estrutura na sociologia fenomenológica. Ciências Sociais Unisinos. 47, 1, 85-97, jan/abr 2011. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/issue/view/103. Acesso: 27 dez. 2017.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo, Atlas, 2008.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero e patriarcado. in CASTILHO-MARTÍN, Márcia., e OLIVEIRA, Suely de. (orgs.). Marcadas a ferro — violência contra a mulher: uma visão interdisciplinar. Brasil, Presidência da República, Secretaria Especial de Políticas para a Mulher, 2005.

SCHWANDT, Thomas A. Três posturas epistemológicas para a investigação qualitativa: interpretativismo, hermenêutica e construcionismo social. In: DENZIN, Norman k.; LINCOLN, Yvonna S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Tradução de Sandra Regina Netz. Porto Alegre, Artmed, 2006.

SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno falar? Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte. Editora UFMG, 2010.

VANDEMBERGHE, Frédéric. Construção e crítica na nova sociologia francesa. Sociedade e Estado, Brasília DF, v. 1, n 2, p. 315-366, maio/ago, 2006. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922006000200003. Acesso em: 13 mar. 2016.

VARGAS, Eduardo V.; LATOUR, Bruno. KERSENTI, Bruno; FREDÉRIQUE AÏT – TOUATI; SALMON, LOUISE. O debate entre Tarde e Durkheim. Rev. Teoria & Sociedade. n. Esp. Antropologia e arqueologia. Hoje. 2014. Disponível em: file:///C:/Users/Gabriel/Downloads/14-9-PB.pdf. Acesso: 13 ago. 2017.

VINDICH, Arthur J.; e LYMAN, Stanford M. Métodos e qualitativos: sua história na sociologia e na antropologia. In: DENZIN, Norman k.; LINCOLN, Yvonna S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Tradução de Sandra Regina Netz. Porto Alegre, Artmed, 2006.


[1] Baseio-me aqui no trabalho da pesquisadora em história da arte, artista plástica e bacharel em Letras pela USP, Mazé Leite. Fonte: blog da autora, “Arte & Ofício: um blog que fala de arte”. Disponível em: http://artemazeh.blogspot.com.br/2012/11/gustav-klimt-um-pintor-do-seu-tempo.html. Acesso: 26 dez. 2017.
[2] Um rico panorama do desenvolvimento da etnografia, desde sua “pré-história” – período das chamadas “grandes navegações” –, além da relação entre métodos qualitativos e ciências sociais, pode ser encontrado em “Métodos qualitativos: sua história na Sociologia e na Antropologia”, de Arthur J. Vidich e Stanford M. Lyman (2006).
[3] Nos últimos três anos venho utilizando observação-participante (trabalhos anteriores: Brito (2015; 2016); o atual, 2017-2018, está em desenvolvimento) a partir de referenciais clássicos em metodologia, como Richardson (2008) e Minayo (2008) e, ainda, ao “pai da observação-participante”, Malinowski (1978). No último ano, porém, a partir de comparações entre o francófono Bruno Latour – especificamente sua etnografia de laboratório de 1970 (LATOUR & WOOGAR, 1997) – e a opinião do anglo-saxão Tim Ingold (2015), segundo o qual antropologia e etnografia seriam campos distintos e não a última um subcampo da primeira, mais a experiência de campo, tem me feito distinguir etnografia da observação-participante.
[4] Neste primeiro ano de mestrado, descobri que o termo utilizado para isso entre docentes e discentes é “Frankenstein”. Uma alusão ao conto de mesmo nome da autora britânica Mary Shelley, no qual um cientista dá vida a um corpo cujas partes foram retiradas de diferentes cadáveres.
[5] Este problema é tão antigo quanto ao debate sobre a distinção entre ciências da natureza e ciências sociais (ver. HAMLIN, 2011; PETERS, 2011).
[6] Para uma análise mais detida sobre ontologia e sociologia – passando pelo debate entre Gabriel Tarde e Emile Durkheim no quesito “sociedade” – ver “Two ontological orientations in sociology: building social ontologies and blurring the boundaries of the social” (KARAKAYALI, 2015).
[7] Sobre a noção de “juízo dopado” em seu contexto – da crítica de Harold Garfinkel à obra de Talcott Parsons – ver, “Etnometodologia” (HERITAGE, 1999).
[8] A suspeita de que existiria uma possível relação entre a teoria ator-rede e os estudos pós-coloniais não é recente (ver. BARBOSA, 2010); também já foi dito que Latour – representante da teoria ator-rede – poderia contribuir para o feminismo (HARAWAY, 1995). Ambas as posições carecem de substancialidade e permanecem apenas como isso: suspeitas ou sugestões. Se há um desacordo entre a teoria ator-rede e os estudos pós-coloniais, é o de que a sociologia associativa (teoria ator-rede) pode ser tudo, menos crítica (LATOUR, 2012). Para uma crítica a Latour e ao seu “colonialismo”, ver interessante crítica de uma doutoranda, à época, em Antropologia Social da Universidade de Aberdeen, na Escócia, chamada Zoe Todd, publicada no blog: antropologia crítica. Disponível em: https://antropologiacritica.wordpress.com/2015/12/22/uma-interpelacao-feminista-indigena-a-virada-ontologica-ontologia-e-so-outro-nome-para-colonialismo/. Acesso: 26 dez. 2017. 
[9] É por esse motivo que creio ser limitante classificar a etnografia como um “método”, como sugere Martyn Hamme (1994). Na contramão desta posição, além do célebre Ingold que, aliás, é um rival de Bruno Latour (cf. INGOLD, 2012), uma renomada antropóloga brasileira, Mariza Peirano, professora aposentada da UnB, também defende a ideia de que etnografia não é método (ver. PEIRANO, 2014). Para a autora, etnografia era considerada arte (Evans-Prichard), comparação (Radcliffe-Brown), dados para teoria (Malinowski) e, atualmente, método para antropologia, o que a rebaixa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Duas religiões econômicas no comércio

 - Terminei. Vamos? - Diz minha pequena. - Posso ir ao banheiro? - Diz minha segunda pequena. Alguns minutos depois, caminhamos sobre o asfa...